Economia

Restante da década depende de economia tranqüila em 2006

Caso a economia se mantenha nos trilhos durante a sucessão presidencial, país terá condições inéditas para crescer nos próximos anos

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h44.

O ano de 2006 não será importante apenas pelas eleições presidenciais, quando os brasileiros julgarão o desempenho de seu primeiro governo de esquerda, mas também pelas implicações que a condução da política econômica terá sobre os próximos anos. "Poucos perceberam que, se o novo governo assumir com o pé direito, poderemos ter um final de década muito bom", diz Fábio Giambiagi, coordenador do grupo de acompanhamento conjuntural do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Mas, para que isto ocorra, é necessário que a economia não sofra sobressaltos em 2006.

Por ora, as condições parecem animadoras. O Banco Central iniciará o ano com condições inéditas de cumprir a meta de inflação de 4,5%. A confiança é expressa inclusive pelas instituições financeiras, que projetam um Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA o parâmetro oficial de inflação) de 4,5% neste ano. Um dos principais fatores que ajudarão o BC, neste ano, será a menor pressão dos preços administrados. Se, em 2005, esse indicador ficou acima de 8%, para 2006, a previsão é de que caia pela metade.

Outro efeito benéfico da inflação sob controle será a esperada queda da taxa básica de juros. Depois de fechar dezembro em 18% ao ano e de apresentar uma taxa média de 19,15% em 2005, o mercado estima que a Selic terminará 2006 pouco acima de 15% ao ano. Não será nenhuma panacéia, já que os juros reais continuarão entre os mais altos do mundo, mas a tendência de recuo já significaria um estímulo aos investimentos.

Mais números compõem um cenário otimista para 2006: aumento da produção industrial, queda da relação dívida/PIB, manutenção de um saldo comercial acima de 30 bilhões de dólares, saldo em conta corrente da ordem de 7,5 bilhões de dólares. Tudo isso, somado, redundaria num crescimento de 3,50% do PIB, contra os magros 2,4% esperados para 2005. "Este ano pode apresentar um crescimento relativamente tranqüilo", diz Giambiagi.

Preparando o caminho

A expansão do PIB, em 2006, estará longe de ser o "espetáculo de crescimento" prometido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Também não será suficiente para encurtar a distância que nos separa de outros emergentes, como a China e a Índia. Mas, para Giambiagi, o importante é que êxitos, mesmo modestos, serão cruciais para assegurar condições inéditas de crescimento do país, a partir do próximo mandato presidencial.

Em 1994, quando Fernando Henrique Cardoso foi empossado pela primeira vez, seu principal desafio era consolidar o combate à inflação, a partir das bases criadas pelo Plano Real. Logo no início de seu segundo mandato, FHC enfrentou a crise gerada pela desvalorização cambial. Já Lula consumiu seus primeiros meses na presidência acalmando o mercado, cujo temor de medidas heterodoxas acarretou uma alta histórica do risco-país, recordes na cotação do dólar e forte pressão inflacionária, entre outros.

Para Giambiagi, o que marca o ineditismo deste momento é que, se mantidas as atuais condições, o próximo governo poderá assumir sem a necessidade de apagar incêndios ou de promover ajustes profundos na economia. É claro que faltarão várias reformas para consolidar as bases de um crescimento sustentável, como a tributária, trabalhista e previdenciária. O importante, segundo o economista, é que haja força política para implantar pelo menos algumas delas já no primeiro ano do próximo governo.

Mas chegar a esse ponto depende de como o país atravessará este ano. Diante da resistência do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e do presidente do BC, Henrique Meireles, de alterar a política econômica, o risco mais concreto de a economia descarrilar em 2006 será político. As atenções, portanto, estarão sobre a emergência de eventuais candidatos presidenciais que signifiquem uma mudança radical de rumos da economia.

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