Economia

Importadores compram de soja dos EUA enquanto China deixa de negociar

As compras realizadas por importadores da próxima safra de soja dos EUA subiram 27% até junho em comparação com o mesmo período do ano passado

Os compradores chineses até agora responderam por apenas 17% das compras antecipadas da safra de soja dos EUA (Dan Koeck/Reuters)

Os compradores chineses até agora responderam por apenas 17% das compras antecipadas da safra de soja dos EUA (Dan Koeck/Reuters)

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Reuters

Publicado em 12 de julho de 2018 às 14h00.

Última atualização em 12 de julho de 2018 às 16h38.

Chicago - As tarifas retaliatórias da China sobre a soja norte-americana, ameaçadas há semanas e decretadas na sexta-feira, derrubaram os preços e provocaram uma onda de compras de barganha por importadores de outros países, segundo análise da Reuters com base em dados oficiais.

Os compradores chineses até agora responderam por apenas 17 por cento de todas as compras antecipadas da safra de soja norte-americana deste ano --uma queda ante os 60 por cento de média na última década, segundo a análise.

Em contrapartida, a soja brasileira está sendo vendida com um prêmio de até 1,50 dólar por bushel, já que contratos futuros de soja nos EUA caíram 17 por cento em seis semanas, para 8,50 dólares, nível mais baixo em quase uma década.

A diferença de preço provocou uma corrida pela soja dos EUA por importadores desde o México, passando pelo Paquistão, até a Tailândia, de acordo com a análise dos dados do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA).

Mesmo com a China recuando, as compras antecipadas realizadas por todos os importadores da próxima safra de soja dos EUA subiram 127 por cento até junho, em 8 milhões de toneladas, em comparação com o mesmo período do ano passado, mostrou a análise.

As compras são o exemplo mais recente de como a política está afetando bilhões de dólares em fluxos globais de comércio à medida que o presidente dos EUA, Donald Trump, trava uma guerra comercial com a China.

Pequim impôs tarifas sobre 34 bilhões de dólares em produtos norte-americanos na sexta-feira, de soja e algodão a automóveis e aviões, em retaliação às tarifas dos EUA promulgadas no mesmo dia sobre mercadorias chinesas de igual valor.

O declínio das compras de soja norte-americana pela China e o movimento de outros países para adquirir o produto dos EUA em seu lugar evidenciam uma aposta coletiva contra qualquer resolução rápida da escalada da guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo.

Até mesmo o Brasil, maior exportador global de soja, está se preparando para grandes compras de soja norte-americana para alimentar seus processadores domésticos, uma vez que envia uma maior produção para a China a preços elevados, segundo a associação de exportadores Anec.

O Brasil pode importar até 1 milhão de toneladas de soja dos EUA, com as compras aumentando em outubro, disse o assistente executivo da Anec, Lucas Trindade.

As esmagadoras brasileiras de soja, que transformam a colheita em óleo de cozinha e ração animal, normalmente não precisam de soja nos EUA. Mas logo pode ser mais barato importar grãos cultivados a milhares de quilômetros de distância no Meio-Oeste dos EUA do que comprar a produção local.

"Parece irracional, mas existe a possibilidade de os preços em Chicago (futuros) se aproximarem dos 8 dólares (o bushel)", disse Alessandro Reis, diretor de originação e logística da CJ Selecta, uma processadora e comercializadora de soja no Brasil.

Os comerciantes de grãos que dominam os mercados de soja --incluindo a Archer Daniels Midland (ADM), a Bunge e a Cargill-- estão trabalhando para minimizar o impacto da queda repentina na demanda chinesa, desviando cargas para outros lugares.

Bunge e ADM recusaram-se a comentar. A Cargill não respondeu aos pedidos de comentários.

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