Combustíveis: projetos em tramitação no Senado buscam reduzir os preços nas bombas (Ricardo Moraes/Reuters)
Fabiane Stefano
Publicado em 26 de março de 2021 às 17h58.
Última atualização em 26 de março de 2021 às 18h40.
Divulgado nesta quarta-feira, o número do IPCA-15, índice que antecipa a inflação do mês, fechou em alta de 0,93%, puxado principalmente pelo preço dos combustíveis — em especial a gasolina, que subiu mais de 11% entre fevereiro e março. Pela atual política de preços da Petrobras, as variações no preço da commodity no mercado internacional são sentidas rapidamente pelo consumidor final. E só neste ano, o barril de petróleo saltou da faixa dos 50 dólares, em janeiro, para 70 dólares em março. Mas até quando os combustíveis continuarão subindo?
"Apesar do processo de retração por conta da pandemia, alguns países, como a China, ainda crescem, e isso pressiona o mercado de petróleo físico", conta o economista Antônio Corrêa de Lacerda, presidente do Conselho Federal de Economia. Ele explica que o petróleo é também um ativo, que sofre influências do mercado futuro e da desvalorização cambial, que afetou o real mais que qualquer outra moeda em 2020.
"Por essas duas variáveis em alta [o próprio preço do petróleo e o dólar], a tendência é que os combustíveis pelo menos continuem no patamar atual de preços. Ou que subam ainda mais", afirmou Lacerda.
O especialista explica que a flutuação de preços dos combustíveis não é uma questão exclusiva do Brasil. Muitos países enfrentam essa mesma problemática, e cada um a resolve da maneira que julga mais adequada para suas condições. Alguns criam uma câmara de compensação, outros apostam em amortecedores para evitar a desvalorização cambial, regulam os preços através de estoques ou de uma média. Mas, no Brasil, a prática é repassar ao mercado consumidor. Pelo menos por enquanto.
"Essa política, de paridade com o mercado internacional, é bem vista pelos investidores, mas onera muito o consumidor brasileiro", explica Lacerda, destacando que foi Roberto Castelo Branco, presidente da estatal, que instituiu a política atual de preços. Castelo Branco deixa o cargo em abril, dando lugar ao general Joaquim Luna e Silva, indicado pelo presidente Jair Bolsonaro.
Com um militar, ligado ao governo, na mais alta cadeira da estatal e as recentes ameaças intervencionistas do Planalto, a chance de os preços dos combustíveis caírem na canetada, como acontecia no passado, volta à tona. A estratégia deixaria os consumidores felizes por diminuir os preços nas bombas, reduzindo a pressão inflacionária. Mas, certamente, também afetaria o desempenho das ações da Petrobras.
"Se o novo presidente vai alterar a política de preços ou não... Isso ainda não sabemos", conclui Lacerda.