Insuficiência para regra de ouro fica em R$ 28,3 bilhões em 12 meses
Tesouro Nacional prevê um rombo de R$ 203,4 bilhões na regra de ouro em 2018, mas conta com uma série de medidas para equilibrar esse quadro
Estadão Conteúdo
Publicado em 25 de abril de 2018 às 15h43.
Última atualização em 25 de abril de 2018 às 15h43.
Brasília - O governo ultrapassou em R$ 28,3 bilhões o limite imposto pela regra de ouro, que impede a emissão de dívida para pagar despesas correntes como salários, nos 12 meses até março. O Tesouro Nacional prevê um rombo de R$ 203,4 bilhões na regra de ouro em 2018, mas conta com uma série de medidas para equilibrar esse quadro.
Entre elas a devolução de mais R$ 100 bilhões pelo BNDES , a desvinculação de recursos que estão hoje em fundos do governo e o cancelamento de restos a pagar (despesas de anos anteriores que ainda não foram desembolsadas).
Apesar do desequilíbrio atual na regra, o Tesouro ressaltou que a apuração do cumprimento ou não da norma constitucional é feita apenas em bases anuais. Até o fim do ano, a expectativa do órgão é ter completado as medidas de equalização da regra de ouro e evitar o desrespeito à norma, o que configuraria crime de responsabilidade.
Precatórios
A antecipação de pagamentos de precatórios (pagamentos devidos pela União após sentença definitiva na Justiça) contribuiu para elevar o déficit nas contas do governo central em março. Segundo o Tesouro Nacional, houve desembolso de R$ 9,5 bilhões para esse fim no mês passado.
O pagamento de precatórios geralmente era feito nos meses de novembro e dezembro. Em 2017, o desembolso já havia sido antecipado para maio e junho, mas o Tesouro avisou que este ano faria novo adiantamento nos pagamentos, para março e abril. "Esse esforço de antecipação será intensificado em 2018", diz o Tesouro. A medida gera economia de despesas.
Em março, os pagamentos de precatórios se dividiram em R$ 4,9 bilhões referentes a benefícios previdenciários, R$ 3,5 bilhões em pessoal e R$ 1,0 bilhão em outras sentenças.
Com o pagamento, o rombo nas contas ficou em R$ 24,828 bilhões, o pior para o mês desde o início da série histórica, iniciada em 1997. No acumulado do ano, o déficit é de R$ 12,980 bilhões.
Nas contas do Tesouro Nacional, desconsiderando a antecipação dos precatórios, o rombo no ano seria de R$ 3,4 bilhões.
Despesas
As despesas sujeitas ao teto de gastos aprovado pela Emenda Constitucional 95 subiram 7,4% de janeiro a março deste ano em relação a igual período de 2017, segundo o Tesouro Nacional. Para o ano, o limite de crescimento das despesas do governo é de 3,0%, mas a margem de enquadramento é de 7,1% devido ao espaço remanescente que não foi usado no ano passado.
Além do governo federal, alguns poderes e órgãos também estão fora dos limites individualizados para enquadramento no teto. É o caso, por exemplo, da Justiça Federal, da Justiça do Trabalho e do Ministério Público da União.
Os investimentos do governo federal subiram a R$ 8,531 bilhões nos primeiros três meses de 2018. Desse total, R$ 6,536 bilhões são restos a pagar, ou seja, despesas de anos anteriores que foram transferidas para este ano. De janeiro a março do ano passado, os investimentos totais haviam somado R$ 5,756 bilhões.
Os investimentos no Programa de Aceleração Econômica (PAC) somaram R$ 1,703 bilhão em março, alta real de 7,4% ante igual mês do ano passado. Já no acumulado do ano, as despesas com o PAC somaram R$ 3,640 bilhões, alta de 1,8% ante igual período de 2017, já descontada a inflação.
As despesas previdenciárias vão crescer R$ 49 bilhões em 2018, mais do que o espaço adicional de R$ 39 bilhões que haverá no teto de gastos, segundo a regra que limita o crescimento das despesas à inflação do ano anterior. O Tesouro Nacional fez nesta quarta-feira, 25, um alerta de que, nesse cenário, os déficits "crescentes e acentuados" na Previdência retiram espaço de políticas sociais e de investimentos.
"O ritmo de crescimento das despesas previdenciárias impõe um desafio para o teto de gastos", diz o Tesouro. No cenário atual, os próximos anos também mostrarão forte crescimento desses gastos: R$ 50 bilhões em 2019, R$ 66 bilhões em 2020 e R$ 70 bilhões em 2021.
No acumulado deste ano, o INSS acumula um déficit de R$ 49,1 bilhões, enquanto o Tesouro Nacional e o Banco Central economizaram R$ 36,3 bilhões. Ou seja, a Previdência está consumindo a poupança dos demais órgãos do governo.
Na soma do INSS com o regime próprio de servidores da União, o rombo em 12 meses até março chega a R$ 281,6 bilhões. A estimativa atual é de que essa conta feche no vermelho em R$ 292,5 bilhões em 2018, o equivalente a 4,2% do PIB.
Receitas
O caixa do governo federal recebeu R$ 139,4 milhões em pagamentos de outorgas de concessões em março, alta real de 16,9% ante março de 2017. Nos três primeiros meses deste ano, essa receita somou R$ 699,4 bilhões, alta real de 21,4% ante igual período do ano passado.
Já os dividendos pagos pelas empresas estatais somaram R$ 477,4 milhões em março, cifra 72,8% menor do que em igual mês do ano passado, já descontada a inflação. Já no acumulado do ano, as receitas com dividendos somaram R$ 482,8 milhões, queda real de 73,5% em relação a igual período de 2017.