Economia

Governo busca saída para juros da conta pública

A economia que o governo faz para o pagamento dos juros da dívida pública, o superávit primário, ficou abaixo do prometido nos últimos três anos


	A economia que o governo faz para o pagamento dos juros da dívida pública, o superávit primário, ficou abaixo do prometido nos últimos três anos. Em 2014, não será diferente
 (Rodrigo_Amorim/Creative Commons)

A economia que o governo faz para o pagamento dos juros da dívida pública, o superávit primário, ficou abaixo do prometido nos últimos três anos. Em 2014, não será diferente (Rodrigo_Amorim/Creative Commons)

DR

Da Redação

Publicado em 26 de outubro de 2014 às 10h54.

Brasília - A equipe econômica já admite internamente que a meta para as contas públicas deste ano não será cumprida. Três fontes graduadas do Ministério da Fazenda, uma delas do Tesouro Nacional, confirmaram ao jornal O Estado de S. Paulo que não será possível obter a economia projetada para o pagamento de juros da dívida pública.

A admissão pública pode ocorrer nesta semana, segundo as fontes, quando o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, anunciará o resultado fiscal, das contas públicas, de setembro.

A economia que o governo faz para o pagamento dos juros da dívida pública, o superávit primário, ficou abaixo do prometido nos últimos três anos. Em 2014, não será diferente.

No mês passado, o governo registrou o quinto resultado negativo consecutivo em suas contas. Com esse novo déficit, passará a haver um rombo nas contas neste ano.

O governo terá de fazer, em três meses, toda a meta fiscal de R$ 80,8 bilhões prevista para o chamado governo central, que reúne as contas do Tesouro, Banco Central e Previdência.

Dívida

Um sinal claro de que o superávit primário é fraco é o aumento do endividamento público. A dívida bruta do setor público saltou de 56,5% do PIB, em dezembro de 2013, para 60,1% do Produto Interno Bruto (PIB) em agosto, último dado disponível.

Isso ocorre porque o governo poupou apenas 0,3% do PIB entre janeiro e agosto e, com novo déficit primário esperado para setembro, mesmo essa economia tênue terá evaporado no acumulado do ano.

Desde agosto, os técnicos da Fazenda trabalham com o cenário de descumprimento da meta fiscal. Mas a ordem do ministro Guido Mantega e do secretário Augustin foi sustentar a promessa original para evitar uma contaminação do debate eleitoral.

Com o fim das eleições, estará aberto o caminho para a admissão pública que a meta não será cumprida.

Alternativas

Apesar do foco eleitoral, os técnicos discutem há quase um mês como driblar esse problema.

Ainda entrarão nos cofres públicos, entre outubro e dezembro, R$ 3,5 bilhões em recursos do Fundo Soberano, mais R$ 2 bilhões da concessão de campos do pré-sal à Petrobras, outros R$ 7,7 bilhões do leilão da faixa 4G de telefonia celular, além das parcelas mensais do Refis e da arrecadação normal. Mesmo assim, sabe-se na Fazenda que uma eventual melhora do esforço fiscal neste último trimestre será insuficiente para cumprir a meta.

Dessa forma, o governo terá de enviar ao Congresso um projeto de lei para alterar o Orçamento 2014. No texto, poderá optar entre dois caminhos: reduzir a meta ou ampliar o limite dos abatimentos do superávit primário (recursos que podem ser descontados da meta) - hoje fixado em R$ 67 bilhões.

No início, o governo se comprometeu a descontar apenas R$ 35 bilhões da meta fiscal prevista em R$ 99 bilhões - ou 1,9% do PIB.

Se o governo decidir usar todo o abatimento previsto no Orçamento, isto é, os R$ 67 bilhões, a meta fiscal será reduzida em mais R$ 32 bilhões - a diferença entre o teto e a promessa inicial. Assim, a meta chegará a 1,3% do PIB. Mas até esse nível é tido como "praticamente impossível" de ser atingido.

O governo trabalha internamente com um resultado de 1% do PIB para o superávit primário deste ano. Se ampliar o limite de abatimento da meta fiscal em cerca de R$ 15 bilhões, esse índice será alcançado.

Desde que os meses de outubro, novembro e dezembro apresentem um desempenho fiscal forte, diferentemente de todo o ano. Outro caminho, ainda não descartado, é a redução formal da meta fiscal prevista no Orçamento.

PAC

Caso opte pela ampliação do abatimento da meta, o governo pode formar esse expediente com um "mix" de gastos com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e as desonerações tributárias.

Do ponto de vista político, admite-se na Fazenda ser mais fácil obter do Congresso a ampliação do abatimento, sobretudo se esse desconto for formado por investimentos do PAC. Por isso, a ordem é acelerar as despesas com o programa de obras federais.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Acompanhe tudo sobre:Dívida públicaIndicadores econômicosJurosPAC – Programa de Aceleração do CrescimentoPIBPIB do BrasilTesouro Nacional

Mais de Economia

BNDES vai repassar R$ 25 bilhões ao Tesouro para contribuir com meta fiscal

Eleição de Trump elevou custo financeiro para países emergentes, afirma Galípolo

Estímulo da China impulsiona consumo doméstico antes do 'choque tarifário' prometido por Trump

'Quanto mais demorar o ajuste fiscal, maior é o choque', diz Campos Neto