É preciso colocar câmbio num patamar adequado, diz analista
"O empresário precisa ter condições de competir no exterior com uma rentabilidade adequada", diz o economista Nelson Marconi
Da Redação
Publicado em 30 de julho de 2016 às 08h54.
Um grupo de economistas que se denomina novos desenvolvimentistas enxerga no comércio internacional o caminho para o Brasil deixar de ser um país de renda média.
"O empresário precisa ter condições de competir no exterior com uma rentabilidade adequada", diz o economista Nelson Marconi. "Uma das coisas que precisam ser feitas é colocar a taxa de câmbio no patamar adequado."
Em parceria com Luiz Carlos Bresser-Pereira, ex-ministro da Fazenda, e José Luis Oreiro, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Marconi lançou nesta semana o livro Macroeconomia Desenvolvimentista - Teoria e Política Econômica do Novo Desenvolvimentismo. Críticos da atual valorização do câmbio, eles se espelham no crescimento dos países asiáticos como uma fórmula para o Brasil. A seguir trechos da entrevista.
Por que o surgimento do novo desenvolvimentismo?
De um ponto de vista histórico, o desenvolvimentismo clássico foi importante num determinado momento, mas tinha uma série de proteções. Era uma outra visão de mundo. Hoje não estamos defendendo uma estratégia protecionista.
Muito pelo contrário. Acho até, por exemplo, que as tarifas de importação podem baixar se o câmbio estiver no lugar certo. A preocupação com a responsabilidade fiscal, no passado, também era pequena.
Qual são os objetivos do livro?
O livro traz uma discussão teórica sobre políticas macroeconômicas que podem levar ao desenvolvimento de países de renda média, como é o caso do Brasil.
Há 40 anos, o País tinha uma renda per capita maior do que a maioria dos países asiáticos. Nesse período, perdemos o bonde e vários deles passaram à nossa frente. A política macroeconômica tem determinadas características para viabilizar o desenvolvimento.
Quais seriam essas políticas?
A gente começa o livro contando que o processo de desenvolvimento é um processo que chamamos de sofisticação da estrutura de produtividade. Ou seja, direcionar a produção para os setores que geram bens com maior valor adicionado per capita. E aí não é só a indústria, mas é todo o setor de serviços modernos que está interligado com a indústria.
Pode vir junto também a cadeia que está no agronegócio, pode vir a cadeia do petróleo, mas todos, de certa forma, estão ligados à indústria. O processo de desenvolvimento envolve o direcionamento para esses setores que geram maior valor.
Como um país deixa esse quadro de renda média?
São duas possibilidades. Ou o país faz isso por meio do gasto público ou pela busca de mercados externos.
O gasto público tem limite. Veja a situação atual do governo. Essa é uma característica importante da nossa teoria: manter a responsabilidade fiscal é fator fundamental no processo de desenvolvimento.
Então, vamos buscar mercados externos. O empresário precisa ter condições de competir no exterior com uma rentabilidade adequada. E uma das coisas que precisa ser feita é colocar a taxa de câmbio no patamar adequado.
O que seria um patamar adequado?
O governo tem de fazer uma política que permita que essas empresas tenham rentabilidade adequada. E aí não é política de subsídio. É política macroeconômica. São cinco preços importantes: câmbio, juros, taxa de lucro, salários e a inflação.
A gente mostra que a taxa de câmbio é há muito tempo valorizada neste País. Ela fica lá embaixo e aí inviabiliza esses setores mais sofisticados. E, quando isso ocorre, o país entra numa regressão da estrutura produtiva e cresce menos.
O governo deveria, então, intervir no câmbio?
Imagina a situação de um importador ou um exportador. Se o câmbio fica oscilando, um exportador não sabe qual será a rentabilidade, e um produtor para o mercado interno não sabe se o importador vai trazer um produto por um valor mais baixo do que o seu. Então, precisa ter um controle sobre o preço.
A taxa de juros também é um preço importante e é administrada o tempo inteiro. Por que não vai administrar a taxa de câmbio, um preço tão importante ou até mais? Quando você olha o mercado financeiro, alguma volatilidade é importante, porque é o que vai gerar o ganho ou a perda dos investidores.
Do lado da estrutura produtiva, qualquer produtor vai querer a estabilidade da taxa de câmbio. E, se não intervém, não consegue controlar isso.
O sr. acredita que o BC esteja usando o câmbio para segurar a inflação?
Hoje está usando, claramente. Nós fazemos um cálculo de qual seria essa taxa que garantiria a rentabilidade.
Estamos em R$ 3,67. A gente pode errar um pouco o número, mas é alguma coisa próxima disso. Você perdeu o ajuste. Houve um custo para se fazer o ajuste que está se jogando fora.
Algum país adotou esse modelo e foi bem-sucedido?
A referência mais forte são os países asiáticos. Eles tiveram uma política macroeconômica correta e colocaram o câmbio no lugar. Você olha para o caso da Coreia, de Taiwan, adotaram esse modelo e conseguiram fazer esse salto e alcançar os mais ricos.
