Economia

Elites de Davos vão às trincheiras em defesa da ordem mundial

Multilateralismo e globalização foram defendidas por líderes como Angela Merkel, da Alemanha, Shinzo Abe, do Japão, e o vice-presidente chinês, Wang Qishan

Homem armado em hotel em Davos antes do Fórum Econômico Mundial de 2019 em Davos, na Suiça  (Simon Dawson/Bloomberg)

Homem armado em hotel em Davos antes do Fórum Econômico Mundial de 2019 em Davos, na Suiça (Simon Dawson/Bloomberg)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 26 de janeiro de 2019 às 08h00.

Última atualização em 26 de janeiro de 2019 às 08h00.

A agenda em Davos pode ser abrangente, mas há uma clara prioridade: defender a ordem global.

Em discursos no encontro anual do Fórum Econômico Mundial, na quarta-feira, a chanceler alemã, Angela Merkel, o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, e o vice-presidente chinês, Wang Qishan, falaram vigorosamente em prol da globalização e do multilateralismo e pediram o fim das guerras comerciais deflagradas pelo presidente americano, Donald Trump.

“Colocar a culpa pelos seus próprios problemas nos outros não vai resolver os problemas”, afirmou Wang em discurso no qual colocou a globalização como tendência “inevitável’’ e alertou que a ordem internacional enfrenta “sérios desafios” na forma de “unilateralismo, protecionismo e populismo”.

Ele não citou Trump ou os EUA, mas seus alvos estavam evidentes. Ele chegou a pedir a rejeição de “práticas em que o forte intimida o fraco e a autoproclamada supremacia”, uma alusão mal disfarçada ao lema “America First’’, que norteia a política externa de Trump.

Merkel usou seu tempo para convocar a união dos líderes para reformar o sistema internacional, pedindo que Trump aplicasse a arte de fazer concessões que cultivou durante sua carreira no setor imobiliário.

“Uma arquitetura global só vai funcionar se formos capazes de fazer concessões”, disse a chanceler.

Abe, que está prestes a embarcar em negociações comerciais potencialmente tensas com o governo Trump e sofre ameaça de novas tarifas sobre a importação de veículos pelos EUA, declarou em Davos que seu governo apoia “aprimorar a ordem internacional livre, aberta e baseada em regras”.

“Eu chamo todos vocês, senhoras e senhores, para reconstruir a confiança no sistema de comércio internacional”, disse ele.

Apesar do foco em Trump, há sinais de crescente ceticismo em relação à China, que fez pouco para se firmar como defensora da ordem global desde que o presidente Xi Jinping usou sua visita a Davos em 2017 para tentar se colocar nessa posição.

Em uma cutucada em Pequim, Abe discursou em favor de mudanças na Organização Mundial do Comércio, especificamente nas regras sobre subsídios. O Japão vem trabalhando com União Europeia e EUA em um plano para atualizar as regras para subsídios industriais.

Muitos países creem que a China usou esses subsídios injustamente nas últimas décadas para erguer sua economia e introduzir na economia global um novo exército de empresas gigantescas com apoio estatal.

Em um jantar na terça-feira com a presença de Xiao Yaqing, responsável pela Comissão de Supervisão e Administração de Ativos, executivos de mais de 20 empresas globais — como HSBC Holdings, JPMorgan Chase e Siemens — questionaram o tratamento de propriedade intelectual e o plano Made in China 2025, que visa colocar o país em primeiro lugar em setores como o de robótica.

Essas questões são centrais nas queixas do governo Trump, que aplicou tarifas sobre aproximadamente US$ 250 bilhões em importações chinesas. Os temas também estarão no topo da lista nas negociações entre os dois lados na semana que vem, em Washington.

Na quarta-feira, Xiao confirmou em entrevista que os executivos “expressaram suas preocupações em relação a algumas incertezas’’ e incluiu entre elas a desaceleração da economia chinesa.

Participação no PIB mundial de países com governos autoritários (laranja), democracias fracas (branco) e democracias populistas (azul). O salto se dá com a eleição de Trump

Participação no PIB do G-20, mais a Espanha, de países com governos autoritários (laranja), democracias fracas (branco) e democracias populistas (azul). O salto se dá com a eleição de Trump (Gráfico/Bloomberg)

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