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Câmbio não faz milagre e balança mantém deterioração

A balança comercial saiu de um superávit de US$ 29 bilhões em 2011 para um déficit de US$ 4 bilhões em 2014

Câmbio: real se desvalorizou quase 50% nos últimos 4 anos (Bruno Domingos/Reuters)
DR

Da Redação

Publicado em 27 de maio de 2015 às 18h04.

A disparada do dólar nos últimos quatro anos ainda mostra efeito limitado sobre as contas externas do país, que continuam largamente deficitárias.

Embora isso reforce a ideia de que o real precisa se desvalorizar ainda mais, sugere também que a competitividade do Brasil depende de outros fatores, e não apenas do nível do câmbio.

O real se desvalorizou quase 50% nos últimos 4 anos, maior perda em ranking da Bloomberg que reúne as 16 principais moedas globais.

A balança comercial saiu de um superávit de US$ 29 bilhões em 2011 para um déficit de US$ 4 bi em 2014.

O déficit em conta corrente, que inclui outras contas, como turismo, quase dobrou, de US$ 52 bi no final de 2011 para os atuais US$ 100 bi.

A deterioração da balança, mesmo em face de um dólar mais alto, não significa que o câmbio seja irrelevante e sim que o país não pode contar apenas com um real depreciado para impulsionar as exportações, diz Daiane Santos, economista da Funcex, instituição que realiza pesquisas sobre comércio exterior.

A economista da Funcex prevê alguma melhora na balança comercial, que pode fechar o ano com superávit de US$ 2 bi. Este ajuste, contudo, está longe de reverter a deterioração da competitividade brasileira.

Pelo contrário, só deve ocorrer graças a um tombo estimado em 14% das importações, o que acabará compensando estatisticamente a baixa de 12% das exportações.

Ela observa que exportações brasileiras, mesmo com o real caindo mais do que outras moedas, devem perder ’’market share’’ no comércio global.

Quanto às importações, estas devem cair não porque o empresário brasileiro ficou mais competitivo na disputa com os competidores externos. O que ocorre é que, com um PIB que pode cair 1,5% em 2015, segundo a previsão da Funcex, o país vai importar menos bens de capital, componentes e combustíveis necessários para a produção local, ao mesmo tempo em que gastará menos também com a queda dos preços de commodities importadas.

O Brasil vai importar e exportar menos. “Será o pior tipo de ajuste possível”, diz Daiane.

Daiane observa que a rentabilidade das exportações é dada por uma equação que considera, além do câmbio, o preço dos produtos exportados e o custo de produção. Mesmo com a alta recente que levou o dólar a mais de R$ 3,00, a Funcex estima uma queda de 2,9% da rentabilidade das exportações nos 12 meses até abril.

As exportações ficaram menos, e não mais rentáveis, porque houve piora nos dois outros componentes da fórmula. Os preços das commodities, que somam quase 50% dos embarques brasileiros, caíram. Ao mesmo tempo, o custo das empresas aumentou, com o reajuste da energia elétrica ajudando a puxar o IPCA para mais de 8% no mesmo período.

Para exportar mais, preferencialmente sem depender do câmbio, o país precisa fazer a lição de casa eternamente cobrada de reduzir impostos e melhorar a infraestrutura.

Os impostos, mesmo que não cobrados diretamente nos produtos exportados, acabam aumentando o custo local de produção, que tem impacto na competividade das empresas quando elas exportam.

Mesmo o câmbio, segundo Daiane, precisa ser avaliado de forma mais ampla quando se trata de medir ganhos ou perdas de competividade. O que vale para o comércio exterior não é o valor nominal do dólar e sim o câmbio real, que é medido levando-se em conta a variação da moeda e da inflação de cada parceiro comercial do país.

Quando se considera os países da zona do euro, por exemplo, é preciso pesar o fato de o euro também ter se desvalorizado diante do dólar e que a inflação na região é próxima a zero, situação muito diferente da observada no Brasil.

Outro fator relativo ao câmbio que atrapalha os exportadores é a volatilidade do real, a maior entre as principais moedas globais, o que adiciona incertezas ao processo produtivo e encarece as transações financeiras com câmbio.

A economista da Funcex estima que o dólar terá de subir mais diante da fraqueza da economia brasileira e da esperada alta dos juros americanos.

Até o fim do ano, ela projeta um dólar a R$ 3,40. Na pesquisa do BC com os 5 bancos de previsões mais precisas, a estimativa é de R$ 3,25.

