Responsável pelo escritório regional do Fed em Kansas City, Esther George: “a inflação é um imposto e aqueles com menos condições de pagar por isso é que geralmente sofrem mais” (Ron Antonelli/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 15 de maio de 2017 às 19h20.
Nova York - Será que o banco central dos EUA deveria subir os juros mais rapidamente para proteger os mais pobres?
Pelo menos uma pessoa do alto escalão do Federal Reserve defende este argumento. Em discurso no mês passado, a responsável pelo escritório regional do Fed em Kansas City, Esther George, declarou que não estava “tão entusiasmada ou incentivada como alguns diante do aumento da inflação” porque a “inflação é um imposto e aqueles com menos condições de pagar por isso é que geralmente sofrem mais”.
Ela se referia especificamente à inflação dos aluguéis que, em sua opinião, pode continuar subindo se o Fed não tomar medidas para apertar a política monetária.
E embora a noção de inflação como imposto que prejudica mais os pobres não seja nova, seu papel no atual debate sobre as taxas de juros mudou um pouco.
O aumento da desigualdade de renda e patrimônio nos últimos anos permeou a política e colabora para a expansão de movimentos populistas no mundo desenvolvido.
Neste contexto, saíram diversas pesquisas — algumas produzidas por economistas de bancos centrais — que sustentam a ideia de que a política monetária mais relaxada tende a ser mais progressiva.
Esses trabalhos contrastam com o conceito de que uma abordagem mais rigorosa para conter a inflação é o melhor para a população de baixa renda.
Assim, os integrantes do Fed entraram em um debate que costumam deixar para os políticos.
A discussão esquentou porque o Fed quer declarar vitória e afirmar que cumpriu o objetivo do pleno emprego, mesmo que a parcela da população no auge da idade produtiva que está empregada não chegue nem perto dos picos observados nas últimas duas fases de expansão da economia dos EUA.
Dentro do Fed, George tem sido uma das maiores críticas do nível baixo dos juros, mas não é a única que defende que o Fed vigie as pressões inflacionárias para proteger os pobres.
Seu colega Patrick Harker, responsável pelo escritório da instituição na Filadélfia, apresentou o mesmo argumento em janeiro.
Este raciocínio é um desdobramento do consenso compartilhado pela atual geração de comandantes de bancos centrais no mundo todo.
Muitos economistas se lembram do estudo de Christina e David Romer, publicado em 1998, concluindo que, embora a política monetária expansionista possa reduzir a pobreza no curto prazo ao estimular o crescimento econômico, no longo prazo, todos se beneficiam mais de políticas que visam inflação baixa e estável porque essas medidas melhoram a eficiência da economia como um todo.
Por si só, a inflação elevada pode ser uma desvantagem para os mais pobres, uma vez que as pessoas com mais dinheiro conseguem diversificar sua poupança em ativos menos suscetíveis ao avanço dos preços.
Contudo, isso é só parte do conjunto de implicações para a política monetária, de acordo com Olivier Coibion, professor de economia na Universidade do Texas em Austin.
Em estudo recente, Coibion e coautores concluíram que, entre 1980 e 2008, a noção de inflação como imposto regressivo foi colocada em segundo plano por outros benefícios da política monetária de acomodação — resultado que, de certo modo, bate de frente com a conclusão do estudo do casal Romer.
“A política monetária contracionista sistematicamente aumenta a desigualdade nos ganhos com trabalho, na renda total, no consumo e nos gastos totais”, escreveram Coibion e seus parceiros.
Um episódio notável ocorreu no início dos anos 1980, durante o ciclo de aperto encabeçado pelo então presidente do Fed, Paul Volcker. A
o tentar reduzir a inflação elevada, as medidas resultaram em recessão severa e foram responsáveis por “muito da dinâmica de desigualdade” daquela década.