Economia

Espanhol Rajoy tenta se firmar após começo turbulento

Ações de empresas espanholas perderam quase um quarto do seu valor, e o Partido Popular, do primeiro-ministro da Espanha está em queda livre nas pesquisas

Rajoy e Hollande, da França: muitos duvidam que Rajoy consiga influenciar seus pares da União Europeia (Getty Images)

Rajoy e Hollande, da França: muitos duvidam que Rajoy consiga influenciar seus pares da União Europeia (Getty Images)

DR

Da Redação

Publicado em 8 de junho de 2012 às 10h55.

Madri - Mariano Rajoy achava que poderia tirar a Espanha da crise econômica mantendo-se próximo da colega conservadora Angela Merkel.

Mas, após seis meses da eleição dele como primeiro-ministro da Espanha, a governante alemã o frustrou com sua demora em agir. Os bancos espanhóis estão precisando de um resgate internacional, os gastos públicos estão quase insustentáveis, as ações de empresas espanholas perderam quase um quarto do seu valor, e o Partido Popular, de Rajoy, está em queda livre nas pesquisas.

A reação de Rajoy foi abandonar a tradicional discrição associada aos galegos e exigir de forma mais firme regras fiscais comuns para a zona do euro, além de defender um resgate bancário que pouparia seu governo do constrangimento de receber ordens do exterior.

Mas muitos duvidam que Rajoy consiga influenciar seus pares da União Europeia.

"Ser um discípulo de Merkel não funcionou, e agora o governo está tentando ditar a pauta na Europa pela primeira vez", disse sob anonimato à Reuters um analista independente de Madri que já deu assessoria ao PP.

Ditar a pauta, porém, será difícil para Rajoy, cujo governo tem passado uma imagem de hesitação, com atritos públicos entre dois ministros da equipe econômica. "Com quem Rajoy vai se aliar? Não está claro. Ele não pode comandar uma coalizão de derrotados", disse o analista.

Fontes da Alemanha e da União Europeia disseram à Reuters que a Espanha deve pedir ajuda europeia aos bancos do país no fim de semana para evitar a piora dos problemas no mercado, tornando-se o quarto e maior país a buscar assistência desde que a crise da dívida da zona do euro começou.

Rajoy, um advogado de 57 anos, passou oito anos como líder da oposição, até que o estouro da bolha imobiliária espanhola e o desespero econômico jogassem o eleitorado contra o premiê socialista José Luis Zapatero.

O atual premiê não fala bem inglês e não tinha experiência prévia em política externa. Seu primeiro instinto diante do agravamento da crise foi buscar o que parecia uma aliança natural com Merkel, e apostar no sucesso das suas reformas econômicas liberais e das medidas de austeridade para recuperar a confiança dos mercados e satisfazer a UE.


Mas Rajoy "bateu num muro" com Merkel, dizem autoridades espanholas. Ele se frustrou ao saber que, apesar de adotar as medidas de austeridade preconizadas por Berlim, o governo alemão não garantiria apoio financeiro para reduzir os custos da dívida espanhola.

Em março, Rajoy perdeu as estribeiras e ameaçou relaxar as metas de déficit fiscal do país, mas em geral ele evitava bater de frente com Merkel por questões como a emissão de "eurobonds", títulos com garantia da UE, cuja emissão a Alemanha se opõe.

Ele preferia usar uma linguagem cifrada, dizendo que a Espanha vem "fazendo a lição de casa", e que a Europa deveria fazer algo em resposta -- mas sem dizer o quê. Essa tarefa ele deixava aos líderes da França e Itália, que insistem na emissão dos títulos europeus, por exemplo.

Agora, porém, os mercados financeiros parecem estar fazendo marcação mais cerrada sobre a Espanha, e há negociações de emergência para que a Alemanha e a UE ajudem os bancos locais.

No sábado, Rajoy voltou a se mostrar incisivo, defendendo a criação de uma união fiscal na zona do euro. Ele disse que a Espanha cederia soberania para esse fim, mas esperava que o Banco Central Europeu tomasse medidas urgentes para domar os mercados financeiros que passaram a ver Madri com desconfiança.

"É uma melhora", disse um funcionário europeu que acompanha de perto a atuação de Rajoy, e que elogiou suas últimas declarações, antes de acrescentar: "Mas ainda não está totalmente clara qual é a sua estratégia." (Reportagem adicional de Andres Gonzalez e Tracy Rucinski)

Acompanhe tudo sobre:CâmbioCrise econômicaEspanhaEuroEuropaMoedasPiigs

Mais de Economia

Chinesa GWM diz a Lula que fábrica em SP vai produzir de 30 mil a 45 mil carros por ano

Consumo na América Latina crescerá em 2025, mas será mais seletivo, diz Ipsos

Fed busca ajustes 'graduais' nas futuras decisões sobre juros