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Copa de torcedores sedentários prejudica vendas de varejo

Mais de dois terços dos shoppings esperam uma queda “significativa” no movimento durante a Copa do Mundo no próximo mês

Copa do Mundo: a maior economia da América Latina perdeu a oportunidade de usar a Copa do Mundo para alimentar o crescimento no longo prazo (REUTERS/Edison Vara)
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Da Redação

Publicado em 15 de maio de 2014 às 14h33.

Rio de Janeiro e São Paulo - Para a maioria dos brasileiros, vencer uma Copa do Mundo em casa não tem preço. Para as empresas , das varejistas às companhias aéreas, o evento é um mau negócio.

Mais de dois terços dos shoppings esperam uma queda “significativa” no movimento durante a Copa do Mundo no próximo mês, pois os torcedores ficarão colados à TV e os shoppings reduzirão o horário de funcionamento devido aos feriados públicos, de acordo com uma pesquisa do Ibope publicada em 13 de maio.

O Banco Santander SA disse que uma queda no número de viajantes a negócios reduzirá as vendas das companhias aéreas como a Gol Linhas Aéreas Inteligentes SA. Hotéis e restaurantes também estão se preparando para uma desaceleração.

Menos de um mês antes do início dos jogos, o campeonato internacional de futebol não está dando à lenta economia do Brasil o empurrão que defensores como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da fazenda Guido Mantega esperavam.

A maior economia da América Latina perdeu a oportunidade de usar a Copa do Mundo para alimentar o crescimento no longo prazo por não levar adiante os projetos planejados para modernizar a infraestrutura e a atividade econômica não deve ganhar um impulso no curto prazo, disse William Nóbrega, sócio-gerente do The Conrad Group, empresa de assessoria de investimento para private-equity.

“Poderia ter havido um impacto positivo não apenas no curto prazo, mas também no crescimento econômico no longo prazo, e isso não aconteceu”, disse Nóbrega pelo telefone, de São Paulo. A Copa do Mundo, “na melhor das hipóteses”, terá um impacto neutro no PIB.

Crescimento de 2 por cento

O campeonato chega em um momento em que o Brasil está caminhando para o quarto ano consecutivo com um crescimento do PIB abaixo de 2 por cento.

A perspectiva de que as cidades-sede concedam mais dias livres pode prejudicar ainda mais a economia, disse o Santander em um relatório do dia 9 de maio.

“Possíveis feriados durante os jogos prejudicam a produtividade nas empresas que não contarão com o mesmo número de horas trabalhadas” disse Bárbara Mattos, analista da Moody’s Investors Service, em e-mail.

A UM Investimentos, corretora no Rio de Janeiro, é uma dessas empresas.

“Nos dias de jogo o volume é menor,” disse o CEO Marcos Maluf, acrescentando que as operações voltam ao normal no dia seguinte aos jogos.

Mudança de rotas

A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) espera que as empresas modifiquem as rotas antes dos jogos para se adaptarem à demanda inferior à estimada.

Até o dia 1º de maio, as companhias aéreas tinham vendido apenas 21 por cento dos lugares nos voos de junho que partem ou que chegam às 12 cidades-sede, disse ontem a Anac em resposta por e-mail a perguntas.

O Santander estima que a renda da Gol durante o evento, que dura um mês, sofrerá uma redução de aproximadamente 13 por cento, pois um aumento na quantidade dos turistas não será suficiente para compensar uma queda de 70 por cento nas viagens de negócios.

O impacto negativo na rival de maior porte, a Latam Airlines Group SA, corresponderá à metade do da Gol, pois o Brasil representa 50 por cento da capacidade de transporte da empresa, escreveram os analistas do banco.

“Como os clientes corporativos pagam tarifas muito mais altas, mesmo com o aumento esperado nas tarifas por lazer o impacto geral nos preços deve ser negativo”, disseram os analistas. “Esperamos um impacto negativo tanto no volume quanto nos preços”.

