Economia

Lula vence eleição histórica

Foi no período entre a primeira greve de trabalhadores depois de 14 anos de ditadura, em 1978, e as eleições diretas de 1989 que se formou o líder -político, não sindicalista- Luiz Inácio Lula da Silva. Em 11 anos, o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo (SP), que liderou a greve […]

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h57.

Foi no período entre a primeira greve de trabalhadores depois de 14 anos de ditadura, em 1978, e as eleições diretas de 1989 que se formou o líder -político, não sindicalista- Luiz Inácio Lula da Silva. Em 11 anos, o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo (SP), que liderou a greve de 1978, fundou um partido, foi enquadrado na Lei de Segurança Nacional e preso, se fez ouvir por uma multidão na campanha das Diretas Já, disputou o governo de São Paulo (acabou em quarto lugar), se elegeu deputado constituinte com a maior quantidade de votos do país e, em 1989, concorreu pela primeira vez à Presidência da República.

Neste ano, perdeu pela primeira vez uma eleição presidencial. Precisou de mais 13 anos -e outras duas eleições para chegar lá. Mesmo com todas as mudanças pelas quais passaram o Brasil e o Partido dos Trabalhadores (PT), Lula venceu as eleições de 27 de outubro de 2002 com o mesmo discurso de renovação usado décadas atrás.

Nem poderia ser diferente. Afinal, quem sobe ao poder dia 1o de janeiro é, antes de tudo, a Oposição. Assim, com letra maiúscula mesmo. É por isso que esta é uma eleição histórica: pela primeira vez o povo brasileiro escolheu um presidente de esquerda -seja lá com qual grau de radicalismo ela se apresenta hoje-, líder de um partido que era sinônimo de oposição desde a sua fundação, em 1980. Naquela ocasião, com 35 anos, Lula já havia liderado três grandes greves e estava no auge de sua liderança sindicalista, consolidada durante 14 anos de participação no movimento.

Em seu primeiro pronunciamento como presidente eleito, na noite de domingi, Lula disse que irá governar para 160 milhões de brasileiros e que apenas ele e sua equipe não serão o suficiente para isso. Lula convocou toda a sociedade para participar de seu governo. "Um governo da paz", afirmou.

Sindicalismo

Foi por incentivo de seu irmão José Ferreira da Silva, o Frei Chico, hoje com 60 anos, que Lula entrou no movimento sindical. Tinha então 26 anos no ano de 1966 e acabava de conseguir um emprego de torneiro mecânico da Metalúrgica Villares, em São Bernardo. Dois anos depois entrou para a diretoria do sindicato e foi eleito seu presidente, pela primeira vez, em 1975.

Lula foi vencedor no comando do movimento sindical, à frente da oposição aos governos brasileiros e na perseguição da presidência da República. A trajetória de sucesso parece compensar a vida pessoal do pernambucano de 57 anos, que migrou do nordeste para São Paulo num pau-de-arara, teve uma infância difícil pela sua condição social e pela falta do amor paterno, perdeu sua primeira mulher e filho de uma vez só e, mais tarde, teve de enfrentar a exposição pública da sua vida pessoal quando, em plena campanha eleitoral para presidente, veio à tona um caso extraconjugal e uma filha bastarda.

Histórico

Nascido em 6 de outubro de 1945, na cidade de Garanhuns (a 227 quilômetros de Recife) -, Lula era o caçula de sete irmãos. Seu pai - a grande mágoa de sua infância - deixou a família para tentar ganhar a vida em Santos, no litoral paulista, e a promessa de que voltaria para buscá-los. De fato, a mãe de Lula, Eurídice Ferreira de Melo, a dona Lindu, seguiu a trilha do marido sete anos depois, em 1952, mas descobriu que seu marido havia se casado com outra mulher, com quem teve oito filhos.

Dona Linu continuou em Santos, convivendo com a outra família sustentada por seu marido durante quatro anos. Durante esse tempo, Lula foi espancado e desprezado por seu pai. Até que sua família se mudou para São Paulo. Aristides Ferreira da Silva, o pai, morreu alcoólatra em 1978. Dona Linu faleceu em 1980, enquanto Lula estava preso no Dops em São Paulo.

Em São Paulo, o menino de 12 anos foi trabalhar. Foi vendedor de amendoim, engraxate, entregador de tinturaria. Completou o primário com 14 anos e em seguida fez o curso de torneiro mecânico no Senai. Seu primeiro emprego, como office boy, foi na Fábrica de Parafusos Marte, aonde chegou a ser operário aprendiz. Antes de ser contratado pela Metalúrgica Villares, em 1966, emprego que o lançou no movimento sindical, Lula passou pela Fris Moldu Car. Foi nesta metalúrgica que ocorreu o acidente com uma prensa -e que decepou seu dedo-, em 1969.

No mesmo ano, Lula havia se casado com Maria de Lourdes, que morreu meses depois, no parto de seu primeiro filho. A atual mulher, Marisa, ele conheceu poucos anos depois e se casaram em 1974. Lula e Marisa têm três filhos. Marisa, mais um, do primeiro casamento. E Lula, outra filha, Luriam, hoje com 28 anos, gerada numa relação extraconjugal com Miriam Cordeiro -história explorada politicamente por seu então adversário Fernando Collor, nas eleições presidenciais de 1989. O escândalo abalou a campanha de Lula e o hoje presidente perdeu sua primeira eleição.

Os anos que vieram depois da estréia de Lula na corrida presidencial foram de mudanças no PT e em seu líder. Ainda que haja dúvidas sobre até que ponto o atual discurso do partido representa, de fato, o pensamento de seus comandantes, não é possível negar que o PT light existe. Nomes como Antonio Palocci e José Dirceu mostram que o PT radical, revolucionário e arcaico deixou de ser predominante. A cada eleição, o partido surpreendia com vitórias importantes, como a prefeitura de São Paulo e o governo do Rio Grande do Sul.

A mudança mais recente do discurso, entretanto, é recente demais para seu avaliada. Conforme se aproximava à data do primeiro turno de 2002, Lula amenizava principalmente as declarações sobre política econômica. Os críticos acham que é oportunismo. Alguns analistas acham possível que o PT light tenha tomado consciência do imbróglio da economia, mas vêem com cautela a competência de seus integrantes para tocar o barco. A maioria dos brasileiros decidiu pagar para ver. "A esperança venceu o medo", disse Lula em seu pronunciamento na noite de domingo em São Paulo. "Na eleição de hoje, venceu a democracia." Que valha, portanto, a democracia.

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