Economia

Fed, emergentes e protecionismo: os catalisadores de crise ainda evitável

O FMI, que encerra neste domingo (14) a sua reunião anual em Bali, na Indonésia, assinala uma combinação de riscos "inédita"

FMI: fundo avalia que taxas dos EUA, países emergentes sob pressão e guerra comercial são um coquetel tóxico, mas ainda há chances de impedir sua explosão (Yuri Gripas/Reuters)

FMI: fundo avalia que taxas dos EUA, países emergentes sob pressão e guerra comercial são um coquetel tóxico, mas ainda há chances de impedir sua explosão (Yuri Gripas/Reuters)

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AFP

Publicado em 14 de outubro de 2018 às 16h23.

Estamos caminhando para uma nova crise financeira planetária? As taxas dos Estados Unidos, os países emergentes sob pressão e a guerra comercial são um coquetel tóxico, mas uma forte conjuntura mundial poderá impedir sua explosão, analisam o FMI e os ministros das Finanças mundiais.

O Fundo Monetário Internacional (FMI), que encerra neste domingo (14) a sua reunião anual em Bali, na Indonésia, assinala uma combinação de riscos "inédita", apesar de celebrar um crescimento mundial suficientemente sólido (3,7% esperado em 2018 e 2019) para evitar o pior.

O primeiro risco de se materializar tem sido a escalada protecionista em um contexto no qual a guerra comercial entre China e Estados Unidos se intensifica com base na imposição de tarifas punitivas.

"As relações entre as grandes economias parecem com (a série) 'Game of Thrones', cujo cruel universo confronta poderosas famílias a pagar um 'preço trágico'", ironizou o presidente indonésio, Joko Widodo, ante a assembleia do FMI.

A diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, lamentou "o questionamento do multilateralismo", fonte de "um nível de incerteza nunca visto".

Por conta das acusações dos Estados Unidos, a China mostra a sua boa vontade: "Buscamos uma solução construtiva" às tensões comerciais, "com as quais todos perdem", afirmou neste domingo Yi Gang, dirigente do Banco Central chinês.

Embora a administração americana suspeite abertamente que Pequim desvaloriza a sua moeda em prol de seus exportadores, Yi reiterou que seu país "não usaria as taxas de câmbio como arma" comercial. E os membros do FMI se comprometeram por unanimidade em Bali a evitar qualquer "guerra de divisas".

Efeitos colaterais

O Federal Reserve americano (Fed), que elevou as suas taxas pela terceira vez este ano para frear o superaquecimento na primeira economia mundial, é outra fonte de preocupação.

Este aumento das taxas de juros é "legítimo" e "necessário", visto o forte crescimento americano, acompanhado de um aumento da inflação e do baixo desemprego, mas intensifica a pressão sobre os mercados emergentes, observou Lagarde.

Esses últimos estão sofrendo fuga de capital, atraído em outros lugares por investimentos mais lucrativos em dólares. Especialmente Argentina, Turquia e Indonésia viveram uma forte queda de sua moeda.

"Muitos mercados emergentes e países em desenvolvimento aproveitaram custos de financiamento extremamente baixos" nos últimos anos "subscrever empréstimos denominados em dólares" e se encontram presos pelo encarecimento do dólar, explicou Lagarde.

Mas ninguém contempla uma mudança de rumo do Fed, apesar das duras críticas do presidente americano, Donald Trump.

O presidente da instituição, Jerome Powel, se mostrou "muito claro em Bali" sobre a sua "vontade de continuar subindo as taxas", declarou à AFP François Villeroy de Galhau, dirigente do Banco de França.

Ao contrário, "existem medidas para que os emergentes amortizem" este impacto: as flexibilidades de suas taxas de câmbio e a gestão supervisionada dos movimentos de capitais, indicou.

"Amnésia"

O FMI pede aos bancos centrais que endureçam pouco a pouco a sua política monetária, a fim de ter amplas margens de manobra em caso de crise.

Esses "colchões" financeiros são desejáveis em face da expansão de um "financiamento paralelo" pouco regulado(créditos e produtos financeiros opacos e arriscados), em um contexto de aumento alarmante da dívida mundial pública e privada, de até o dobro do PIB global de 2017.

Mas Christine Lagarde lembrou na quinta-feira a crise financeira global de 2008 e outras catástrofes do passado.

"Espero que não sejamos vítimas de uma amnésia coletiva sobre o que aconteceu (no passado) quando as tensões geopolíticas adicionadas ao protecionismo causaram acontecimentos terríveis", lembrou.

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