Por outro lado, a Copa do mundo está sendo uma dádiva financeira para alguns brasileiros. O corretor de imóveis Norbert Hartmer disse que está alugando apartamentos de luxo nos melhores bairros do Rio a bilionários da Ásia por até US$ 180.000 pelo mês.

Estimativas do governo

O governo brasileiro espera que o evento mobilize 3,7 milhões de turistas locais e estrangeiros, gerando R$ 6,7 bilhões em gastos relacionados ao campeonato, de acordo com uma declaração do dia 13 de maio da Secom.

Algumas cidades-sede, como o Rio, onde a final será disputada no dia 13 de julho, declararam feriados públicos nos dias dos jogos para tentar aliviar os engarrafamentos.

“Os níveis de produtividade para o Brasil durante todo o mês dos jogos vão simplesmente despencar, por causa dos feriados consecutivos”, disse Nóbrega da The Conrad Group. “Mesmo sem os feriados oficiais muitas pessoas não irão trabalhar”.

São Paulo – Daqui pouco menos de um mês, um dos eventos mais esperados do mundo irá começar: a Copa do Mundo no Brasil. Empreendedores e pequenos empresários podem aproveitar o período do evento para faturar mais. De acordo com o Sebrae, as micro e pequenas empresas devem faturar 500 milhões de reais com a Copa. Para Mark Paladino, sócio do Instituto Aquila, consultoria em gestão avançada, é um pouco tarde, mas ainda dá tempo de planejar uma ação para o evento. “As empresas podem direcionar sua estratégia para absorver os turistas que estarão na cidade. Criar alguns eventos festivos de celebração, antes ou durante dos jogos”, explica. A recomendação para quem já se preparou e tem muita expectativa para faturar durante o próximo mês é clara: não deixe de monitorar. “Tem que ter uma gestão eficiente, acompanhar os resultados e observar a performance diariamente”, ensina Paladino. Veja seis exemplos de empresas de setores diversos que estão prontas para a Copa do Mundo no Brasil.
  • 2. Terraço Itália

    2 /8(Divulgação/Terraço Itália)

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    Um dos principais pontos turísticos do centro de São Paulo, o Terraço Itália atrai pela sua história e pela possibilidade de ver a capital do alto. André Marques, gerente geral do Terraço Itália, conta que o espaço recebe muitos eventos corporativos e que algumas empresas vão aproveitar a Copa para relacionar-se com seus clientes. Assim surgiu a ideia de um camarote para assistir aos jogos da Copa do Mundo no Bar do Terraço Itália. Cada ingresso custa 151 reais e dá direito a alguns petiscos. O local preparou ainda coquetéis inspirados em países do mundial. De acordo com Marques, a preparação para o evento inclui um reforço da equipe nos horários dos jogos e a instalação de telões e uma sonorização adequada. Até agora, o jogo que tem mais reservas é o do dia 23 de junho, entre Holanda e Chile. A expectativa é faturar 25% mais.
  • 3. Pub Crawl São Paulo

    3 /8(Divulgação/Pub Crawl São Paulo)

  • Os horários em que serão transmitidos os jogos da Copa do Mundo não serão o foco da estratégia do Pub Crawl São Paulo, que oferece tours gastronômicos e em baladas pela cidade. “Vamos focar na torcida”, resume Kyu Bill, um dos cinco sócios da empresa. “A cidade é a principal porta de entrada de turistas e é uma cidade sede. Vai ter um clima festivo, movimentação, e esse clima vai se estender fora dos jogos”, conta. A equipe dobrou, passando a 40 pessoas e, desde ano passado, a marca tem diversificado seus produtos. Os tours variam de 20 a 95 reais por pessoa. O faturamento esperado até o final do ano é de 1 milhão de reais, o dobro do ano passado. Hoje, a empresa trabalha com até sete eventos semanais. Bill explica que a alta temporada da empresa coincide com os meses do mundial. O Pub Crawl São Paulo espera atender, em média, cinco mil pessoas nesse período.
  • 4. Vuvuzela do Brasil

