É preciso discutir capacidade do País de crescer no longo prazo, diz ex-secretária do Tesouro
Para a economista, é preciso discutir qual a capacidade do País de crescer no longo prazo e se isso mudou em razão de eventos recentes importantes
Agência de notícias
Publicado em 20 de agosto de 2023 às 08h53.
A ex-secretária do Tesouro Nacional e atual diretora de Macroeconomia do Banco Santander Brasil, Ana Paula Vescovi, afirmou na quinta-feira, 17, que é preciso discutir qual a capacidade do País de crescer no longo prazo e se isso mudou em razão de eventos recentes importantes. Entre esses eventos, Vescovi citou as reformas conduzidas pelo País após a crise econômica de 2014 e o aumento da abertura comercial brasileira.
"A própria mudança do perfil da dívida, da dinâmica macroeconômica. Nós tiramos o problema de restrição externa que tínhamos", emendou Ana Paula.
- Taxas de hipoteca nos EUA superam 7,16% e operam no maior nível desde 2001
- Inflação segue elevada, atividade se expandindo e desemprego segue baixo, diz Fed em ata
- Caixa altera sorteio da Mega-Sena para aumentar o prêmio; veja o que muda
- Atrasei o pagamento do meu plano de saúde. O atendimento pode ser negado?
- JD.com, um dos maiores e-commerces da China, tem aumento de 7,6% em receita no 2º trimestre
- Guerra na Ucrânia: ataque da Rússia com míssil deixa ao menos 5 mortos e 37 feridos
A economista ponderou, no entanto, que o País ainda tem uma fragilidade fiscal.
Vescovi defendeu que, além de inconcluso, o debate sobre o Produto Interno Bruto (PIB) de longo prazo está ofuscado pelo excesso de estímulos lançados desde o período de pandemia e que agora estão sendo gradualmente retirados. "Não podemos negligenciar isso."
Expectativas
O Santander Brasil projeta desaceleração do crescimento do PIB em 2024 para 1,0%. A perspectiva considera os efeitos sobre a atividade da política monetária contracionista, segundo Ana Paula Vescovi.
"O que vejo pra ano que vem é mais um fator cíclico. Ficamos mais de um ano com uma instância contracionista de política monetária visando controle da inflação", disse ela. "Nós ainda estamos no caminho de uma desinflação importante, de trazer a inflação para a meta, mas ainda não estamos convergindo para os 3,0%, que são o centro da meta de inflação."
A economista emendou que essa instância contracionista deve perdurar ainda por algum tempo, apesar do início da queda do juros.
Ela destacou que os dados do primeiro trimestre de 2023 já mostram uma queda da demanda e da absorção doméstica em uma análise excluindo os fatores exógenos ao ciclo, principalmente a supersafra, da surpresa de 1,9% de crescimento do PIB. "O que esperamos, ciclicamente falando, é que a instância contracionista chegue à atividade, e ainda tem os efeitos do carregamento estatístico."
Meta de inflação
A ex-secretária do Tesouro Nacional reiterou que foi correta a manutenção da meta de inflação em 3,0%. Ela defendeu que a magnitude do alvo não é uma questão de meta apropriada, mas sim uma questão de escolha: "qual é o nível de inflação que queremos ter enquanto País?".
A economista emendou que não vê como correto o pensamento de que o Brasil precisa ter uma inflação maior. "Isso historicamente trouxe um nível de desigualdade impressionante para o País, que é uma grande desvantagem competitiva que nós temos - sem dizer a questão de coesão e justiça social."
Ana Paula Vescovi defendeu que é preciso agora perseguir a meta. "Boa para a sociedade ela é, e é convergente com nossos pares."
Crédito
A ex-secretária do Tesouro Nacional afirmou que há espaço para o aprofundamento do crédito ampliado no Brasil, mas esse movimento depende de reformas. "Depende de colocar todos esses fundos direcionados e recursos direcionados mais à disposição de uma disputa saudável dentro do setor bancário financeiro e do mercado de capitais", disse.
Ela destacou o efeito recente de dois fatores na relação entre juros e crédito no longo prazo. O primeiro, a expectativa do controle de gastos públicos por meio de canal de reformas. "Vimos o enfrentamento de uma melhor alocação de recursos públicos na sociedade e acho que isso ajudou a baixar o custo de financiamento do Tesouro de forma estrutural. Foi um fator para o aumento do crédito no Brasil", disse. O segundo, o advento da Taxa de Longo Prazo (TLP), "que tirou parte dos subsídios cruzados de dentro do sistema de crédito".
A economista participou na quinta-feira de evento da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), em São Paulo.