Economia

Goldman reduz previsão de alta para PIB brasileiro em 2020 de 2,2% a 1,5%

A instituição vê ainda a possibilidade de mais dois cortes na Selic até o fim do ano, quando a taxa básica deverá ir para 3,75%

Economia brasileira. Foto: Iurii Garmash, Getty Images (Iurii Garmash/Getty Images)

Economia brasileira. Foto: Iurii Garmash, Getty Images (Iurii Garmash/Getty Images)

Ligia Tuon

Ligia Tuon

Publicado em 3 de março de 2020 às 15h05.

Última atualização em 3 de março de 2020 às 18h47.

São Paulo - O Goldman Sachs rebaixou nesta terça-feira (03) sua expectativa para o crescimento da economia brasileira em 2020 de 2,2% para 1,5%. A instituição vê ainda a possibidade de mais dois cortes na Selic até o fim do ano, quando a taxa básica deverá ir para 3,75%.

"O surto de coronavírus continua dominando as manchetes e agora está se tornando global. Nos mercados de ativos, as evidências da presença crescente do Covid-19 nas Américas aumentaram a aversão ao risco / prêmios, desencadearam fluxos de fuga por questão de segurança e condicionaram as condições financeiras em toda a América Latina", diz Alberto Ramos, diretor de pesquisa econômica para América Latina do Goldman Sachs.

Com o número crescente de infecções virais confirmadas pelo Covid-19 na América Latina, o banco espera que os setores de indústria, serviços, comércio e turismo sejam afetados negativamente e que os termos de troca se deteriorem acompanhando a queda dos preços de commodities.

Junto aos dados decepcionantes de atividade no fim de 2019, o avanço do surto tem gerado uma onda de corte das previsões de crescimento brasileiro neste ano. Só nas últimas duas semanas os bancos Safra, Barclay, Citibank, BNP Paribas e MUFG Brasil revisaram para baixo as suas estimativas, se somando a um grupo que já contava com UBS, JP Morgan e Santander.

Na sexta-feira, o secretário de Política Econômica do Ministério da Economia, Adolfo Sachsida, disse em entrevista ao canal Globo News que o Produto Interno Bruto (PIB) de 2020 poderá ser revisado até o fim desta semana devido à epidemia.

O medo é que se repita o fenômeno que vem desde 2017, com as projeções começando o ano perto de 2% e depois sendo cortadas sucessivamente até o patamar de 1%.

O fato de a China ser o maior parceiro comercial do Brasil - com peso especial na exportação de soja, petróleo e minério de ferro - é visto pelas instituições com preocupação nesse cenário de desaceleração global. A queda nos desembarques brasileiros neste ano é prevista em 0,3% pelo Barclays. 

A tendência também apareceu no último Boletim Focus, pesquisa semanal realizada pelo Banco Central para medir as expectativas do mercado, onde a projeção para o PIB este ano foi de 2,23% para 2,20%.

Política monetária

Nas últimas semanas, o temor do impacto negativo do coronavírus na economia mundial aqueceu as discussões para que os bancos centrais coloquem em ação suas ferramentas de estímulo monetário.

Nesta terça, o Federal Reserve, banco central dos Estados Unidos, anunciou um corte emergencial de 0,50 ponto percentual na taxa de juros americana, que foi para a faixa de 1% a 1,25%, para conter o potencial estrago do surto. Além disso, o G7, que reúne as sete maiores economias do planeta, disse estar pronto para agir para proteger a economia global dos efeitos da epidemia e ajudar os países afetados, incluindo “medidas fiscais, quando apropriadas.

No Brasil, apesar de o Goldman prever mais dois cortes na taxa básica de juros, não está claro quais serão os próximos passos do BC, que sinalizou em sua última reunião do Copom o encerramento do ciclo de afrouxamento. A maior parte do mercado, no entanto, não acredita numa redução já na próxima reunião, que acontece daqui a duas semanas.

Para acalmar os ânimos, o Banco Central do Brasil divulgou uma nota no início da noite desta terça dizendo que monitora atentamente os impactos do surto de coronavírus nas condições financeiras e na economia brasileira e que as próximas duas semanas permitirão uma avaliação mais precisa dos efeitos do surto de coronavirus na trajetória prospectiva de inflação no horizonte relevante de política monetária.

A autoridade monetária destaca que, no último Copom, o 15º parágrafo da Ata da 228ª reunião afirma: “O eventual prolongamento ou intensificação do surto implicaria uma desaceleração adicional do crescimento global, com impactos sobre os preços das commodities e de importantes ativos financeiros. O Copom concluiu que a consequência desses efeitos para a condução da política monetária dependerá da magnitude relativa da desaceleração da economia global versus a reação dos ativos financeiros.”

À luz dos eventos recentes, diz o BC, o impacto sobre a economia brasileira proveniente da desaceleração global tende a dominar uma eventual deterioração nos preços de ativos financeiros.

 

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