Mesmo admitindo-se que câmbio não faz milagre, enquanto o país não avança nas reformas para ampliar a competividade, um dólar mais alto é o que resta para evitar uma deterioração ainda mais profunda da balança comercial brasileira.

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Embora isso reforce a ideia de que o real precisa se desvalorizar ainda mais, sugere também que a competitividade do Brasil depende de outros fatores, e não apenas do nível do câmbio.

O real se desvalorizou quase 50% nos últimos 4 anos, maior perda em ranking da Bloomberg que reúne as 16 principais moedas globais.

A balança comercial saiu de um superávit de US$ 29 bilhões em 2011 para um déficit de US$ 4 bi em 2014.

O déficit em conta corrente, que inclui outras contas, como turismo, quase dobrou, de US$ 52 bi no final de 2011 para os atuais US$ 100 bi.

A deterioração da balança, mesmo em face de um dólar mais alto, não significa que o câmbio seja irrelevante e sim que o país não pode contar apenas com um real depreciado para impulsionar as exportações, diz Daiane Santos, economista da Funcex, instituição que realiza pesquisas sobre comércio exterior.

A economista da Funcex prevê alguma melhora na balança comercial, que pode fechar o ano com superávit de US$ 2 bi. Este ajuste, contudo, está longe de reverter a deterioração da competitividade brasileira.

Pelo contrário, só deve ocorrer graças a um tombo estimado em 14% das importações, o que acabará compensando estatisticamente a baixa de 12% das exportações.

Ela observa que exportações brasileiras, mesmo com o real caindo mais do que outras moedas, devem perder ’’market share’’ no comércio global.

Quanto às importações, estas devem cair não porque o empresário brasileiro ficou mais competitivo na disputa com os competidores externos. O que ocorre é que, com um PIB que pode cair 1,5% em 2015, segundo a previsão da Funcex, o país vai importar menos bens de capital, componentes e combustíveis necessários para a produção local, ao mesmo tempo em que gastará menos também com a queda dos preços de commodities importadas.

O Brasil vai importar e exportar menos. “Será o pior tipo de ajuste possível”, diz Daiane.

Daiane observa que a rentabilidade das exportações é dada por uma equação que considera, além do câmbio, o preço dos produtos exportados e o custo de produção. Mesmo com a alta recente que levou o dólar a mais de R$ 3,00, a Funcex estima uma queda de 2,9% da rentabilidade das exportações nos 12 meses até abril.

As exportações ficaram menos, e não mais rentáveis, porque houve piora nos dois outros componentes da fórmula. Os preços das commodities, que somam quase 50% dos embarques brasileiros, caíram. Ao mesmo tempo, o custo das empresas aumentou, com o reajuste da energia elétrica ajudando a puxar o IPCA para mais de 8% no mesmo período.

Para exportar mais, preferencialmente sem depender do câmbio, o país precisa fazer a lição de casa eternamente cobrada de reduzir impostos e melhorar a infraestrutura.

Os impostos, mesmo que não cobrados diretamente nos produtos exportados, acabam aumentando o custo local de produção, que tem impacto na competividade das empresas quando elas exportam.

Mesmo o câmbio, segundo Daiane, precisa ser avaliado de forma mais ampla quando se trata de medir ganhos ou perdas de competividade. O que vale para o comércio exterior não é o valor nominal do dólar e sim o câmbio real, que é medido levando-se em conta a variação da moeda e da inflação de cada parceiro comercial do país.

Quando se considera os países da zona do euro, por exemplo, é preciso pesar o fato de o euro também ter se desvalorizado diante do dólar e que a inflação na região é próxima a zero, situação muito diferente da observada no Brasil.

Outro fator relativo ao câmbio que atrapalha os exportadores é a volatilidade do real, a maior entre as principais moedas globais, o que adiciona incertezas ao processo produtivo e encarece as transações financeiras com câmbio.

A economista da Funcex estima que o dólar terá de subir mais diante da fraqueza da economia brasileira e da esperada alta dos juros americanos.

Até o fim do ano, ela projeta um dólar a R$ 3,40. Na pesquisa do BC com os 5 bancos de previsões mais precisas, a estimativa é de R$ 3,25.

Mesmo admitindo-se que câmbio não faz milagre, enquanto o país não avança nas reformas para ampliar a competividade, um dólar mais alto é o que resta para evitar uma deterioração ainda mais profunda da balança comercial brasileira.

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