Paulo Guedes, ministro da Economia, no encontro do Fórum Econômico Mundial em Davos 21/01/2020 (WEF/Reprodução)
João Pedro Caleiro
Publicado em 21 de janeiro de 2020 às 12h35.
Última atualização em 21 de janeiro de 2020 às 18h13.
São Paulo - Em participação na edição 2020 do Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, o ministro da Economia, Paulo Guedes, destacou cortes de despesas, citou o congelamento de salários do funcionalismo público e disse que o país deve crescer 1 ponto percentual a mais por ano.
As declarações foram dadas nesta terça-feira (21) no painel "Panorama Estratégico: América Latina", moderado por Alicia Bárcena Ibarra, secretária-executiva da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe).
Guedes citou a reforma da Previdência e a diminuição dos gastos com o serviço da dívida como as outras duas maiores medidas de controle de despesas, ambas já implementadas no ano passado. Segundo Guedes, o governo reduziu em 100 bilhões de reais o serviço da dívida de 2019 para 2020.
Ele também repetiu ideias recorrentes em seus discursos, como a de que o Brasil mudou seu mix de crescimento: quando antes era relaxado na política fiscal e duro na política monetária, hoje é o contrário.
Outra ideia repetida pelo ministro é de que a economia do Brasil, por seu tamanho e lentidão, é como uma "baleia arpoada" e que o governo vem tirando os arpões para que ela volte a se movimentar.
A previsão de Guedes é que com isso, o país pode ganhar um ponto percentual a mais de crescimento por ano. Isso levaria a alta do PIB (Produto Interno Bruto) da faixa de 1,1%, registrada em 2019, para 2,5% já em 2020, 3% no ano que vem e 4% em 2022.
O ministro reforçou que o congelamento de salários do funcionalismo público, contido na Proposta de Emenda à Constituição (PEC) Emergencial, é uma das maiores medidas do governo para conter despesas.
Sua previsão é que com a iniciativa perdurando por um ano ou dois, a situação fiscal será controlada. A PEC Emergencial ainda está em estágio inicial de tramitação no Congresso.
Após uma questão de uma brasileira da plateia, direcionada para todos os debatedores, Guedes falou sobre desigualdade, tema com pouco destaque na agenda do governo Bolsonaro.
Ele disse que a maior parte da desigualdade no país está ligada à desigualdade de oportunidades, especialmente na área de educação, enquanto a segunda fonte são privilégios.
Ele citou o exemplo da redução maciça da pobreza em lugares como Índia e China como prova de que os mercados e integração são um grande instrumento e que não foi usado pelo Brasil.
Mais cedo, em um outro painel, o ministro havia dito que o país também estava atrasado e fez uma ligação entre pobreza e degradação do meio ambiente, uma das áreas com piores resultados e reputação internacional do governo Bolsonaro.
O presidente decidiu não participar do evento neste ano após uma passagem criticada no ano passado. O governador João Doria e o apresentador Luciano Huck também estão em Davos.
Guillermo Nielsen, presidente da petrolífera argentina YPF e assessor econômico do presidente Alberto Fernandéz, também participou do painel, onde comentou a crise da dívida no seu país.
"Todos os argentinos querem pagar [a dívida], mas precisamos crescer", disse ele, preocupado com a dívida com credores privados, mas principalmente com a "situação mais complexa" do FMI.
"É um desafio para a Argentina, mas especialmente para Kristalina Georgieva (a nova diretora-gerente do FMI), com quem ainda não negociamos, mas sabemos que ela é uma profissional, uma economista muito prática que gosta de fazer suas contas por si mesma", disse ele.
Também participaram do painel Angel Gurría, secretário-geral da OCDE, e Graciela Márquez Colín, ministra da Economia do México no governo de Andrés Manuel Lopez Obrador.
Graciela disse que o governo mexicano, da esquerda populista, vai oferecer ao mundo não salários pequenos, e sim mais produtividade, e focar não apenas na pobreza, mas também na desigualdade.
Veja o painel na íntegra (em inglês):
(Com Marcela Ayres, da Reuters)