Economia

Leia íntegra do bate-papo com assessor de Ciro Gomes

Leia a íntegra do bate-papo com Maurício Dias David, coordenador do programa de governo do presidenciável Ciro Gomes. Maurício esteve em São Paulo nesta sexta-feira (27) para o lançamento do programa de governo oficial de Ciro Gomes e, no início da noite, participou da rodada de bate-papos promovido por EXAME. Na semana que vem é […]

EXAME.com (EXAME.com)

EXAME.com (EXAME.com)

DR

Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h39.

Leia a íntegra do bate-papo com Maurício Dias David, coordenador do programa de governo do presidenciável Ciro Gomes. Maurício esteve em São Paulo nesta sexta-feira (27) para o lançamento do programa de governo oficial de Ciro Gomes e, no início da noite, participou da rodada de bate-papos promovido por EXAME. Na semana que vem é a vez de conversar com Antônio Prado, economista e um dos coordenadores do programa de governo de Lula.

(19:16:49) Selecionador EXAME: A revista EXAME recebe, na noite desta sexta-feira, o economista Maurício Dias David, um dos coordenadores do programa de governo de Ciro Gomes, candidato à Presidência pela Frente Trabalhista. Neste mês de setembro, a EXAME bate-papo os principais assessores econômicos dos presidenciáveis para discutir suas propostas para a economia brasileira.

Boa noite, é um prazer recebê-lo aqui em EXAME para uma conversa com os internautas.

(19:18:45) Maurício Dias David: É um prazer conversar com os internautas. Estou desde o final do ano passado trabalhando no programa de governo do Ciro, quando deixei de morar no Chile e voltei ao Brasil a convite de Ciro Gomes para assumir este trabalho.

(19:21:08) Selecionador EXAME: Hoje foi lançado aqui São Paulo a versão final do programa de governo de Ciro Gomes. O que essa proposta traz de novo diante da versão anterior?

(19:22:17) Maurício Dias David: Não há uma diferença muito significativa. Há mais uma sofisticação das propostas que foram mais bem elaboradas. Apresentamos algumas novas propostas, mas a espinha dorsal do programa de governo de Ciro Gomes é a mesma. Preenchemos algumas lacunas que ainda existiam e elaboramos novas propostas

(19:23:09) Selecionador EXAME: Qual a proposta de Ciro Gomes sobre o salário mínimo?

(19:25:33) Maurício Dias David: Um aumento substancial no salário mínimo é fundamental não só por uma questão de justiça social, de melhor distribuição da renda, mas também com elemento motor da recuperação da economia brasileira. O nosso compromisso é, caso sejamos governo nos próximos 4 anos, ter uma política firme e forte de reajuste em relação ao mínimo. Não quisemos entrar numa espécie de leilão para definir o novo mínimo. É inacreditável que esse governo que acaba de propor um aumento ridículo e miserável de apenas 11 reais agora tenha um candidato que promete um aumento de 100 reais. É cinismo do candidato do governo falar no dia de ontem que vai fixar o salário em R$ 300 mais a correção. Isso é uma demonstração de cinismo e demagogia.

(19:26:28) Selecionador EXAME: A Frente Trabalhalista tem números?

(19:30:53) Maurício Dias David: Nossa primeira idéia seria fixar o mínimo em 100 dólares, mas com o dólar especulativo como o que está hoje, não é possível fixar o mínimo em dólar. A nossa proposta é, em quatro anos de governo, aumentar significativamente o valor do salário mínimo, que ainda assim estaria abaixo do que pagam alguns países da América Latina. A Frente Trabalhista vê como plenamente possível conseguir elevar em até 50% o valor do mínimo neste período.

(19:32:27) Luiz Augusto fala para Maurício Dias David: Boa noite. Gostaria de saber que argumentos o Ciro tem em comparação com os demais candidatos para resolver essa situação de "cheque especial" que o Brasil se encontra.

(19:34:55) Maurício Dias David: Na nossa visão, o Brasil enfrenta uma grave crise de erros da política econômica do governo Fernando Henrique Cardoso. Para enfrentar essa crise, o Brasil precisa deixar de ter uma integração passiva à economia internacional e passar a ter uma integração ativa. Isso como forma de combater o gravíssimo problema da vulnerabilidade externa. Para que isso possa dar resultado é preciso ter um projeto nacional de desenvolvimento, pois, caso contrário, o Brasil fica à mercê das forças internacionais da globalização. Outro ponto que parece vital é recuperar a capacidade de poupança nacional e não depender tanto de recursos externos como o atual modelo exige.

(19:37:45) Selecionador EXAME: Qual a proposta do candidato Ciro Gomes para geração de empregos? Há números?

(19:39:29) Maurício Dias David: A questão fundamental para nós é reorientar a economia. Passar de uma economia que privilegia o setor financeiro para uma economia que tenha como seu centro o estímulo ao setor produtivo. Essa é a questão essencial. Agora, os setores que você cria rapidamente empregos produtivos na economia brasileira são aqueles relacionados com as micro, pequenas e médias empresas. Essas são as empresas realmente geradoras de mão-de-obra. No nosso elenco de políticas faz parte um apoio decisivo de estímulo a essas empresas. O Brasil necessita, apenas para incorporar a mão-de-obra que chega ao mercado de trabalho anualmente, 1,5 milhão de novos empregos por ano. Isso sem falar no déficit acumulado nos anos e anos de político do atual governo. Isso é um desafio imenso e que tem de ser enfrentado com muita força pelo próximo governo. Caso contrário, irá se criar uma situação insustentável no curso do tempo.

(19:41:20) Fernando fala para Maurício Dias David: Qual sua opinião sobre o subsidio a Agropecuária?

