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Gazprom deixará de armazenar gás em depósitos ucranianos

Gazprom irá rescindir contrato por meio do qual usava depósitos ucranianos para armazenar gás que exporta para a Europa

Gazprom: guerra do gás entre Rússia e Ucrânia entrará em nova fase (Alexander Demianchuk/Files/Reuters)
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Da Redação

Publicado em 20 de junho de 2014 às 13h16.

Moscou - A "guerra do gás" entre Rússia e Ucrânia entrará em uma nova fase na próxima segunda-feira, quando a companhia russa Gazprom rescindir o contrato por meio do qual utiliza depósitos subterrâneos em território ucraniano para armazenar o gás que exporta para a Europa.

Após a decisão russa de cortar o abastecimento de gás para a Ucrânia a partir da segunda-feira passada por falta de pagamento, o conflito viverá agora uma nova reviravolta em 23 de junho, dia em que a Gazprom também deixará de utilizar os depósitos ucranianos, o que pode colocar em perigo o abastecimento para outros países.

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A companhia ucaniana Naftogaz Ukraini disse em um comunicado que a Gazprom Export comunicou um dia após cortar o fornecimento sua intenção de rescindir contrato vigente com uma de suas filiais, a Ukrtransgaz.

Segundo o contrato, assinado em 2010, em caso de um aumento brusco do consumo diário por parte dos consumidores europeus, a Naftogaz compensaria esse déficit a partir de suas reservas, e a companhia russa pagaria depois por estes serviços.

A companhia ucraniana culpou a empresa russa por possíveis consequências para os compradores europeus se a Ucrânia tiver dificuldades para formar reservas do combustível, e disse que "não há bases econômicas" que justifiquem a rescisão.

"Todos os invernos utilizamos gás dos depósitos subterrâneos para compensar os picos de consumo na Europa, mas com a ruptura do contrato não poderemos utilizar esse mecanismo", afirmou uma fonte da Naftogaz ao jornal "Kommersant".

"Isto poderia levar a um corte do fornecimento e a que se acuse a Ucrânia de não cumprir seus compromissos para o transporte (do gás)", acrescentou a fonte.

Atualmente, a Rússia fornece aos países da União Europeia 39% da necessidade de gás do bloco, e através do sistema de gasodutos da Ucrânia circulam 185 milhões de metros cúbicos ao dia.

Embora o contrato não seja grande envergadura financeira, é importante do ponto de vista técnico para garantir o transporte.

A nova medida ocorre em meio à paralisia das negociações entre Moscou e Kiev com mediação da UE, nas quais não se alcançou um acordo na semana passada nem sobre o pagamento da milionária dívida ucraniana a Gazprom nem sobre o preço do gás.


"A situação não mudou nestes dias. A posição da parte russa, também não: esperamos o pagamento pelo gás russo", disse ontem o ministro russo de Energia, Alexander Novak. A posição da Rússia é só voltar para a mesa de negociações após o pagamento.

A Rússia cortou o abastecimento para a Ucrânia ao se esgotar o prazo dado para que Kiev pagasse US$ 1,95 bilhão, parte de uma dívida total de US$ 4,5 bilhões pelo gás, e introduziu o sistema de pagamento antecipado.

Moscou tinha oferecido um desconto de US$ 100 por cada mil metros cúbicos de gás, o que deixaria o preço atual em US$ 385, mas A Ucrânia rejeitou a oferta e se mostrou disposta a pagar US$ 326. A disputa foi levada para a Arbitragem de Estocolmo.

O governo ucraniano nascido da revolução que derrubou o regime pró-Rússia do presidente Viktor Yanukovich confirmou o corte do abastecimento e afirmou que a Gazprom bombeia todo o combustível que exporta para seus clientes na UE através do território da Ucrânia.

O ministro da Energia da Ucrânia, Yuri Prodan, assegurou que Kiev garantirá "um transporte seguro aos países europeus" e que o corte não impedirá o abastecimento dos consumidores ucranianos pois há gás suficiente até dezembro.

Mas o precedente da última "guerra do gás", quando em 2009 a Ucrânia se apropriou do combustível destinado aos clientes europeus após o fechamento do abastecimento por parte de Moscou por falta de pagamento, levou nesta semana a Gazprom a advertir a Comissão Europeia de "possíveis problemas" no transporte do gás se a Ucrânia recorrer a esta medida.

"Caso detectemos que o gás permanece no território da Ucrânia, aumentaremos o bombeamento (para a Europa) pelo Nord Stream e o Jamal-Europa", disse o presidente da Gazmprom, Alexei Miller, em referência aos gasodutos que passam pelo Mar Báltico e Belarus, respectivamente.

Kiev e Moscou recorreram ao Tribunal de Arbitragem de Estocolmo para resolver sua disputa.

A Rússia reivindica quase US$ 4,5 bilhões por falta de pagamentos, enquanto a Ucrânia exige a devolução de US$ 6 bilhões por faturamento abusivo.

Miller advertiu que a Gazprom pode apresentar um novo processo em Estocolmo exigindo da Ucrânia US$ 18 bilhões pelo gás que o país não empregou em 2012 e 2013, já que o contrato estipula uma compra mínima anual.

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