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Juros reais menores vão demorar, diz BC

Segundo relatório do Banco Central, juros reais menores virão como resultado de um processo natural e progressivo

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 11h19.

O relatório trimestral de inflação do Banco Central, divulgado nesta quinta-feira (29/9), eleva ligeiramente o tom otimista daata da última reuniãodo Comitê de Política Monetária. O resultado imediato nos mercados financeiros foi uma migração de expectativas de corte dos juros na reunião de outubro, de 0,25 para 0,5 ponto percentual.

Para Carlos Eduardo Soares Gonçalves, professor de economia da Universidade de São Paulo (USP), mesmo meio ponto de recuo da Selic é pouco. "O Copom deveria cortar 1 ponto percentual por mês nos próximos três ou quatro meses", diz. Considerado na USP um economista neoclássico -- ou seja, distante de quaisquer postulados heterodoxos --, Gonçalves aponta para o calendário. "Chegamos a outubro, não há nada que o BC possa fazer que afete 2005, e a projeção [do IPCA] para 2006 [de 3,5%] já está um ponto percentual abaixo da meta."

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Além disso, o impacto de uma Selic alta sobre adívida públicaé avassalador. "O custo fiscal é alto demais", diz Gonçalves. Mais da metade da dívida pública é indexada à Selic.

Cenários

Nos relatórios de inflação, o BC contrasta sua moldura própria de análise, chamada de "cenário de referência" (com taxas de câmbio e juros congeladas nos níveis correntes), com o "cenário de mercado" (com a média das estimativas dos agentes privados para juros e câmbio futuros). A lógica consiste em calibrar a política monetária conforme os resultados dos cenários. Se resultam em inflação abaixo da meta, é hora de reduzir juros. "Ocorre que nenhuma autoridade monetária aprecia volatilidade e, por isso, receia baixar os juros em um mês e depois elevá-los no mês seguinte", explica Gonçalves. Daí a cautela nos cortes da Selic.

O cenário do BC adota Selic constante de 19,5% ao ano e taxa de câmbio de 2,35 reais por dólar. Com essas referências, a projeção para 2005 é de um IPCA de 5%, e de 3,5% para o ano seguinte. Os dois resultados são inferiores às metas, de 5,1% e 4,5%, respectivamente. O cenário de mercado, construído via consultas a agentes financeiros, é um pouco diferente. Nele, a Selic média é de 18,5% e o câmbio chega a 2,42 reais no quarto trimestre de 2005; e de 15,88% e 2,60 reais, respectivamente, no último trimestre de 2006. Esses indicadores geram inflação de 5,2% em 2005 e 4,8% em 2006.

Com os cenários sobre a mesa, o BC comemora. "Ao contrário do que ocorria no relatório de junho, as trajetórias do cenário de referência e de mercado terminam 2005 em valores muito próximos aos do objetivo de 5,1% para o ano", afirma o documento. Além disso, pela primeira vez a trajetória do cenário de mercado encontra-se, no período janeiro-julho de 2006, abaixo da meta do BC.

Queda natural

Mas o relatório deixa explícito que, para o BC, juros reais menores virão como resultado de um processo natural e progressivo. Ou seja, vão demorar. O documento comemora a convergência ininterrupta da inflação para a trajetória de metas. Essa convergência consolida, diz o BC, um cenário de estabilidade macroeconômica duradoura. A estabilidade, por sua vez, favorece o processo de redução progressiva da percepção de risco, que vem ocorrendo nos últimos anos. "O espaço para que observemos juros reais menores no futuro continuará se consolidando de forma natural como conseqüência dessa melhora de percepção", afirma o documento.

Tharcísio de Souza Santos, diretor do programa de MBA da Fundação Armando Alvares Penteado (Faap), vê um descompasso entre o recuo do risco-país e o comportamento do BC. Areceptividadedo mercado internacional aos títulos de dívida soberana denominados em reais, semana passada, seria uma prova de que o BC continua conservador demais. "Quando houve a emissão, no meio do dia, a demanda de compra era superior a 7 bilhões de dólares", diz Santos. Os juros reais embutidos nesses títulos também dizem muito. O Brasil está pagando por esses títulos um juro real de 8,5%, enquanto a dívida interna está sendo remunerada a um juro real de 13,5%. "Tem alguma coisa errada aí", afirma o economista.

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