Eduardo Giannetti: situação econômica piorou, mas estamos longe de viver um inferno (Germano Luders/Exame)
Tatiana Vaz
Publicado em 8 de agosto de 2017 às 14h12.
Última atualização em 8 de agosto de 2017 às 15h04.
São Paulo – Para explicar a diferença econômica entre decisões táticas e estratégicas de empresas e governos, o economista Eduardo Giannetti usou exemplos práticos do cotidiano.
“Comer um brigadeiro é uma decisão tática, fazer regime é estratégia. Namorar é uma decisão tática, casar e ter filhos, estratégica”, exemplificou ele. “O Brasil toma hoje decisões táticas depois de uma grande frustração com o impeachment de (a ex-presidente) Dilma. Agora é hora de pensar no que queremos para o país a longo prazo”.
Para ele, a onda mais otimista que começou com o início do mandato de Temer, cuja qualidade da equipe econômica e propostas de reformas foram muito bem recebidas, caiu por terra depois da delação premiada de Joesley Batista, em maio. O risco político virou realidade.
“Depois disso, a má notícia é que o tempo de aprovação das reformas foi prejudicado, com sinais de recuperação econômica ainda ambíguos”, afirmou o economista. “A boa, é que o país mostrou resiliência. A situação piorou, mas estamos longe de viver um inferno”.
A palestra de Giannetti fechou o evento Encontro de CEOs EXAME, realizado na manhã de hoje, dia 8, em São Paulo. Na ocasião, empresas que passam muito bem pela crise, algumas vencedoras da premiação de Melhores e Maiores de 2016.
“Vimos exemplos de companhias otimistas e desbravadoras, mesmo no cenário adverso, focadas em decidir de forma estratégica, em olhar para o futuro”, comentou ele pouco antes de salientar que reações assim farão toda a diferença para que se estabeleça um ambiente de negócio favorável para o país como um todo.
Além da habilidade de adaptação e da proposta de integração do país ao fluxo mundial de comércio, o economista aposta que a retomada da economia se dará baseada na ideia de as decisões serem balizadas pensando mais no Brasil e menos em Brasília.
Só assim o país terá o controle fiscal e a distribuição de verba em pontos cruciais para o desenvolvimento econômico de que tanto precisa.
De acordo com ele, a carga tributária bruta do Brasil é 35% do PIB, sendo que 45% da renda nacional brasileira transita pelo setor público, ou seja, é gasta por intermediação do governo.
Dos 45%, dois itens representam 20%: previdência (12%) e juros (8%). Ainda assim, temos um investimento pífio de 2,5% do PIB ao ano e indicadores sociais de saneamento e infraestrutura desanimadores.
“Vamos ter de abrir essa caixa-preta e reavaliar a maneira como é feita a distribuição de recursos”, disse Giannetti. “Brasília vai ter de diminuir de tamanho e liberar verba para a atividade fim."
Por último, a proposta do economista é tida, por ele mesmo, como delicada: reforma política.
“Se tudo isso existe, é melhor saber que não saber”, disse, comparando a situação anterior, em que a abrangência da corrupção era desconhecida da maioria dos brasileiros, a um câncer que come as entranhas do país sem ninguém ter ciência.
O que faremos a partir disso, as decisões estratégicas que tomaremos, fará agora toda a diferença para o futuro do Brasil, diz Giannetti.
“Nós nos extraviamos a tal ponto que devemos estar no bom caminho”, conclui ele, citando o escritor português Fernando Pessoa.