Economia

Crédito para setor sucroalcooleiro financiar giro é escasso

As usinas de açúcar e etanol devem encerrar a safra do próximo ano devendo 110% do seu faturamento


	Colheita de cana-de-açúcar: em dez anos o endividamento destas companhias cresceu 19 vezes
 (Rodolfo Buhrer/Reuters)

Colheita de cana-de-açúcar: em dez anos o endividamento destas companhias cresceu 19 vezes (Rodolfo Buhrer/Reuters)

DR

Da Redação

Publicado em 8 de dezembro de 2014 às 08h23.

São Paulo - As perspectivas para 2015 das empresas do setor de açúcar e álcool não são as melhores. Altamente endividadas, com fluxo de caixa comprometido por causa dos baixos preços do açúcar e do etanol e tendo de lidar com o clima adverso e aumento de custos, a situação deve ficar ainda mais delicada com a escassez de crédito para financiamento das safras.

A agência de classificação de risco Fitch Ratings, em recente relatório sobre o setor, foi taxativa: "A expectativa é que o risco sistêmico do setor no Brasil cresça e reduza a disponibilidade de financiamento de capital de giro em consequência do enfraquecimento financeiro de importantes players domésticos".

Dados da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica) mostram que as usinas de açúcar e etanol devem encerrar a safra do próximo ano devendo 110% do seu faturamento, que hoje é de R$ 70 bilhões.

O banco Itaú-BBA, que faz um acompanhamento de 65 empresas que representam dois terços de todo o setor, mostra que em dez anos o endividamento destas companhias cresceu 19 vezes.

O grande salto da dívida das usinas de açúcar e álcool se deu entre os anos de 2008 e 2009, quando houve um investimento maciço para aproveitar a onda de carros bicombustíveis e também os investimentos em cogeração de energia do bagaço de cana.

Mas a demanda acabou frustrada. Os leilões de energia para a cogeração deixaram de ocorrer e, apesar de os carros flex continuarem em grande produção, a concorrência com o preço da gasolina tem dificultado a vida do setor.

De acordo com Plínio Nastari, da Datagro, mais de 30 empresas entraram em recuperação judicial nos últimos anos.

Além dos subsídios da gasolina, Nastari diz que a indústria sofreu com o clima adverso e, no caso das usinas paulistas, também pelos investimentos no processo de mecanização, que foram antecipados por causa de um acordo com o governo do Estado para reduzir a queimada da palha antes da colheita.

Um outro ponto que também ajudou a piorar o cenário para o setor foi a queda dos preços do açúcar no mercado internacional.

O relatório da Fitch Ratings intitulado "Perspectiva 2015: Açúcar e Etanol na América Latina" diz que a recuperação está demorando mais do que o previsto em razão dos elevados níveis de estoque do produto e da desvalorização das moedas dos países exportadores que estão forçando os preços para baixo.

Para o etanol, a situação deve ter alguma melhora depois do anúncio do reajuste do preço da gasolina pela Petrobrás, mas para a Fitch isso vai significar apenas uma "modesta alta".

"Se os preços do açúcar e do etanol não se recuperarem rápida e substancialmente, o atual nível de queima de caixa e a fraca posição de liquidez resultarão em rebaixamentos (de nota de risco das empresas) no curto prazo", diz a Fitch. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Acompanhe tudo sobre:acucarÁlcool combustívelCommoditiesCrédito

Mais de Economia

MP do crédito consignado para trabalhadores do setor privado será editada após o carnaval

Com sinais de avanço no impasse sobre as emendas, Congresso prevê votar orçamento até 17 de março

Ministro do Trabalho diz que Brasil abriu mais de 100 mil vagas de emprego em janeiro

É 'irrefutável' que vamos precisar de várias reformas da previdência ao longo do tempo, diz Ceron