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Empresas entram em sociedade para ser majoritárias

Quando o assunto é fusões e aquisições, as companhias têm preferido adquirir o controle majoritário, ignorando a possibilidade de entrar como sócio minoritário

EXAME.com (EXAME.com)
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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h46.

A compra do controle majoritário ou total de uma companhia é a transação preferida entre as empresas quando o assunto é fusão ou aquisição. As companhias têm ignorado alternativas como a participação minoritária em determinado negócio ou joint-ventures. Nos últimos anos, o interesse dos investidores por controlar as empresas nas quais aplicam capital está crescendo. Segundo estudo da Pricewaterhousecoopers (PwC), o controle ou a aquisição total respondeu, em 2001, por 48% dos negócios de fusões e aquisições efetuados no Brasil. Em 2003, o índice já havia subido para 55%. A tendência continuou no primeiro semestre deste ano, quando a porcentagem alcançou 58%.

Entre janeiro e junho, a PwC registrou 147 contratos de aquisição ou fusão no país, 9,25% menos que os 162 de igual período de 2003. Apesar da queda do volume geral de negócios, o número de operações envolvendo o controle ou a aquisição total de uma empresa subiu de 79 para 86 - um avanço de 8,8%. A compra de participações minoritárias caiu de 41 para 25. As joint-ventures baixaram de 32 para 23.

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Na lista de companhias que passaram a controlar outras, nos primeiros seis meses do ano, estão, entre outros, o Unibanco, que comprou 100% da administradora de cartões de crédito Hipercard; a Ambev, que adquiriu 51% da engarrafadora dominicana Embodom; a Companhia Siderúrgica Nacional, que assumiu 100% da Galvasud, ao comprar a participação de 49% da alemã Thyssenkrupp; e o Bradesco, que arrematou 89,95% do Banco do Estado do Maranhão em leilão de privatização.

"Operação mais profunda"

Para o sócio-diretor da PwC e responsável pela área de fusões e aquisições da consultoria no Brasil, Raul Beer, o principal motivo para a predominância das operações de controle ou aquisição total é a força do vínculo que se estabelece entre as empresas. "A aquisição é uma operação mais profunda do que uma participação minoritária ou uma aliança estratégica. A aliança é um namoro; a aquisição é um casamento", diz Beer.

Por este raciocínio, as empresas buscam alianças quando precisam testar o mercado local e têm dúvidas sobre o resultado de seus investimentos. Quando uma companhia decide adquirir ou, pelo menos, controlar outra, já está certa do retorno de seu capital. No meio do caminho, está a compra de participações minoritárias, vista também como um meio de avaliar a empresa na qual se está interessado ou um caminho até que as condições se tornem propícias para assumir o controle do negócio.

A consolidação de alguns setores produtivos também pesou nas estatísticas da PwC. Entre 2001 e o primeiro semestre de 2004, alguns ramos econômicos, como o bancário, assistiram a diversas fusões e aquisições, com as grandes empresas absorvendo as menores. "A consolidação de um setor só é viável com o controle total de uma empresa pela outra, porque o princípio da aquisição é a busca de sinergias", afirma Beer. Essa busca sempre é mais difícil, quando dois ou mais sócios dividem o comando de uma companhia.

Transparência

Para o professor Vladimir Rezende, da Brazilian Business School, a predileção por controlar sozinho o novo negócio é também um reflexo da falta de desenvolvimento da governança corporativa no país. "As empresas têm receio de participar de um negócio sobre o qual não terão controle", diz. Segundo Rezende, em alguns casos, a má gestão dos majoritários acaba desvalorizando a empresa e o investidor minoritário tem seu capital depreciado.

A situação seria mais preocupante para os estrangeiros, que, além de tudo, precisam lidar com as incertezas da legislação brasileira. "Por isso, as empresas pensam que, se é para correr riscos, é melhor fazê-lo sozinhas", afirma Rezende.

Beer, da PwC, concorda parcialmente com a observação. Conforme ele, a cultura associativa dos estrangeiros é maior que a dos brasileiros. A principal dificuldade de investidores de outros países é a fraqueza do mercado de capitais do Brasil. Em outros países, ao adquirir uma parcela minoritária de uma empresa, o investidor conta com a opção de vender suas ações na bolsa de valores, caso queira sair do negócio. "No Brasil, isso é mais difícil, e o investidor acaba obrigado a negociar com o acionista majoritário", diz Beer. Isso restringiria a margem de negociação entre as empresas.

Estrangeiros

A PwC também detectou um aumento da presença dos investidores estrangeiros nas compras de controle ou de participação minoritária de empresas. O peso dos estrangeiros caiu seguidamente entre 1999, quando representaram 67% dos negócios, e 2003, quando ficaram com 32% dos contratos. No primeiro semestre deste ano, porém, sua participação voltou a crescer, ficando em 37%.

"Há uma maior disposição dos outros países em fazer negócios com o Brasil", diz Beer. Segundo o sócio-diretor da PwC, até o ano passado, a preocupação dos potenciais investidores era "qualitativa", isto é, que tipo de governo assumiria o país, qual seria a sua política econômica, etc. Agora, é "quantitativa": quanto a economia crescerá e por quanto tempo.

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