Hugo Chávez, no Palácio de Miraflores, em 29 de março de 2012 (Ho/AFP)
Da Redação
Publicado em 28 de agosto de 2015 às 10h29.
Quando Hugo Chávez assumiu pela primeira vez a presidência da Venezuela, em 1999, o país não era exatamente o modelo econômico de alguém. Suas grandes riquezas petrolíferas tinham sido desperdiçadas repetidas vezes.
A inflação era um problema recorrente -- tinha superado os 100 por cento em 1996 --. A economia não crescia muito. Quase metade da população estava abaixo da linha da pobreza do país.
Um cientista político, ao avaliar a situação alguns meses depois do início do mandato de Chávez, chegou ao ponto de dizer que o país estava “em ruínas”.
Ainda assim, a Venezuela era o país mais rico da América Latina, graças a seu petróleo. As finanças do governo estavam em uma condição toleravelmente boa, também graças ao petróleo.
Foi basicamente assim que as coisas continuaram durante os primeiros seis ou sete anos de Chávez no poder. Sim, ele destinou bastante dinheiro aos pobres e fez muitas coisas que enlouqueceram tanto sindicatos quanto líderes empresariais.
O diretor da câmara de comércio do país chegou até a substituí-lo como presidente em uma tentativa de golpe, em 2002, que fracassou dois dias depois.
Mas até 2005 a Venezuela ainda tinha o PIB per capita mais elevado da América Latina (ajustado pela paridade do poder de compra) e nenhum problema para pagar suas contas.
Os defensores de Chávez podiam até destacar alguns indicadores que mostravam que a pobreza e a desnutrição estavam caindo.
Agora, é claro, a economia da Venezuela é um desastre. O governo parou de divulgar as estatísticas econômicas regularmente em dezembro, mas um alto funcionário disse à Bloomberg News que a taxa anual de inflação é de 150 por cento.
A estimativa mais recente do Troubled Currencies Project, administrado por Steve H. Hanke, do Cato Institute e da Universidade Johns Hopkins, enquanto isso, é de que a inflação esteja, na verdade, em 808 por cento.
A escassez de alimentos se tornou um problema, o calote das dívidas parece quase inevitável e um colapso econômico completo não está fora de questão.
Em 2014, a Venezuela tinha, pela conta ajustada à paridade do poder de compra do Banco Mundial, caído para o quinto lugar em termos de PIB per capita na América Latina, atrás de Chile, Cuba (!), Uruguai e Panamá. México e Brasil poderão passar o país neste ano, apesar de seus próprios problemas econômicos.
Até mesmo a Colômbia, sua vizinha próxima, está chegando bastante perto.
O que aconteceu com a Venezuela de 2005 para cá?
A divergência entre receitas e despesas da Venezuela começou muito antes do colapso do preço do petróleo há um ano.
Quando os preços do petróleo atingiram uma alta histórica, em julho de 2008, a receita do governo -- 40 por cento dela provém diretamente do petróleo -- já estava diminuindo.
O problema principal era a produção petrolífera venezuelana, que caiu de 3,3 milhões de barris por dia em 2006 para 2,7 milhões em 2011.
O volume continuava sendo de 2,7 milhões em 2014, segundo o mais recente estudo BP Statistical Review of World Energy.
A Venezuela não está ficando sem petróleo. Suas reservas provadas dispararam desde 2000, quando os geólogos descobriram mais informações sobre o petróleo pesado do Cinturão de Orinoco.
Mas a extração desse petróleo exigirá muitos recursos e conhecimento, duas coisas que têm faltado à empresa petrolífera estatal da Venezuela, a Petróleos de Venezuela (PVDSA), desde que Chávez iniciou uma série de tomadas de controle hostis a partir do início dos anos 2000.
Em torno de 2005, Chávez começou a chamar sua estratégia de governo de “Socialismo do Século 21”.
Mas ela era mais parecida ao que a cientista política Terry Lynn Karl chamou de “petrolização”: transformar o gasto dos recursos do petróleo na principal finalidade do governo, mesmo após o dinheiro começar a acabar. Isso deixou o país em uma situação impossível.
Para pagar suas contas, o governo tomou um empréstimo de US$ 45 bilhões da China, mas também imprimiu toneladas de dinheiro.
Chávez já não está mais no jogo, mas essa crise é claramente dele. Ele assumiu um país que estava avançando aos trancos e barrancos e deixou-o a caminho de se tornar um caso perdido.
Há tipos de governantes que são piores que esse -- os que massacram seu próprio povo ou levam seus países a guerras sem esperanças --. Mas em termos de gestão macroeconômica básica, Hugo Chávez precisa ser entendido como um dos líderes mais desastrosos que o mundo viu em muito tempo.