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Concessão de crédito a empresas cresce, apesar de caro

Ritmo de crescimento dos empréstimos para as empresas privadas mantém-se estável, mesmo com os aumentos da Selic

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 11h16.

Desde setembro, a taxa básica de juros, a Selic, aumentou de 16,25% ao ano para 19,75%, elevando os custos dos empréstimos. Apesar de mais caras, as diversas modalidades de financiamento continuam sendo procuradas pelas empresas e em um volume constante. Para os economistas, a demanda por crédito é alimentada por diversos fatores, como a expansão do consumo interno e o bom desempenho das exportações.

Os números do Banco Central (BC) mostram que a política de "ajuste gradual" da Selic não inibiu o aumento dos financiamentos entre setembro e março. O saldo de empréstimos para as indústrias passou de 122,069 bilhões de reais para 126,7 bilhões. E o estoque total de crédito do sistema financeiro subiu de 464,572 bilhões para 486,5 bilhões.

Mesmo as linhas mais caras apresentaram evolução positiva nesse período. As operações de capital giro acumulavam um saldo de 12,118 bilhões de reais em setembro, quando a taxa média anual era de 34,65% e o prazo médio de pagamento era 156 dias. Em março (últimos dados disponíveis), o saldo havia crescido para 13,525 bilhões, apesar de a taxa estar em 39,62% ao ano e o prazo permanecer praticamente o mesmo (158 dias).

As operações com juros prefixados para aquisição de bens também estão entre as mais caras. Entre setembro e março, a taxa média anual cobrada por esses empréstimos passou de 60,64% para 62,44%. Apesar disso, o volume dessas linhas avançou de 6,170 bilhões de reais para 7,359 bilhões. O prazo médio para pagamento, que era de 153 dias há oito meses, foi ampliado para 162.

Incentivo do mercado

Para analistas, as empresas aumentaram a captação de empréstimos porque ainda sentem sinais positivos da economia. Os setores voltados para exportação continuam apresentando um bom desempenho, apesar do câmbio desfavorável. E as empresas que atendem ao mercado interno beneficiam-se da expansão do crédito consignado para as pessoas físicas aquele cujas parcelas são descontadas na folha de pagamento ou sobre o benefício de aposentados e pensionistas.

Embora uma parte do crédito consignado seja usado pelos tomadores para pagar dívidas antigas, o que resta para ser aplicado em consumo tem sido suficiente para estimular as atividades produtivas. "Um exemplo é o setor de eletroeletrônicos, cujas vendas continuam crescendo", afirma o economista Alex Agostini, da consultoria GRC Visão.

Para investir na produção, as empresas recorrem ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que cobra a Taxa de Juros de Longo Prazo, atualmente em 9,75% ao ano, mais um spread. O custo final para o tomador varia de 13,75% a 19,75% ao ano. Com esse custo, os desembolsos do BNDES cresceram 11,2% no primeiro trimestre em relação ao mesmo período de 2004 e somaram 9,5 bilhões de reais. "A alta da Selic altera pouco os componentes dos custos de crédito das empresas nesse caso", afirma Guilherme Maia, analista da Tendências Consultoria.

Ineficaz

Um dos motivos do pequeno impacto do aumento da Selic sobre o crédito empresarial é que as taxas de juros para os tomadores já estão bastante elevadas. Segundo a Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), ao passar de 19,5% ao ano para 19,75%, a Selic poderá implicar uma alta de 0,38 ponto percentual na taxa de capital de giro. A Anefac acredita que muitos bancos não repassarão o aumento para suas linhas, dada a diferença entre os juros básicos e o que se cobra do tomador final.

"A Selic afeta de modo bastante modesto a economia e a inflação", diz Agostini, da GRC Visão. Para ele, o principal impacto é o aumento das despesas do governo. Na quarta-feira (18/5), o BC divulgou que a dívida pública interna atrelada à Selic havia subido de 497,81 bilhões de reais para 511,18 bilhões entre março e abril. Esses títulos aumentaram a participação sobre a dívida de 56,98% para 58,50% no mesmo período. Segundo Agostini, quanto mais inseguro o mercado fica em relação ao fim do ciclo de altas dos juros, mais busca papéis pós-fixados e remunerados pela Selic. Com isso, cresce o peso da alta dos juros sobre os cofres públicos.

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