Economia

Argentina deve encolher em 2014, diz chefe da Cepal

Segundo comissão da ONU, economia do país muito provavelmente encolherá neste ano pela primeira vez em mais de uma década


	Manifestação em Buenos Aires contra a justiça americana em disputa contra a Argentina
 (Enrique Marcarian/Reuters)

Manifestação em Buenos Aires contra a justiça americana em disputa contra a Argentina (Enrique Marcarian/Reuters)

DR

Da Redação

Publicado em 4 de agosto de 2014 às 20h54.

Santiago - A economia da Argentina muito provavelmente encolherá neste ano pela primeira vez em mais de uma década, pressionada por um consumo menor, inflação elevada e os efeitos do fracasso das negociações entre o governo e seus credores sobre a dívida, disse nesta segunda-feira a secretária-executiva da Cepal, Alicia Bárcena.

A chefe da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), organismo dependente da Organização das Nações Unidas (ONU), afirmou à Reuters que a Argentina tomou medidas, como elevar as taxas de juros e conter o agregado monetário, para desligar os "motores do consumo".

Além disso, também há o menor dinamismo da sua indústria afetada pela queda da demanda do Brasil, um dos seus principais consumidores.

A última vez que o Produto Interno Bruto (PIB) argentino caiu foi em 2002, quando recuou 10,9 por cento, em meio a uma forte crise que levou a um calote bilionário.

Analistas consultados pela Reuters esperam que o PIB recue 1 por cento neste ano.

A Cepal já reduziu a sua estimativa de crescimento do PIB da Argentina para 0,2 por cento em 2014, ante estimativa inicial de alta de 1 por cento, mas "nossa projeção não é adequada.

Nós a fizemos em julho. Realmente a situação hoje em dia é completamente diferente", disse Bárcena.

"Nos acreditamos que o mais provável é que a Argentina tenha crescimento negativo em 2014", acrescentou. A Cepal projeta crescimento da América Latina no ano de 2,2 por cento.

Default ou Litígio

Agências de classificação de risco disseram que a Argentina entrou em default seletivo na quarta-feira passada, quando venceu o período de graça para o pagamento de um bônus, o que contribui para que a terceira economia da América Latina fique fora dos mercados internacionais de dívida.

Mas a chefe do organismo multilateral disse que a Argentina não está em default, mas enfrenta um "litígio" porque a nação "de alguma forma depositou o pagamento. O pagamento está lá, retido por um juiz. Foi o juiz que não permitiu que o pagamento fosse feito. Por isso é uma situação inédita".

"A Argentina negociou com 92 por cento. A Argentina os pagou e o que a minoria de 8 por cento está impondo são regras do jogo para todos e isso é grave do ponto de vista da arquitetura financeira internacional. Tu acreditas que vai haver apetite para renegociar dívidas soberanas depois disso? Difícil", previu Bárcena. 

A Argentina depositou no fim de junho 539 milhões de dólares nas contas, em Buenos Aires, do seu agente de pagamentos, o Bank of New York Mellon (BONY), para honrar os juros de sua dívida renegociada.

Mas o montante não chegou às mãos dos credores porque o processo de transferência foi bloqueado por um juiz de Nova York até que o país pague 1,33 bilhão de dólares aos hedge funds que pleiteiam o pagamento integral da dívida em default de 2002.

"(Isso) estabelece um mau precedente. Tem um impacto muito forte na arquitetura financeira internacional", disse Bárcena em entrevista à Reuters.

Esses fundos, conhecidos como "holdouts", são liderados pelos fundos NML e Aurelius e se negaram a participar das reestruturações de dívida da Argentina, por isso a sua vitória judicial poderia ameaçar outros esforços semelhantes desenvolvidos por nações com problemas financeiros.

A contração da economia argentina, aprofundada pelo fracasso das negociações da dívida, poderá ter um impacto comercial nos países vizinhos.

Contudo, Bárcena comentou que a América Latina não deverá "ter problemas de acesso a financiamentos porque os níveis de risco da região são relativamente baixos", além de reservas internacionais importantes.

Acompanhe tudo sobre:América LatinaArgentinaCrescimento econômicoCrise econômicaDesenvolvimento econômicoIndicadores econômicosPIB

Mais de Economia

Brasil é 'referência mundial' em regulação financeira, diz organizador de evento paralelo do G20

Governo teme “efeito cascata” no funcionalismo se Congresso aprovar PEC do BC

Banco Central estabelece regras para reuniões com agentes do mercado financeiro

Produção industrial sobe 4,1% em junho, maior alta desde julho de 2020

Mais na Exame