Jerome Powell: perguntado sobre possível guerra comercial, chairman minimizou os riscos (James Lawler Duggan/Reuters)
Reuters
Publicado em 17 de julho de 2018 às 17h25.
Última atualização em 17 de julho de 2018 às 17h25.
Washington - O chairman do Federal Reserve, Jerome Powell, disse nesta terça-feira que vê os Estados Unidos a caminho de anos de crescimento firme, mas foi confrontado em um depoimento no Congresso por senadores preocupados que as políticas comerciais do governo Trump já estariam prejudicando negócios em seus distritos.
Em um depoimento por escrito perante o Comitê Bancário do Senado, e em sua resposta a questões sobre uma possível "guerra comercial", o chefe do banco central dos EUA minimizou os riscos, dizendo que seria um resultado positivo se as negociações da administração resultassem em um mundo de tarifas mais baixas.
Mas a democrata da Dakota do Norte Heidi Heitkamp afirmou que estava se frustrando com a ideia de "dor no curto prazo para ganho de longo prazo", ressaltando que o setor de energia em seu Estado foi atingido por preços mais altos de aço por causa das tarifas de importação, e fazendeiros preocupam-se em perder participação de mercado por causa de tarifas retaliatórias impostas sobre os seus bens.
"Não podemos nos dar ao luxo de enterrar a cabeça na areia", disse Heitkamp, sobre o impacto. "Vamos olhar para trás para este momento, talvez em um ano, e dizer que foi o ponto em que viramos a esquina e a economia foi para baixo."
Ao mesmo tempo em que se manteve longe de críticas diretas à imposição de tarifas pelo presidente norte-americano, Donald Trump, especialmente à China mas também de parceiros na Europa e outros, ele admitiu que as tarifas eram "certamente" a abordagem errada e acrescentou que os Estados Unidos "sentiriam isso em nível nacional", se tarifas permanecerem em vigor por muito tempo.
Powell disse que, descontando o risco de uma guerra comercial tirar a recuperação global do caminho, a economia está à beira de "vários anos" numa posição em que o mercado de trabalho continua forte e a inflação fica ao redor da meta de 2 por cento do Fed.
Em um testemunho escrito ao Comitê Bancário do Senado, o chair do Fed sinalizou não apenas que acredita que a economia está indo bem, mas que uma era de crescimento estável pode continuar desde que o Fed acerte em suas decisões de política.
"Com uma política monetária apropriada, o mercado de trabalho permanecerá forte e a inflação ficará próxima dos 2 por cento nos próximos anos", disse Powell em uma das mais fortes afirmações de que o Fed está ao alcance de suas metas mais de uma década depois que os Estados Unidos enfrentaram uma profunda crise financeira e recessão.
O Fed "acredita que -por enquanto- o melhor caminho é continuar elevando gradualmente a taxa de juros" de forma a acompanhar o fortalecimento da economia, mas não subi-la tão alto ou tão rápido de modo que isso enfraqueça o crescimento, disse.
Ele não abordou suas opiniões sobre o ritmo apropriado de aperto ou se acha, como alguns de seus colegas argumentaram, que o Fed deveria pausar seu ciclo de aumento da taxa de juros em algum momento do próximo ano se a inflação continuar sob controle. A expectativa é que o BC norte-americano aumente as taxas mais duas vezes este ano, a partir do nível atual de entre 1,75 e 2 por cento.
Powell vai comparecer diante de um comitê da Câmara na quarta-feira.
Em comentários recentes, Powell e outras autoridades do Fed se recusaram a declarar "vitória" em seus esforços para atingir a meta de inflação de 2 por cento, embora a maioria tenha reconhecido que, com o desemprego em 4 por cento, sua meta de emprego foi atingida.
Mas a medida preferencial de inflação do Fed atingiu 2,3 por cento em maio, e chegou precisamente a 2 por cento depois de excluídos preços mais voláteis de alimentos e energia.
A inflação está "próxima" da meta do Fed e "os dados recentes são encorajadores", disse Powell ao descrever as razões pelas quais ele acha que a expansão de quase uma década dos Estados Unidos deve continuar.
As taxas de juros ainda baixas, um sistema financeiro estável, o crescimento global contínuo e o impulso dos recentes cortes de impostos e do aumento dos gastos federais "continuam a apoiar a expansão", disse Powell.
Depois de um sólido começo de ano, o crescimento parece ter acelerado à medida que "ganhos robustos de emprego, aumento da renda depois de impostos e otimismo entre as famílias aumentaram os gastos dos consumidores nos últimos meses. O investimento das empresas continuou crescendo a um ritmo saudável", disse.
Powell concordou com a incerteza em torno das políticas comerciais do governo Trump, que organizações como o Fundo Monetário Internacional (FMI) advertiram que poderiam conter o crescimento global se as rodadas de tarifas e retaliações de outros países aumentassem os preços, diminuíssem a demanda e interrompessem as cadeias globais de fornecimento.
Mas "é difícil prever o resultado final das discussões atuais sobre a política comercial", disse. No geral, os riscos para a economia foram "mais ou menos equilibrados", com o "caminho mais provável para a economia" sendo o de ganhos contínuos com emprego, inflação moderada e crescimento constante.