Economia

É mito que crédito não está expandindo, diz Campos Neto

O presidente do BC é entrevistado nesta quinta-feira por André Esteves, sócio sênior do BTG Pactual (parte do grupo que controla a Exame)

Roberto Campos Neto: presidente do BC (Ueslei Marcelino/Reuters)

Roberto Campos Neto: presidente do BC (Ueslei Marcelino/Reuters)

Ligia Tuon

Ligia Tuon

Publicado em 28 de maio de 2020 às 18h27.

Última atualização em 28 de maio de 2020 às 19h52.

Apesar de admitir que ainda é preciso avançar no segmento, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, diz que é um mito a crítica de que o crédito não está expandindo a ponto de chegar às pequenas e médias empresas.

"A parte de linha de crédito temos que acelerar, mas o balanço do banco mostra que há um crescimento acima de 2019 no crédito. Um mito superdisseminado é que os bancos estão empoçando tudo, não estão emprestando. Isso não é verdade. Conseguimos mapear onde a liquidez está sendo alocada", disse a autoridade nesta quinta-feira, 28, em entrevista com André Esteves, sócio sênior do banco de investimentos BTG Pactual (parte do grupo que controla a Exame).

Campos completa dizendo que, em termos de novas concessões, o BC registra mais pessoas físicas pegando dinheiro no período de 16 de abril a 15 de maio: "Ha R$ 441 bilhões em novas operações neste ano, muito acima do registrado no mesmo período do ano passado", diz.

Outro mito, segundo ele, é o de que os bancos privados estão retendo liquidez: "Desses RS 441 bi, 80% é do setor privado e 20% do setor público", diz.

Um terceiro mito, segundo ele, é o de que as pequenas empresas estão mais retraídas: "Não está acontecendo isso, ao contrário, a demanda dos menores, segundo pesquisa do Sebrae, é várias vezes a demanda de uma época normal. Dependendo do setor, a demanda nesse mesmo intervalor está 200%, 300% acima do que era em 2019", diz.

"A gente tem que entender que a precificação do crédito é proporcional à assimetria de informação. Então, se eu conheço mais meu cliente, naquele momento de maior pânico, tenho maior possibilidade de avaliar a capacidade de reação dele". Campos exemplifica seu raciocínio dizendo que, enquanto os bancos privados emprestaram 12% do que foi demandado pelas PMEs, os públicos concederam 9% e as cooperativas, 31%.

Sobre o assunto, Esteves pondera que uma parte relevante da demanda por crédito não tem vindo da necessidade imediata em função da crise e da desaceleração da economia, mas de empresas maiores e com mais acesso ao mercado formando seus colchões de liquidez: "Isso vai ter um impacto futuro interessante de baixa demanda por crédito. As empresas estão "all time high" de caixa, se preparando para um cenário mais adverso", diz.

Campos lidera o BC durante um dos períodos mais desafiadores de sua história diante de um cenário que não era esperado por ninguém. A pandemia do coronavírus exigiu uso de novos instrumentos, em uma nova escala e numa magnitude nunca antes vista antes no Brasil.

Para Campos, porém, é preciso ter cuidado com para usar ferramentas mais arriscadas: "As conquistas feitas pelos meus antecessores não foram feitas sem um grande esforço de convencimento e, muitas vezes, com o sacrifício de ter gerado anos de crescimento mais baixo. Entendemos que a política monetária não está exaurida", diz.

No início de maio, o BC cortou a Selic em 0,75 ponto porcentual, de 3,75% para 3,00% ao ano e sinalizou que pode anunciar outro corte de mesma magnitude em junho.

Assista à entrevista:

yt thumbnail
Acompanhe tudo sobre:André EstevesBanco CentralBTG PactualRoberto Campos Neto

Mais de Economia

BNDES vai repassar R$ 25 bilhões ao Tesouro para contribuir com meta fiscal

Eleição de Trump elevou custo financeiro para países emergentes, afirma Galípolo

Estímulo da China impulsiona consumo doméstico antes do 'choque tarifário' prometido por Trump

'Quanto mais demorar o ajuste fiscal, maior é o choque', diz Campos Neto