EXAME.com (EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h29.
Os presidentes da Área de Livre Comércio das Américas (Alca), o brasileiro Ademar Bahadian, e o americano Peter Algeier, irão tentar acertar a pauta de discussões para a próxima reunião da formação do bloco, em Puebla, no México. O encontro entre os dois presidentes, que acontece a partir desta terça-feira (30/3), em Buenos Aires, Argentina, tem como objetivo chegar a um consenso sobre o texto inicial que será discutido na cidade mexicana no dia 22/4. A reunião em Puebla já foi cancelada e remarcada duas vezes.
Na manhã desta segunda-feira (29/3), em entrevista exclusiva ao programa Revista Brasil, da Rádio Nacional, Bahadian enfatizou a necessidade de "realismo político" e da retomada da Alca Light, decidida em Miami.
Rádio Nacional - Qual o atual estágio de negociações da Alca?
Bahadian - Estamos na fase final da montagem do que seria a estrutura-base da Alca. Na reunião ministerial de Miami, ocorrida em dezembro, tanto o ministro Celso Amorim como o negociador norte-americano, Robert Zoellick, chegaram a um acordo sobre o que deveria ser a estrutura do bloco. Desde então nós estamos tentando montar essa arquitetura. Estamos muito perto de um acordo. Amanhã teremos uma reunião em Buenos Aires, onde espero que seja feito um esforço concentrado para isso. Se houver a intenção de se continuar com as mesmas propostas anteriores a Miami, vamos ter um fracasso. Se houver realismo político e nós adotarmos as instruções que nos foram dadas lá, poderemos ter uma Alca marchando a partir de 2005, como previsto.
Rádio Nacional - O que entra nessa estrutura mínima definida em Miami?
Bahadian - Ela não é tão mínima assim. Na verdade, essa é a possibilidade de termos o conjunto de regras sobre todos os temas que estão à mesa, entre eles agricultura, proteção industrial e solução de controvérsias. Ou seja, uma ampla gama de regras e objetivos concretos dentro da Alca. A questão agrícola é a que torna a negociação mais difícil. Alguns países da América do Norte têm grandes dificuldades em negociar subsídios agrícolas dentro da Alca. Outro impasse é a tentativa de colocar dentro do acordo regras ainda não discutidas sequer na Organização Mundial do Comércio (OMC), como é o caso do setor de investimentos. O elemento fundamental para se chegar a um consenso é obedecer às orientações que nos foram passadas em Miami. Elas determinam a busca por uma arquitetura que respeite as sensibilidades dos países. Isto é, devemos respeitar as dificuldades agrícolas desses países, assim como eles devem respeitar, por exemplo, nossas dificuldades em áreas como propriedade industrial.
Rádio Nacional - A reunião em Puebla, no México, acontecerá no final de abril. Nessa próxima rodada, se fracassarem as negociações, a Alca também pode fracassar?
Bahadian - Acho que vamos chegar a um acordo e não quero pensar nesse cenário. Não acredito em fracasso. Se não houver uma solução em Puebla, certamente haverá uma nova reunião ministerial envolvendo os 34 ministros dos países relacionados para tentar encontrar uma solução. Não creio que teremos um retrocesso depois do que avançamos em Miami.
Rádio Nacional - Como o senhor classifica o grau de confiabilidade entre brasileiros e americanos em relação à Alca?
Bahadian - Nossas relações bilaterais continuam sendo excelentes. Nós reconhecemos que temos grande dificuldades, sobretudo em acomodar os problemas agrícolas, mas as relações são cordiais. Temos que nos acostumar um pouco a essas dificuldades da negociação comercial sem ver nenhuma contaminação política. É perfeitamente natural e isso ocorre também entre os Estados Unidos e a União Européia.
Rádio Nacional - Essa briga de certos setores políticos em relação à Alca não tem fundamento?
Bahadian - Não é que não tenha fundamento. Muitas vezes há uma preocupação legítima do que a Alca poderá trazer para o nível de emprego, de desenvolvimento. Mas o que eu posso garantir é que a posição do ministro Celso Amorim é perfeitamente atenta às implicações do acordo para o desenvolvimento econômico. Estamos trabalhando para evitar efeitos nocivos, caso uma eventual abertura comercial descontrolada venha com a Alca.