Um grupo de economistas que se denomina novos desenvolvimentistas enxerga no comércio internacional o caminho para o Brasil deixar de ser um país de renda média.
"O empresário precisa ter condições de competir no exterior com uma rentabilidade adequada", diz o economista Nelson Marconi. "Uma das coisas que precisam ser feitas é colocar a taxa de câmbio no patamar adequado."
Em parceria com Luiz Carlos Bresser-Pereira, ex-ministro da Fazenda, e José Luis Oreiro, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Marconi lançou nesta semana o livro Macroeconomia Desenvolvimentista - Teoria e Política Econômica do Novo Desenvolvimentismo. Críticos da atual valorização do câmbio, eles se espelham no crescimento dos países asiáticos como uma fórmula para o Brasil. A seguir trechos da entrevista.
Por que o surgimento do novo desenvolvimentismo?
De um ponto de vista histórico, o desenvolvimentismo clássico foi importante num determinado momento, mas tinha uma série de proteções. Era uma outra visão de mundo. Hoje não estamos defendendo uma estratégia protecionista.
Muito pelo contrário. Acho até, por exemplo, que as tarifas de importação podem baixar se o câmbio estiver no lugar certo. A preocupação com a responsabilidade fiscal, no passado, também era pequena.
Qual são os objetivos do livro?
O livro traz uma discussão teórica sobre políticas macroeconômicas que podem levar ao desenvolvimento de países de renda média, como é o caso do Brasil.
Há 40 anos, o País tinha uma renda per capita maior do que a maioria dos países asiáticos. Nesse período, perdemos o bonde e vários deles passaram à nossa frente. A política macroeconômica tem determinadas características para viabilizar o desenvolvimento.
Quais seriam essas políticas?
A gente começa o livro contando que o processo de desenvolvimento é um processo que chamamos de sofisticação da estrutura de produtividade. Ou seja, direcionar a produção para os setores que geram bens com maior valor adicionado per capita. E aí não é só a indústria, mas é todo o setor de serviços modernos que está interligado com a indústria.
Pode vir junto também a cadeia que está no agronegócio, pode vir a cadeia do petróleo, mas todos, de certa forma, estão ligados à indústria. O processo de desenvolvimento envolve o direcionamento para esses setores que geram maior valor.
Como um país deixa esse quadro de renda média?
São duas possibilidades. Ou o país faz isso por meio do gasto público ou pela busca de mercados externos.
O gasto público tem limite. Veja a situação atual do governo. Essa é uma característica importante da nossa teoria: manter a responsabilidade fiscal é fator fundamental no processo de desenvolvimento.
Então, vamos buscar mercados externos. O empresário precisa ter condições de competir no exterior com uma rentabilidade adequada. E uma das coisas que precisa ser feita é colocar a taxa de câmbio no patamar adequado.
O que seria um patamar adequado?
O governo tem de fazer uma política que permita que essas empresas tenham rentabilidade adequada. E aí não é política de subsídio. É política macroeconômica. São cinco preços importantes: câmbio, juros, taxa de lucro, salários e a inflação.
A gente mostra que a taxa de câmbio é há muito tempo valorizada neste País. Ela fica lá embaixo e aí inviabiliza esses setores mais sofisticados. E, quando isso ocorre, o país entra numa regressão da estrutura produtiva e cresce menos.
O governo deveria, então, intervir no câmbio?
Imagina a situação de um importador ou um exportador. Se o câmbio fica oscilando, um exportador não sabe qual será a rentabilidade, e um produtor para o mercado interno não sabe se o importador vai trazer um produto por um valor mais baixo do que o seu. Então, precisa ter um controle sobre o preço.
A taxa de juros também é um preço importante e é administrada o tempo inteiro. Por que não vai administrar a taxa de câmbio, um preço tão importante ou até mais? Quando você olha o mercado financeiro, alguma volatilidade é importante, porque é o que vai gerar o ganho ou a perda dos investidores.
Do lado da estrutura produtiva, qualquer produtor vai querer a estabilidade da taxa de câmbio. E, se não intervém, não consegue controlar isso.
O sr. acredita que o BC esteja usando o câmbio para segurar a inflação?
Hoje está usando, claramente. Nós fazemos um cálculo de qual seria essa taxa que garantiria a rentabilidade.
Estamos em R$ 3,67. A gente pode errar um pouco o número, mas é alguma coisa próxima disso. Você perdeu o ajuste. Houve um custo para se fazer o ajuste que está se jogando fora.
Algum país adotou esse modelo e foi bem-sucedido?
A referência mais forte são os países asiáticos. Eles tiveram uma política macroeconômica correta e colocaram o câmbio no lugar. Você olha para o caso da Coreia, de Taiwan, adotaram esse modelo e conseguiram fazer esse salto e alcançar os mais ricos.