TONY VOLPON: “Se tudo isso vai nos levar ao fortalecimento da nossa democracia, depende de quanto vamos aproveitar para fazer reformas nos próximos anos” / Divulgação (Divulgação/Divulgação)
Estadão Conteúdo
Publicado em 22 de dezembro de 2020 às 07h18.
Última atualização em 22 de dezembro de 2020 às 07h26.
Para o economista Tony Volpon, ex-diretor do Banco Central e estrategista-chefe da gestora WHG, casa recém-criada principalmente por ex-executivos do Credit Suisse, a mutação do novo coronavírus, caso se espalhe para mais lugares do mundo, pode interromper a recuperação nas economias que estavam seguindo o formato de “V”, ou seja de uma retomada acelerada após o tombo. Mas, por outro lado, há o efeito positivo com a expectativa da vacina.
Ainda temos que tentar entender. Há muitas incertezas desse ‘novo’ novo coronavírus. Parece que a taxa de infecção é maior, mas não é mais letal. Outras variáveis do vírus são constantes. Há um processo natural de mutação no código genético. Se essas premissas são verdadeiras, como o já visto na Inglaterra, parte da decisão dos governos será de impor medidas de restrição de circulação para compensar a maior taxa de infecção, para se manter o mesmo nível de pressão sobre o sistema de saúde. Em vários lugares do mundo já se estava enfrentando uma segunda onda e muitos países estavam evitando ao máximo entrar em lockdown, mas agora, com a nova cepa, devem adotar essa medida.
As restrições devem ser maiores e isso tem um impacto negativo sobre a atividade. Aprendemos isso em março, que esse tipo de medida leva a um impacto na oferta. Então, várias economias que estavam com a ideia de recuperação em “V”, devem ter uma pernada para baixo. É um efeito matemático, as projeções de crescimento vão cair. Isso pressupondo que a nova cepa se alastre para mais lugares do mundo. Será a segunda pernada negativa da atividade econômica, mas ao mesmo tempo temos um tradeoff (troca) entre os países adotando medidas de restrição versus o efeito positivo com a expectativa da vacina, com o mercado projetando que em seis meses a situação estará muito melhor.
O que o mercado não sabe é o efeito líquido de tudo isso. Vai piorar muito? Vamos voltar a viver março? A maioria acha que não. O impacto material deverá ser contrabalanceado pela vacina e com mais gastos fiscais. Quem pode, vai gastar mais.