Economia

Esquerdistas iniciam árdua busca por coalizão na Grécia

Alexis Tsipras disse que, para ele, é "uma grande responsabilidade" tentar formar um novo Executivo

Nesta quarta-feira, Tsipras terá reuniões com representantes dos sindicatos, movimentos sociais e associações empresariais (karpidis/ Wikimedia Commons)

Nesta quarta-feira, Tsipras terá reuniões com representantes dos sindicatos, movimentos sociais e associações empresariais (karpidis/ Wikimedia Commons)

DR

Da Redação

Publicado em 17 de junho de 2012 às 10h02.

Atenas - A Coalizão da Esquerda Radical (Syriza), segundo maior partido político na atual composição do Parlamento da Grécia após as eleições de domingo passado, recebeu nesta terça-feira da Presidência da República a incumbência de buscar uma coalizão de governo, mas a aritmética parlamentar não o favorece.

O líder do Syriza, Alexis Tsipras, ganhador moral do pleito por quadruplicar seus resultados de 2009 e ficar a 2% da vitória, disse que, para ele, é "uma grande responsabilidade" tentar formar um novo Executivo.

Por isso, ele já avisou que utilizará o prazo máximo de três dias que tem por lei para buscar alianças, ao contrário dos conservadores da Nova Democracia (ND), que nesta segunda-feira demoraram pouco mais de cinco horas para anunciar o fracasso em sua tentativa de formar um governo de união nacional.

Ainda assim, os esquerdistas reconheceram que não será fácil chegar a um acordo.

O novo Parlamento, de 300 cadeiras, está dominado, em ordem decrescente, pelos partidos Nova Democracia (108 deputados, 50 de graça por ser a legenda mais votada), Syriza (52), social-democrata Pasok (41), nacionalista Gregos Independentes (33), Partido Comunista (26), neonazista Amanhecer Dourado (21) e centro-esquerda Dimar (19).

"Poderia ser mais fácil a formação de um governo de esquerda se a lei eleitoral não oferecesse um presente de 50 cadeiras ao primeiro partido", contestou Tsipras.

O líder esquerdista divulgou os cinco pontos de seu programa de governo, em caso de pactos:.

- O cancelamento das medidas do memorando assinado entre Grécia e União Europeia (UE) para a concessão do segundo empréstimo de resgate internacional, que incluíam cortes de salários e aposentadorias.

- O cancelamento de todas as medidas que prejudiquem os direitos dos trabalhadores, como a abolição dos contratos de trabalho coletivos, também contemplada pelo memorando.


- A abolição da imunidade parlamentar dos deputados, assim como a reforma da lei eleitoral para que seja mais proporcional.

- Uma investigação sobre os bancos gregos, a publicação dos relatórios secretos da companhia BlackRock sobre estes e o reforço do controle do Estado sobre o sistema bancário.

- A criação de um comitê internacional que audite a dívida grega para averiguar qual pode ser considerada ilegítima - e portanto pode não ser abonada segundo as normativas internacionais - e a declaração de uma moratória de pagamentos até que a auditoria termine.

Em seu primeiro dia de reuniões, o Syriza recebeu o aval do Dimar, cujo líder, Fotis Kouvelis, disse que seu partido "contribuirá para a formação de um governo e para que o país evite novas eleições".

"Eu disse a Tsipras que ele pode avançar na formação de um governo de esquerda com o apoio do Dimar e com ampla legitimidade parlamentar", acrescentou Kuvelis, que destacou a permanência da Grécia na zona do euro e na UE como prioridades de seu governo.

Tsipras também se reuniu com outros dois partidos progressistas que não obtiveram representação parlamentar, mas que deram seu apoio para que o Syriza forme um governo de esquerda.

Por outro lado, o Partido Comunista (26 deputados), uma formação pró-soviética que exige a saída de Atenas da UE e da Otan, rejeitou pactuar com outras forças progressistas às quais acusa de querer promover o capitalismo.

Nesta quarta-feira, Tsipras terá reuniões com representantes dos sindicatos, movimentos sociais e associações empresariais.

A rodada de contatos políticos seguirá na quinta-feira, com reuniões com os social-democratas do Pasok, os nacionalistas Gregos Independentes e os conservadores da Nova Democracia. No entanto, o líder deste último partido, Antonis Samaras, já anunciou nesta terça-feira que não aceitará se unir ao Syriza porque, segundo ele, "a única coisa que (Tsipras) deseja é formar uma frente de esquerda antieuropeia".

Segundo o jornal "Kathimerini", os encontros de Tsipras buscam reforçar a postura do Syriza para uma possível nova eleição, caso não seja possível obter um pacto para formar um Executivo com maioria absoluta.

Em meio às dúvidas políticas e econômicas após os resultados eleitorais de domingo, sem maiorias claras para a futura governabilidade do país, a Bolsa de Valores de Atenas registrou um nível mínimo em quase 20 anos, ao encadear dois pregões consecutivos de grandes perdas (6,76% na segunda-feira e 3,62% nesta terça).

A incerteza também provocou efeitos no leilão de 1,3 bilhão de euros em títulos do Tesouro nacional com vencimento em seis meses, pelos quais terá de pagar juros de 4,69%, frente aos 4,55% avaliados em abril.

Acompanhe tudo sobre:Alexis TsiprasCrise gregaEuropaGréciaNova Democracia (Grécia)PiigsPolíticaSyriza

Mais de Economia

Corte de despesas: reunião de Lula e ministros termina sem anúncio de medidas

Minerais críticos do Brasil para a transição energética no mundo

Consultoria da Câmara sugere medidas para governo economizar mais de R$ 1 tri em dez anos

Haddad: governo deve estar pronto para anunciar cortes de gastos nesta semana