    4 /8(Divulgação/Vuvuzela do Brasil)

    O e-commerce Vuvuzla do Brasil começou suas operações no ano passado e a ideia de criar o negócio surgiu quando Eduardo Sani, consultor de marketing digital, estava preparando uma apresentação. “Ninguém vendia vuvuzela ainda no mercado e vi que o volume de pesquisas ainda era alto. Pesquisei e vi que não tinha nenhum site do tipo”, resume. Ele se uniu ao empreendedor Vinícius Prado Ramos e investiu 20 mil reais. A Copa das Confederações foi o teste da empresa e eles venderam 1,4 mil vuvuzelas. A estratégia da dupla é de investir em mídia online e anúncios no Google e Facebook. Além disso, a marca fez uma parceria com lojas físicas em São Paulo para vender produtos por consignação. No site é possível comprar não só vuvuzelas, mas também camisetas, perucas e cornetas. A maior demanda vem de empresas que estão comprando os produtos para ações de marketing. Nos próximos três meses, a expectativa é de faturar 180 mil reais. Mesmo após a Copa, o site estará no ar, pois os empreendedores querem aproveitar as Olimpíadas de 2016.
  • 5. Lush Motel

    5 /8(Divulgação/Lush Motel)

    Com a possível falta de hospedagem, o Lush Motel criou um formato especial para turistas, com cobrança por diária. Felipe Martinez, diretor de marketing da empresa, explica que o objetivo não é disputar com os hotéis, pois algumas regras do motel serão mantidas, como a proibição do acesso a menores de idade. “É voltado casais que buscam hospedagem, mas com um pouco de privacidade”, explica. O valor de uma diária varia de 360 reais a 1,5 mil reais, com café da manhã incluso. Até agora, foram confirmadas 37 reservas de estrangeiros. Durante a Copa, a fachada do motel será iluminada nas cores verde e amarelo e os chinelos também terão com o tema do evento. Além disso, a marca investiu em uma versão do site em inglês e contratou um professor de inglês para treinar a equipe. O investimento foi de 50 mil reais e a expectativa da empresa é que o faturamento cresça 10% em junho.
  • 6. Amazonas Brands

    6 /8(Divulgação/Amazonas Brands)

    A Amazonas Brands faz parte do Grupo Amazonas e firmou a parceria com a FIFA para desenvolver as sandálias oficiais da Copa do Mundo. A marca tem um mix de 39 chinelos especiais para o evento. Os modelos são inspirados no mascote oficial, o Fuleco, nas bandeiras de algumas seleções que participarão do mundial, na taça e nas cidades sedes como o Rio. A expectativa de vendas é de 1 milhão de pares e o aumento de produção foi de 28%. Os chinelos podem ser encontrados nas lojas oficiais da FIFA e os preços partem de 29,90 reais.
  • 7. Seven Idiomas

    7 /8(Divulgação/Seven Idiomas)

    Fundada em 1987, a Seven Idiomas é especializada no ensino do inglês e espanhol. Em 2012, a marca desenvolveu um curso pensando nos eventos como Copa das Confederações, Copa do Mundo e Olímpiadas. De acordo com o CEO da empresa, Steven Beggs, as aulas foram pensadas para que os alunos aprendessem estruturas essenciais para se comunicar com turistas e situações que cada tipo de profissional terá que vivenciar. A empresa treinou cerca de 500 pessoas, como os funcionários do Airport Bus Service. A carga horária do treinamento é de 100 horas e o curso custa, em média, 2 mil reais por aluno. A abordagem das aulas depende das necessidades da empresa contratante.
  • 8. Agora, veja mais sobre empreendedorismo

    8 /8(Buda Mendes/Getty Images)

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