Economia

Demanda reprimida sinaliza novo ciclo de expansão de commodities

As commodities mostram forte desempenho desde março e estão no nível mais alto em seis anos, com ralis em diversos produtos, como minério de ferro, soja, cobre e milho

 (JC Patricio/Getty Images)

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FS

Fabiane Stefano

Publicado em 9 de fevereiro de 2021 às 10h34.

Quando a pandemia de coronavírus acabar, a aposta é de forte expansão do consumo, o que deve aumentar a pressão sobre cadeias de abastecimento já precárias e impulsionar os preços das matérias-primas, de acordo com o Merchant Commodity Fund. Os últimos resultados da balança comercial brasileira já antecipam esse movimento.

“Há uma grande demanda reprimida no bolso do consumidor”, disse Doug King, responsável pelo fundo administrado pela RCMA Capital, que tem ativos de US$ 170 milhões e registrou retorno de 19,4% no ano passado. “Podemos ver um aumento real no mercado em todos os aspectos de viagens e consumo. Gosto bastante do cenário.”

As commodities mostram forte desempenho desde março e subiram para o nível mais alto em mais de seis anos, com ralis em diversos produtos, como minério de ferro, soja, cobre e milho. Goldman Sachs, Bank of America e Ospraie Management estão entre as instituições que endossaram as matérias-primas como apostas de investimento e preveem que as commodities ainda têm espaço para subir.

Dwight Anderson, fundador da Ospraie, disse em janeiro que espera retornos de 100% a 300% para as commodities em geral nos próximos 18 a 36 meses. As moedas também terão um papel fundamental.

Sem projetos de fornecimento de longo prazo em andamento, ao contrário de 2009, com o máximo estímulo fiscal e monetário, o cenário combinado e fatores favoráveis farão deste um dos melhores ciclos de commodities de todos os tempos. Se você tiver um mercado de commodities realmente forte, bull market, verá as moedas dos mercados emergentes se valorizarem e o dólar se desvalorizar.

Dwight Anderson, fundador da Ospraie, à Bloomberg Television

Cadeias de suprimentos muito longas irão impulsionar as matérias-primas, disse King, do Merchant Commodity Fund. Provavelmente estão muito mais longas do que nos últimos 20 anos por causa do congestionamento, burocracia, disputas comerciais e outros obstáculos, disse. São fatores inflacionários porque é preciso ter muito mais estoques, aumentar a demanda, e isso apoiará todos os mercados de commodities no próximo ciclo, que está apenas começando, disse.

Estoque esgotado

Na China, o governo está preocupado com a inflação e quer garantir estoques suficientes para manter os preços sob controle, disse King, que trabalhou na Cargill e tem cerca de três décadas de experiência em commodities. A forma como o país tem atuado nos mercados de soja e milho sinaliza que a China esgotou boa parte de seus estoques estratégicos, afirmou.

A maior economia da Ásia mostra ritmo de compras recorde para alimentar plantéis de suínos que aumentam novamente após a peste suína africana. Essa demanda e clima instável na América do Sul levaram os futuros de commodities agrícolas aos maiores níveis dos últimos anos.

King vê oportunidades em óleos de canola e de girassol, com a demanda por óleos refinados bastante resiliente e devido à queda da área plantada de colza na Europa nos últimos anos.

O fundo tem se concentrado em energia e commodities industriais nos últimos três anos, já que os mercados agrícolas enfrentaram excesso de oferta. “No final de 2020 e agora em 2021 isso mudou, e novamente vemos grandes oportunidades no espaço agrícola”, disse King. “Tivemos entradas positivas de investidores em 2020 e continuamos a ver um interesse crescente.”

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