Com a volta dos impostos sobre combustíveis, etanol será mais vantajoso que a gasolina? Entenda
Saiba como checar se o preço do etanol vale a pena. Em quase todas as capitais do país, encher o tanque com a gasolina continua a ser vantagem para o motorista
Agência de notícias
Publicado em 1 de março de 2023 às 08h14.
Última atualização em 1 de março de 2023 às 10h10.
Com a volta dos impostos federais sobre os combustíveis - medida anunciada nesta segunda-feira pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad - a gasolina e o etanol ficarão mais caros neste mês. O GNV não foi reonerado. Mas os impostos subiram menos para o etanol e, segundo o governo, o objetivo foi incentivar o uso do combustível menos poluente. Mas, levantamento feito pelo GLOBO mostra que, na maioria das capitais do país, a gasolina tende a seguir mais vantajosa.
A gasolina voltou a pagar R$ 0,47 de tributos federais, mas a Petrobras reduziu o preço na refinaria em R$ 0,13. Na prática, segundo o governo, o preço da gasolina na bomba deve subir R$ 0,34. O etanol, por outro lado, deve ficar R$ 0,02 mais caro nas bombas.
Para saber se o etanol é mais vantajoso, é preciso fazer uma conta simples: multiplicar o preço do litro da gasolina vendido no posto por 0,7. Se o valor encontrado for menor do que o preço do etanol, a gasolina é mais vantajosa.
Com base no levantamento mais recente de preços da Agência Nacional de Petróleo (ANP) nas capitais do país, simulações feitas pelo GLOBO mostram que o etanol só seria mais vantajoso com a nova tributação em Cuiabá e Manaus. Isso considerando que o impacto nas bombas será exatamente o estimado pelo governo.
Como os preços de combustíveis são livres no país, é possível haver variações maiores ou menores em cada estado. Além disso, é preciso levar em conta que, dependendo do modelo do automóvel, o rendimento do etanol pode ser maior ou menor.
Em geral, para saber se o etanol é mais vantajoso, é preciso fazer uma conta simples. Considera-se o preço da gasolina, multiplica-se este valor por 0,7 e compara-se com o preço do etanol.
Isso porque os motores gastam mais combustível quando o carro é abastecido com etanol. O desempenho de cada litro do etanol representa 70% do da gasolina.
Em São Paulo, por exemplo, o preço médio da gasolina era de R$ 5,35 em 25 de fevereiro. Com a volta dos impostos federais, deverá ficar em R$ 5,69. O etanol, por sua vez, estava em R$ 3,72 na capital paulista. Com o R$ 0,02 de tributos federais, passaria para R$ 3,74.
Assim, o etanol seguiria sendo menos vantajoso. Basta fazer as contas. O preço da gasolina, de R$ 5,69, multiplicado por 0,7, dá R$ 3,703 - ou seja, um valor menor do que o cobrado pelo litro do etanol (R$ 3,74).
É preciso levar em conta também que, em alguns modelos de carro mais modernos, com desempenho melhor do motor, o rendimento do etanol é maior. Especialistas recomendam que os motoristas comparem o gasto médio do seu veículo, em quilômetros por litro, com etanol e com gasolina para fazer o cálculo mais preciso.
A volta dos impostos
Os tributos federais foram zerados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro no ano passado para forçar uma redução dos preços nas bombas pouco antes do período eleitoral. A isenção de PIS/Cofins e Cide tinha data para acabar: 31 de dezembro de 2022.
Mas o governo Lula renovou a desoneração por dois meses. E, agora, recompôs apenas de forma parcial os tributos. Antes da medida eleitoreira de Bolsonaro, a gasolina pagava R$ 0,69 de tributos federais. Agora, pagará R$ 0,47. No caso do etanol, a cobrança antes da desoneração era de R$ 0,24 por litro. Agora será de R$ 0,02.
Ainda assim, a recomposição parcial dos impostos deve ter impacto na inflação de março. O governo informou que os números foram definidos considerando a necessidade de tornar o etanol, um biocombustível, mais atraente que a gasolina, de origem fóssil, que é responsável por emissões de gases que agravam o efeito estufa.
O professor de Ciências Contábeis do Ibmec-RJ, Paulo Henrique Pêgas, lembra que a vantagem do etanol sobre a gasolina ou vice-versa depende dos diferentes preços dos dois combustíveis nas diferentes regiões do país.
– O etanol só deve ser mais vantajoso em áreas como Ribeirão Preto, em São Paulo, ou alguns estados do Nordeste, que têm usinas de açúcar e o álcool fica mais em conta por estar mais próximo do consumidor. Tirando isso, a gasolina vale mais a pena — explica. — Mesmo que o governo hoje reonerasse toda a alíquota, ainda assim a gasolina hoje continuaria mais vantajosa.
Correr para encher o tanque?
Mudanças nos impostos sobre combustíveis costumam ter efeito quase imediato nas bombas dos postos. O professor do Ibmec-RJ afirma ainda que, quem puder, deve reabastecer o tanque logo, mas sem pânico e correria:
— Os postos trabalham com estoques, com combustível nos tanques, então esse aumento não deveria vir imediatamente, mas pode acontecer de (os estabelecimentos) já amanhecerem com os preços mais altos, então vale aproveitar os preços antes da reoneração, sim. Se puder, vale a pena. Mas sem desespero.
Em fevereiro, antes da mesmo da reoneração, os preços já subiram nas bombas. O preço médio do litro da gasolina vendida nos postos do país passou de R$ 5,07, na semana entre os dias 12 e 18 de fevereiro, para R$ 5,08 na semana passada. É uma alta de 0,19%. Foi ainda o primeiro aumento depois de duas semanas seguidas de queda na bomba.
Reoneração deve levar inflação a 0,7% em março
A reoneração de R$ 0,47 para a gasolina e R$ 0,02 para o álcool com a volta dos impostos federais (PIS/Cofins e Cide) deve causar um impacto entre 0,33 e 0,39 ponto percentual no IPCA em março, calculam economistas.
- A reoneração parcial representa 68% do total dos impostos. O impacto no IPCA deverá ser de 0,33 ponto percentual, com o índice fechando este ano em 6,5% frente aos 6,25 estimados anteriormente - diz Yihao Lin, coordenador de economia da Genial Investimentos.
O economista André Braz, do Ibre/FGV, estima que a gasolina pode subir 6,5% nas bombas em março, o que contribuiria com 0,35 ponto percentual para a inflação.
Com isso, o Ibre estima que a inflação fique em 0,7% em março em função da reoneração da gasolina, combinada com outros fatores. O combustível, segundo ele, representa 5% do orçamento das famílias. Já o impacto do etanol ele considera muito pequeno.