Mais importante para o presidente do BC é saber dizer "não", ter firmeza e explicar, diz Campos Neto
Em meio a discussões sobre a sucessão na autoridade monetária, presidente também falou sobre câmbio e riscos inflacionários
Editor de Macroeconomia
Publicado em 3 de abril de 2024 às 12h28.
O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, disse nessa quarta-feira, 3, que a coisa mais importante para qualquer presidente da autoridade monetária é "saber dizer não", ter firmeza e explicar suas decisões. A declaração vem no bojo da discussão sobre a sucessão no BC.
"Vou fazer a sucessão o mais suave possível, é muito ruim não haver uma sucessão civilizada. Eu entendo que seria bom fazer a sabatina este ano, porque meu mandato termina dia 31 de dezembro", disse Campos Neto em evento do Bradesco BBI, em São Paulo, em referência ao processo de indicação de um novo presidente pelo Executivo, que precisa ser sabatinado e aprovado no Senado.
Campos Neto ressaltou que o 'prêmio de risco' com a mudança no BC já diminuiu. "Os ciclos de política monetária são diferentes. Os desejos e os entendimentos são diferentes e o presidente do BC precisa explicar isso. O mais importante é saber que inflação corrói o poder de compra de quem está embaixo, como vemos na Argentina e Turquia. O melhor plano econômico é ter inflação baixa", afirmou.
Mais cedo, em entrevista à Globonews, o ministro da Casa Civil do Brasil, Rui Costa, concordou com a tese da apresentadora de que o nome de Gabriel Galípolo - sem citá-lo nominalmente - é o provável substituto de Roberto Campos Neto na presidência do Banco Central (BC).
"Sobre o BC, a escolha é do presidente Lula. É uma boa teoria de que o primeiro nome é sempre o nome mais forte", disse em referência a Galípolo, diretor de Política Monetária da instituição. "Então é um quadro técnico extraordinário, competente. Mas a decisão ficará para o momento adequado, ao presidente Lula que ao final do ano, momento em que ele deve indicar, ele fará a indicação."
Intervenção cambial
Em sua apresentação no evento, Campos Neto garantiu que a intervenção cambial feita pela autoridade monetária nesta semana — a primeira no governo do presidente Lula — não teve nada a ver com o patamar do câmbio, que é flutuante. Segundo Campos Neto, a intervenção foi motivada pelo vencimento de títulos atrelados à moeda americana.
Nesta semana, o dólar fechou a R$ 5,059, maior cotação desde outubro passado. O Banco Central anunciou uma intervenção no mercado de câmbio, ontem, em leilão de até 20 mil contratos de swap cambial, quando ofereceu o equivalente US$ 1 bilhão ao mercado. Esses contratos equivalem à venda de dólares no mercado futuro.
Em sua argumentação, Campos Neto afirmou que o BC explicou o motivo da intervenção, mas que parte do mercado não o compreendeu. Além disso, destacou que a autoridade monetária faz intervenções no câmbio apenas quando detecta disfuncionalidades no mercado, o que não seria o caso neste momento.
Inflação: cenário de incertezas aqui e no exterior
O presidente do BC também tratou da inflação, uma das peças-chave para entender o futuro da política monetária no Brasil. Segundo ele, a inflação segue em queda no país. Os dados mais recentes de atividade , porém, mostram dinamismo maior que o esperado, especialmente em serviços e comércio.
Ele reafirmou que a inflação de serviços está acima do nível pré-pandemia e se mostra mais resiliente nos itens relacionados ao mercado de trabalho. "O processo de queda continua, mas com mais incertezas agora. O Banco Central acompanha tudo, mas vamos observar essa dinâmica da inflação de serviços com mercado de trabalho", afirmou.
Como EXAME mostrou, ex-diretores da autoridade monetária, economistas e analistas de mercado já ponderavam no começo de março que o Banco Central poderia ser obrigadoa sinalizar uma redução do ritmo de corte de juros, o que de fato ocorreu na última reunião do Copom.
Campos Neto afirmou que, em março, a expectativa é que queda no preço dos alimentos — um dos pontos que têm pressionado o índice de inflação.
O mercado espera mais uma redução de 0,5 ponto percentual na Selic (atualmente em 10,75%) na próxima reunião do Banco Central. Há dúvidas sobre o ritmo que o BC deverá reduzir a taxa de juros em seguida. Analistas afirmam que existe a possibilidade de a taxa terminal de juros chegar a 9% ou 9,5%.
Em relação ao próximo Copom, Campos Neto disse que o BC vai monitorar o fator externo, em especial, se o corte do Fed será ou não em junho, e a conexão dos serviços com a mão de obra.
De acordo com ele, existe uma "precificação grande" de que o primeiro corte do Fed será em junho, mas que o próximo indicador essencial para essa análise será o de inflação, na próxima quarta-feira, 10.
Com Agência O Globo.