Para investir no exterior, basta abrir uma conta global em uma corretora de valores e fazer as transações pelo aplicativo.
EXAME Solutions
Publicado em 10 de maio de 2024 às 10h30.
Concentrar investimentos em ativos domésticos, ou seja, dentro de um país, de forma desproporcional, é o que o mercado chama de viés doméstico.
Esse comportamento acaba não considerando o risco e retorno dos ativos, e leva em conta, principalmente, a sensação de conhecer melhor a realidade nacional, explica Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad, fintech que oferece aos brasileiros uma conta global e possibilidade de investir no exterior.
Então, de forma bem objetiva, o viés doméstico pode trazer uma sensação confortável para o investidor, porque todo os seus investimentos estão em seu país de origem. Mas a verdade é que isso aumenta o risco da carteira.
Quando o viés doméstico pauta os investimentos, o risco fica concentrado, explica Igliori. “Isso pode ser prejudicial em momentos de eventos domésticos negativos para o mercado ou de volatilidade, como anos eleitorais e momentos de incerteza em relação ao fiscal ou à inflação brasileira, por exemplo”, afirma.
Nesse sentido, ter parte do patrimônio em dólares - seja diretamente na moeda americana ou através de investimentos no exterior - significa expor seu dinheiro à divisa que é buscada como porto-seguro em momentos de estresse financeiro.
Igliori pontua, ainda, que o potencial de perda de oportunidades com o viés doméstico é significativo. Isso porque o mercado de economias emergentes, como a do Brasil, tende a não apresentar tanta robustez quanto economias desenvolvidas, além de não oferecer exposição aos mesmos setores.
“Para entender melhor o que está em jogo, vale observar o que orienta os maiores investidores do planeta”, afirma o especialista. “Em geral, economias mais robustas em PIB tendem a receber maiores recursos de gestores de recursos profissionais. O volume financeiro negociado em cada país também tende a ser considerado, assim como rentabilidade histórica, ajustada para os níveis de risco.”
Normalmente, Estados Unidos, Reino Unido e a chamada “zona do euro” concentram boa parte dos recursos. Igliori exemplifica: “no índice MSCI ACWI IMI, que é um dos principais indicadores de ações globais, empresas de capital aberto nos Estados Unidos representam cerca de 63%, enquanto a bolsa brasileira, apenas 0,55%”.
Se há riscos e não é a melhor opção para uma carteira de investimento diversificada, por que alguns investidores adotam o viés doméstico? Parte desse movimento pode ser explicado pelo medo do desconhecido e a sensação de que a segurança está no que está mais próximo, explica Igliori.
“Outro fator é o hábito, pois, por muito tempo, o acesso ao mercado de capitais global era restrito a grupos pequenos de brasileiros com grande volume de recursos financeiros”, diz. “Essa realidade se alterou dramaticamente e hoje qualquer investidor tem acesso aos principais ativos financeiros negociados nas maiores economias do mundo.”
Os investidores devem olhar para os investimentos de maneira pragmática, aconselha o economista-chefe da Nomad. “É como buscar as melhores oportunidades na compra de um eletrônico, por exemplo: importante pesquisar o que há de melhor e mais compatível com a sua necessidade no mercado.”
Para quem tem medo de investir no exterior, vale lembrar alguns pontos que o mercado americano apresenta o benefício da estabilidade do dólar, e existem mecanismos de proteção, como o regulador local SEC (U.S. Securities and Exchange Commission), similar à CVM (Comissão de Valores Mobiliários) no Brasil, e a FINRA (Autoridade regulatória da Indústria Financeira Americana).
“Na Nomad, os ativos também contam com a cobertura do SIPC (Securities Investor Protection Corporation), entidade que visa proteger investidores americanos. A conta é assegurada em até US$ 500 mil”, detalha Igliori.
Além disso, a diversificação é a melhor forma de se expor menos a riscos concentrados e de capturar oportunidades. “Os mercados brasileiros não são apenas muito menores em tamanho, mas também bem mais concentrados em termos de setores de atividades”, explica o especialista.
“Buscando ativos internacionalmente, você amplia suas possibilidades de retorno, por conseguir ter acesso a ativos que estão na fronteira de inovação e crescimento da economia global.” Tópicos como inteligência artificial ou biotecnologia são menos presentes na economia brasileira. No mercado norte-americano, é possível, por exemplo, ter no portfólio grandes empresas de tecnologia, como as “sete magníficas” que são negociadas diretamente nos Estados Unidos.
O viés doméstico nos investimentos é um fenômeno global, mas o peso do fenômeno no portfólio varia muito. No Reino Unido, por exemplo, os investidores têm aproximadamente 25% do portfólio de ações em empresas domésticas e 18% no mercado de dívida doméstico. O PIB do Reino Unido corresponde a apenas 3% do total global e o mercado de dívida e bolsa, 4%.
No Brasil, investe-se, em média, mais de 99% do patrimônio domesticamente, segundo estudo do J.P.Morgan baseado em dados do Bank for International Settlements (BIS), enquanto o mercado de renda fixa representa 1,5% do global e o de renda variável, 0,8%, conforme o mesmo estudo.
“Considerando a concentração setorial do mercado doméstico - mais de 50% da bolsa brasileira está em dois setores: bancos e commodities - e todos os dados já mencionados sobre as oportunidades globais, acreditamos que a parcela da carteira em investimentos globais deve ser relevante”, afirma Igliori. “Mas o percentual dependerá de alguns fatores, como apetite a risco, horizonte de investimento, necessidades, efeitos do dólar no seu dia a dia, objetivos, entre outros.”
Para começar a investir no exterior, o investidor brasileiro precisa abrir uma conta em uma corretora de valores. É essa empresa que vai enviar o dinheiro para o exterior, convertendo-o de reais para dólares.
Por meio dessa conta global o investidor tem acesso a diferentes tipos de investimentos. Alguns deles são:
“Portanto, para saber como investir nos Estados Unidos morando no Brasil, basta fazer a sua conta na corretora e enviar o dinheiro”, explica o economista-chefe da Nomad.
Ele recomenda, ainda, fazer o teste de “suitability” para conhecer seu perfil de investidor e, assim, escolher os ativos em que deseja aplicar, de acordo com o resultado.
Quem está planejando investir no exterior pela primeira vez, deve ter atenção a alguns cuidados necessários para garantir as melhores escolhas para o perfil do investidor. “Como em qualquer outro investimento, a escolha dos ativos para compor sua carteira precisa ser feita com muito cuidado e de forma minuciosa”, explica Igliori. “A começar pelo entendimento das regras e regulamento sobre investimentos do país que está investido.”
Cada território tem suas próprias regras e um sistema fiscal próprio. Então, ao investir no exterior, acompanhar o mercado internacional e entender fatores que podem influenciar seus investimentos é crucial.
Alguns outros cuidados que você deve ter ao investir no exterior são: