Paulo Guedes: privatização da petroleira não está no radar no momento (Ueslei Marcelino/Reuters)
Reuters
Publicado em 26 de abril de 2019 às 12h34.
Última atualização em 26 de abril de 2019 às 15h32.
Rio de Janeiro — O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou nesta sexta-feira que o governo não cogita por enquanto a privatização da Petrobras, mas quer superar a "burocracia antiga" na estatal que limita um plano para o barateamento do preço do gás.
Após reunião com o ministro da Fazenda da Argentina, Nicolás Dujovne, Guedes disse que seria possível baixar o preço do gás em 30 a 45 dias, e que o governo já está trabalhando celeremente em medidas para isso, dando "um choque de energia barata" no curto prazo.
Mais uma vez, o ministro da Economia não deu detalhes do plano do governo para executar o barateamento do insumo, que ajudaria no orçamento dos brasileiros e estimularia uma "reindustrialização" do setor produtivo.
"Nos interessa dar um choque de energia barata... mas tem uma burocracia antiga na Petrobras que quer proteger, esconder e até ocultar os excessos", afirmou ele, sem explicar, ao falar a jornalistas na porta da sede do Ministério da Fazenda no Rio de Janeiro.
O ministro da Economia é bastante próximo do presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, que estudou na Universidade de Chicago, uma instituição de linha liberal, assim como Guedes.
O ministro acrescentou que existe uma resistência dentro da empresa com relação à quebra do monopólio do gás, uma vez que a companhia é a principal produtora do país e dona de boa parte da malha de dutos.
A Petrobras já fechou a venda de duas importantes unidades de gás, a Nova Transportadora do Sudeste (NTS), por mais de 5 bilhões de dólares, em 2016, e a Transportadora Associada de Gás, mais recentemente, por 8,6 bilhões de dólares.
Ainda dentro do plano de desinvestimento, a Petrobras está preparando a venda de mais três gasodutos, segundo disseram à Reuters três fontes com conhecimento do assunto.
Guedes revelou que colocou um consultor dentro da empresa para estudar o mercado de gás, mas disse que ele acabou sendo "dominado" pela burocracia da Petrobras.
"Estou até arrependido de ter enviado para lá (para Petrobras) um consultor, que nos ajudou durante a campanha, porque ele já está capturado pela burocracia e já está querendo proteger e ocultar o custo da ineficiência e da corrupção passada", declarou o ministro, sem revelar o nome do consultor.
Guedes destacou que a abertura do mercado de gás poderia ser feita com medidas normativas e uma desregulamentação do setor, e poderia envolver órgãos como Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), a reguladora do setor de petróleo e gás (ANP) e outros.
"Nos interessa resolver isso com celeridade até por que o presidente Bolsonaro está entusiasmado com isso", frisou ele, ao destacar que já há conversas com governadores do Sudeste para apoiar a quebra do monopólio de distribuição do gás para baratear o custo da energia no país.
Guedes destacou que para dinamizar e aumentar a competitividade da economia brasileira é preciso, entre outras medidas, acabar com o monopólio da Petrobras no setor do gás, refino e distribuição de combustíveis.
Guedes lembrou que o presidente Jair Bolsonaro aceitou falar sobre a privatização da companhia.
"O que vamos fazer é devolver a Petrobras à sua atividade 'core' (principal), que é a exploração do petróleo. O resto, os monopólios queremos tirar", disse ele.
"Não tem privatização da Petrobras agora; o que o presidente (Bolsonaro) falou é que pela primeira vez ele está considerando o assunto", adicionou.
Na semana passada, Bolsonaro comentou "em tese" a possibilidade de avaliar a privatização da Petrobras, segundo o porta-voz da Presidência, após Guedes ter comentado, em entrevista à Globonews, que o presidente "levantou a sobrancelha" sobre o tema, em meio à recente polêmica em torno dos preços do diesel praticados pela companhia.
O presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, já defendeu publicamente, mais de uma vez, a privatização da companhia, ressaltando que a ideia não encontrava um respaldo integral do Palácio do Planalto.