Mesmo sem Trump, EUA defendem protecionismo na Cúpula das Américas
ÀS SETE - A doutrina adotada pelo presidente dos EUA visa fortalecer a indústria nacional, gerar emprego e fabricar os próprios bens de consumo
Da Redação
Publicado em 12 de abril de 2018 às 06h28.
Última atualização em 12 de abril de 2018 às 07h22.
Depois que Donald Trump cancelou sua viagem à Cúpula das Américas, no Peru, para se debruçar sobre uma ofensiva militar na Síria, o evento, que começa hoje em Lima, ficou manco. Mas nem por isso os Estados Unidos deixaram de ser protagonistas das discussões.
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A cúpula irá contar com a participação do secretário de Estado em exercício, John J. Sullivan (que substitui Rex Tillerson no cargo), e do secretário de Comércio, Wilbur Ross, que discursa nesta quinta-feira em um evento de negócios, parte da programação de abertura do evento oficial.
Quando a Cúpula das Américas foi criada em 1994, Bill Clinton anunciou na ocasião o intento de criar a Área de Livre Comércio das Américas (ALCA), uma região livre de tarifas alfandegárias que englobaria os blocos do norte e do sul do continente, Nafta e Mercosul, a ser firmada em 2005.
A implementação do acordo iria ser feita gradualmente para, no decorrer de 10 anos, suprimir as barreiras ao comércio entre os estados-membros. A união do continente criaria o maior bloco econômico do mundo.
A história é conhecida: as conversas desandaram quando governos contrários à proposta assumiram o poder na América do Sul — Néstor Kirchner na Argentina, Hugo Chávez na Venezuela e Luiz Inácio Lula da Silva no Brasil — alegando que o tratado era parte de um plano americano que levaria à desindustrialização e ao desemprego.
Hoje, ironicamente, o discurso de protecionismo econômico e da substituição de importação é parte essencial da doutrina Trump nos Estados Unidos, enquanto os vizinhos do sul (com algumas exceções) defendem mais integração. Wilbur Ross, o palestrante do dia, grande apoiador de Trump durante a campanha e também da política “America First”, é conhecido por cobrar a eliminação do déficit comercial dos Estados Unidos, que alcançou 500 bilhões de dólares em 2015. Tudo isso em prol de fortalecer a indústria nacional, gerar emprego e fabricar os próprios bens de consumo.
A América Latina, à exceção do México, tem atualmente uma balança comercial “favorável” com os Estados Unidos aos olhos do governo Trump: um saldo positivo de cerca de 34 bilhões de dólares, com os Estados Unidos exportando 150 bilhões de dólares, e importando 116 bilhões.
De todo capital estrangeiro investido na América Latina no ano passado, metade veio da Europa e apenas 20% dos Estados Unidos. Não estamos na mira de Trump, que já trava sua própria batalha comercial com a China, com mais de 160 bilhões de dólares em sobretaxas prometidos. Mas ninguém espera grandes avanços na cúpula de Lima.