Conta de luz: bandeira deve ficar entre verde e amarela até o final do ano (Divulgação/Divulgação)
Reuters
Publicado em 29 de maio de 2017 às 14h52.
São Paulo - Um grande e inesperado volume de chuvas na região das hidrelétricas do Sudeste e do Sul do Brasil nas últimas duas semanas mudou drasticamente o cenário de preços da eletricidade, que caíram fortemente e agora sinalizam para bandeira verde ou amarela nas contas de luz nos próximos meses, disseram especialistas à Reuters.
A perspectiva deve representar alívio para consumidores e outros agentes do mercado de energia, uma vez que até o início deste mês havia projeções de que as contas de luz poderiam seguir até novembro em bandeira tarifária vermelha, que eleva os custos da energia para incentivar um consumo mais consciente.
A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) divulgou na sexta-feira que junho terá bandeira tarifária verde nas tarifas de eletricidade, ante bandeira vermelha em maio e abril e amarela em março.
"A bandeira deve ficar entre verde e amarela (até o final do ano)... não acredito que volte a vermelha a não ser que tenhamos estiagem em agosto, o que ainda não vemos", disse à Reuters o diretor da comercializadora Ecom Energia, Paulo Toledo.
O principal fator que guia o acionamento das bandeiras tarifárias é o comportamento dos preços spot de eletricidade, ou Preço de Liquidação das Diferenças (PLD), que para esta semana caiu de cerca de 478 reais para 167 reais por megawatt-hora, em meio a chuvas em bom volume e nas regiões dos reservatórios, que ajudam a recuperar as hidrelétricas.
A bandeira amarela, que inicia as cobranças adicionais, geralmente é disparada com PLD acima de 211 reais, enquanto a vermelha é acionada com preços acima de 422 reais.
Os especialistas, no entanto, ressaltam que os preços estão mais voláteis a partir deste mês, devido à entrada em vigor de uma metodologia de cálculo mais conservadora para o PLD.
"Uma característica vai ser a volatilidade, mas apostaria em um patamar médio de preços em torno de 200 reais (até o final do ano). Estaria no limite entre bandeira verde e amarela. A tendência maior é ter semanas de PLD bastante baixo, e depois em semanas mais adversas subindo para entre 250 e 300 reais", disse o diretor da comercializadora Compass, Marcelo Parodi.
Mesmo uma retomada da bandeira vermelha não é descartada mais à frente no ano, mas segundo os operadores de mercado esse cenário só deve se concretizar se houver um período mais prolongado de chuvas fracas, o que ainda não está no radar dos serviços meteorológicos.
As regiões das hidrelétricas do Sudeste e do Sul do Brasil deverão receber volumes de chuva bastante superiores à média histórica em junho, apontou o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) em relatório semanal na última sexta-feira.
As chuvas deverão atingir cerca de 111 por cento da média no Sudeste e 147 por cento no Sul.
O cenário mais positivo de chuvas e a derrubada dos preços spot da eletricidade deverão favorecer as empresas que operam hidrelétricas no país, que até então temiam um cenário de baixa geração em suas usinas no segundo semestre, devido a perspectivas negativas de afluências.
Quando geram abaixo do que venderam de energia em contratos, essas usinas enfrentam o chamado déficit hídrelétrico, ou "GSF" no jargão técnico, e precisam comprar energia no mercado spot para cumprir seus compromissos.
Essa obrigação, inclusive, tem gerado elevada inadimplência no mercado de curto prazo de eletricidade, operado pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), uma vez que um grupo de empresas conseguiu na Justiça ainda em meados de 2015 o direito de não quitar débitos causados pelo GSF.
"O ponto mais importante disso é que a gente estava vendo um risco muito grande de aumento exponencial da inadimplência em função do GSF... com a queda do PLD, aquele risco de travar o mercado, ter uma inadimplência muito grande, está diminuído", disse o diretor da Esfera Energia, Braz Justi.
Em março, as perspectivas de déficit de geração nas hidrelétricas levaram o banco Credit Suisse a sugerir que seus clientes reduzissem apostas nas ações de elétricas com forte presença hídrica no parque gerador, como Engie e AES Tietê.