(19:43:20) Maurício Dias David: O grande problema que o Brasil apresenta hoje no campo é a coexistência de dois setores inteiramente díspares: o setor de agrobusiness, moderno e exportador, com grande organização e capacidade de competir internacionalmente, e o setor de baixa competitividade que deve ser modernizado. No entanto, essa "modernização" que tem ocorrido no Brasil gerou uma situação insustentável que é de uma agricultura sem homens. Isto é, a mão-de-obra está sendo expulsa do campo para a cidade, engrossando as periferias das grandes cidades com legiões de desempregados sem que haja, ao mesmo tempo, uma preocupação de oferecer oportunidade de trabalho no próprio campo para essas pessoas. A saída para esse dilema é preservar a agricultura moderna competitiva em nível internacional, e, ao mesmo tempo, incentivar a modernização do campo - o setor atrasado-, mas uma modernização que signifique dar uma oportunidade de trabalho e incentive à pequena produção familiar. Essa será a forma de poder gerar empregos produtivos no campo, aumentar a renda das famílias e impedir que a pobreza urbana continue se acentuando através da absorção da pobreza rural.

(19:46:12) fernando fala para Maurício Dias David: Como consertar os esqueletos guardados no armário durante os anos de ditadura e até agora no campo da previdência social? Como acabar com as altas aposentadorias de uma casta de servidores?

(19:48:22) Maurício Dias David: Na nossa opinião, um dos desafios que o Brasil precisa enfrentar é desarmar a bomba de tempo que está embutida na crise da previdência social. A continuar se agravando a situação atual corremos o risco de chegar a um quadro de falência absoluta do sistema de previdência social. Com o risco de que as pensões e aposentadorias no futuro não sejam pagas. Isto é, não se cumpra o contrato social que hoje, através do sistema que se chama de repartição, implica em que as gerações atuais financiam a aposentadoria das gerações futuras. Nós defendemos a idéia que temos de caminhar para o sistema de capitalização, que permita, por um lado, resolver essa bomba de tempo que temos no colo de cada brasileiro e, ao mesmo tempo, financiar de forma inteligente e sem depender excessivamente de recursos externos o desenvolvimento brasileiro.

(19:50:06) Selecionador EXAME: Qual será a política cambial de um governo Ciro Gomes?

(19:52:07) Maurício Dias David: O real está sofrendo um ataque especulativo. Parte desse ataque se explica pela conjuntura internacional: ameaça de guerra, EUA contra o Iraque, e fragilidade e tensões na economia internacional, entre outras coisas, pelas recessões americanas, européia e japonesa. Parte desse ataque se explica pela insistência do FMI em impor aos países da América Latina políticas equivocadas, forçando a recessão e tentando impor a obtenção de superávits primários excessivos. E uma terceira explicação também reside no fato de que há uma falência das políticas econômicas executadas nos últimos oito anos pelo governo Fernando Henrique Cardoso. Nesse sentido é fundamental atacar em todas as frentes. O governo tem de defender a moeda nacional, mas isso só será possível se alterarmos fundamentalmente a política econômica em curso. A política atual somente reforça as vulnerabilidades externas e colocam a economia brasileira de joelhos ante a agiotagem internacional.

(19:54:37) LISS fala para Maurício Dias David: O senhor acredita que expropriar terras que estão produzindo - e cumprindo com todas as suas funções sociais - seja uma solução, como apregoam alguns partidos?

(19:56:30) Maurício Dias David: Eu sinceramente não creio que nenhum dos quatro candidatos que disputam a eleição defenda esse tipo de política. Nós achamos que é muito importante haver um plano nacional de reforma agrária principalmente nas áreas do país onde existem bolsões de pobreza muito fortes e concentração excessiva na propriedade da terra. Isso não é uma forma expropriatória, mas sim de democratização do acesso a terra. É preciso lembrar que, no passado, esse tipo de política era visto como coisa de comunistas. Hoje, no entanto, mesmo organismos como Banco Mundial e o BID reconhecem a necessidade da redução da concentração da propriedade da terra como um fator fundamental no desenvolvimento econômico e social.

(19:57:47) JULIANA fala para Maurício Dias David: No governo "CIRO" a CPMF vai acabar?

(19:59:36) Maurício Dias David: Nós somos contra um imposto como a CPMF que foi introduzido como um imposto de emergência e acabou como um imposto permanente. Mais uma contradição entre o discurso e a prática do governo Fernando Henrique. A CPMF é um imposto ruim porque incide em cascata. A nossa proposta é de uma reforma tributária que desonere a produção, simplifique a cobrança dos impostos e seja um elemento de estímulo à poupança e não ao consumo em bens supérfluos. Podemos até pensar na existência de um imposto da CPMF em forma simbólica para manter controle sobre os fluxos de transferências financeiras.

(20:00:52) Selecionador EXAME: A Revista EXAME agradece a participação de todos os internautas e também do economista Maurício Dias David, nosso convidado, que coordena o programa de governo de Ciro Gomes, lançado em sua versão final nesta sexta-feira.

(20:01:34) Maurício Dias David: Eu agradeço a oportunidade e estamos à disposição. Quem quiser ler mais sobre as propostas do Ciro é só acessar a página www. ciro23.com.br.

Acompanhe tudo sobre:[]

Mais de Economia

Novos dados aumentam confiança do Fed em desaceleração da inflação, diz Powell

Lula pede solução de contradições de europeus para acordo com Mercosul

Crescimento econômico da China desaponta e pressiona Xi Jinping

Prévia do PIB: IBC-Br sobe 0,25% em maio, após estabilidade em abril

Mais na Exame