Eleição de Trump elevou custo financeiro para países emergentes, afirma Galípolo
Em evento do G20, diretor do BC observa que política econômica do futuro governo americano deve impedir queda maior dos juros nos EUA, o que afetará todas as economias
Agência de notícias
Publicado em 15 de novembro de 2024 às 18h24.
O diretor de Política Monetária do Banco Central e indicado do presidente Lula para o comando da autarquia, Gabriel Galípolo, afirmou nesta sexta-feira, 15, que a vitória de Donald Trump nas eleições americanas fortaleceu o dólar e vem afetando as economias de vários países, especialmente os emergentes.
No painel G20 Talks, no evento Cria G20, no Rio, Galípolo explicou que a promessa de Trump de elevar tarifas de importação assim que assumir levará a um aumento generalizado de preços, alimentando a inflação. Com isso, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) não deve cortar os juros tanto quanto esperado.
Isso, por sua vez, fez com que as taxas de juros de curto e longo prazo nos EUA subisse, com a perspectiva de que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) não corte a taxa básica da economia tanto quanto se imaginava. Como reflexo, as taxas de juros de curto e longo prazo dos títulos americanos, os Treasuries, subiram.
"Essa elevação nas taxas de juros americanas provoca o que para o resto do mundo? Geralmente, os juros que o mundo cobra para todos os outros países são os juros americanos (...). Logo, ao ter juros americanos mais altos, foi imposto a todos os outros países um custo financeiro mais alto para conseguir se financiar", afirmou Galípolo.
E completou: "Pelo lado financeiro, isso está penalizando os países emergentes e de baixa renda, em especial países latino-americanos e africanos".
Galípolo chamou isso de efeito Trump trade. O economista explicou que as propostas de deportação em massa de imigrantes e adoção de tarifas para produtos importação podem elevar a inflação do país.
O diretor do BC falou ainda sobre a formação de uma nova arquitetura financeira global, a qual agregaria nações de economias menores no debate sobre a condução da economia mundial, a fim de diminuir sua dependência de outros países mais desenvolvidos.
Galípolo relatou como o aumento dos juros em países ricos após a pandemia — resultado do endividamento e consequente aumento da inflação que vivenciaram durante o período — tem afetado os emergentes.
"Se eu tenho um estoque de dívida maior e juros maiores, o que acaba acontecendo (...) é aí que eu preciso cada vez mais de dinheiro para conseguir rolar essa dívida. Isso fez com que as economias avançadas tivessem que sugar mais dinheiro do mercado global para conseguir rolar e pagar sua própria dívida", pontuou.
Para Galípolo, o arranjo financeiro global visto atualmente — e que se intensificou com a imposição do dólar como moeda internacional — está “penalizando, de novo, aqueles países que historicamente já foram penalizados e com os quais a Humanidade tem uma dívida histórica”, citando especialmente nações da América Latina e do continente africano.
O economista disse também que há muito questionamento sobre a globalização hoje em dia, em especial na maneira em que isso afeta os países emergentes e subdesenvolvidos. Na visão dele, a resposta não está em desglobalizar as economias, mas desenvolver a participação destas outras nações dentro do debate monetário e comercial internacional.
"Reglobalizar. É uma ideia que não significa não ser crítico à globalização que ocorreu e não (perceber) que essa globalização ofereceu problemas", disse Galípolo. "Mas se a globalização econômica teve bastante sucesso, faltou inserir critérios de gestão nesse processo naquilo que se trata de sustentabilidade social, de justiça social e de sustentabilidade ambiental", concluiu.