Economia

Com crise econômica e política, mercado projeta rombo fiscal recorde

Dados divulgados pelo Banco Central mostram que a expectativa de déficit primário do setor público para o ano saltou de 5,00% para 6,20% do PIB

Expectativa de déficit primário recorde para 2020 é consequência direta da crise provocada pela covid-19 (Bruno Domingos/Reuters)

Expectativa de déficit primário recorde para 2020 é consequência direta da crise provocada pela covid-19 (Bruno Domingos/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 27 de abril de 2020 às 11h49.

Última atualização em 27 de abril de 2020 às 11h50.

O aumento dos gastos do governo durante a pandemia do novo coronavírus, somado à crise política que coloca em dúvida a permanência de Jair Bolsonaro na Presidência, levou o mercado financeiro a projetar um rombo primário recorde para o Brasil em 2020. Dados divulgados nesta segunda-feira, 27, pelo Banco Central mostram que a expectativa de déficit primário do setor público para o ano saltou de 5,00% para 6,20% do Produto Interno Bruto (PIB). Este é o maior porcentual da série histórica do BC, iniciada em dezembro de 2001.

No pior resultado registrado até hoje, em 2016, o setor público consolidado registrou um déficit primário equivalente a 2,48% do PIB. Na época, o rombo ainda era consequência do descontrole fiscal verificado nos anos do governo da presidente Dilma Rousseff.

Já a expectativa de déficit primário recorde para 2020 é consequência direta da crise provocada pela covid-19. Desde março, o governo tem anunciado uma série de medidas econômicas para evitar o fechamento de empresas e o aumento descontrolado do desemprego. As ações representam um aumento de despesas para o governo, com impacto direto sobre o resultado primário.

Outro fator que contribui para o rombo maior é a crise política, que se intensificou na semana passada, após a saída de Sergio Moro do Ministério da Justiça. Nas últimas semanas, os economistas do mercado financeiro vêm revisando sistematicamente suas projeções para o PIB brasileiro, em meio às dúvidas sobre a sustentabilidade do governo de Jair Bolsonaro.

Atualmente, a projeção mediana do mercado para o PIB em 2020 é de retração de 3,34%, mas já há pelo menos uma instituição financeira que espera por um recuo de 6,00%.

O resultado primário reflete o saldo entre receitas e despesas do setor público, antes mesmo do pagamento dos juros da dívida pública. Os avanços nas projeções refletem a expectativa de que, com o aumento das despesas do governo durante a pandemia do novo coronavírus e o recuo do PIB, o País terá um cenário fiscal muito difícil em 2020.

Os dados do Relatório de Mercado Focus, divulgados nesta segunda-feira pelo BC, mostram ainda que o resultado nominal do setor público apresentará um rombo de 11,10% do PIB em 2020. Se confirmado, este será o pior desempenho da série histórica do BC iniciada em 2002. O resultado nominal reflete o saldo entre receitas e despesas já após o pagamento dos juros da dívida pública.

Risco de insolvência

O avanço do déficit primário do setor público é uma preocupação para o governo e para os economistas do setor privado. Isso porque, para cobrir o rombo, o governo é obrigado a se endividar ainda mais, emitindo títulos públicos. O resultado é de alta na relação entre a dívida e o PIB.

Os números do BC mostram que, no fim de fevereiro, a Dívida Bruta do Governo Geral estava em 76,5% do PIB. Com a crise provocada pelo novo coronavírus - que eleva o rombo fiscal e reduz o PIB - a expectativa entre os economistas do mercado financeiro é de que este porcentual supere os 80% nos próximos meses.

O cálculo sobre até onde vai a dívida, no entanto, é incerto. Isso porque o próprio governo não tem, neste momento, segurança sobre até quando as medidas de isolamento social vão continuar, com impactos negativos sobre a economia.

A Dívida Bruta do Governo Geral - que abrange o governo federal, os governos estaduais e municipais, excluindo o Banco Central e as empresas estatais - é uma das principais referências para avaliação, por parte das agências globais de classificação de risco, da capacidade de solvência do País. Na prática, quanto maior a dívida, maior o risco de calote por parte do Brasil.

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