Líderes de Brasil, Índia, Rússia, China e África do Sul, que compõem o grupo BRICS (Sergei Karpukhin/AFP)
Da Redação
Publicado em 10 de julho de 2014 às 19h40.
São Paulo - A criação de um banco próprio para fortalecer os planos de desenvolvimento e os esforços conjuntos para impedir a desaceleração de suas economias internas serão o centro das discussões que os líderes do Brics, fórum integrado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, terão na semana que vem.
O grupo realiza nos dias 15 e 16 de julho sua sexta cúpula nas cidades de Fortaleza e Brasília, e o debate econômico será o principal da reunião entre a presidente Dilma Rousseff e os presidentes de China, Xi Jinping; Rússia, Vladimir Putin; e África do Sul, Jacob Zuma; além do primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi.
O até agora conhecido como Banco de Desenvolvimento dos Brics, órgão que visa financiar projetos de infraestrutura em países em desenvolvimento, "vem resolver um problema de suporte financeiro e mecanismos reais para dar respaldo às iniciativas do grupo", comentou à Agência Efe a economista Lucia Andrade.
Para o especialista, o banco que se fizer em três anos pode ajudar também no processo de "desdolarizar" a economia mundial, como propuseram acadêmicos dos países do Brics durante um fórum anterior à Cúpula realizado em março no Rio de Janeiro.
"Os Brics, que suportaram a crise mundial com solidez, podem oferecer muito na estabilidade financeira mundial e contribuir para que a fragilidade monetária não seja por uma dependência exclusiva da "dolarização" da economia", afirmou Andrade.
O banco terá inicialmente um capital de US$ 50 bilhões e será destinado ao financiamento de projetos de infraestrutura e para o desenvolvimento dos Brics, assim como de outros países emergentes, explicou na semana passada o governo brasileiro.
O Brasil indicou que o ente de fomento do bloco será um "espelho" do Banco Mundial, mas negou que os Brics pretendam concorrer com esse órgão.
O grupo também apresentará em Fortaleza um fundo para ajudar os países em crise que será alternativo ao Fundo Monetário Internacional (FMI).
O Acordo de Reservas de Contingência (CRA, na sigla em inglês) será uma espécie de fundo de estabilização econômica para ajudar países em crise financeira.
Em reunião no mês passado em Brasília, os chanceleres da China, Wang Yi, e do Brasil, Luiz Alberto Figueiredo, destacaram a criação do banco para fortalecer os Brics, países qualificados pelos dois ministros como os "motores do crescimento" da economia mundial.
Em março, o chamado Fórum Acadêmico dos Brics, que integra instituições estatais de investigação dos cinco países, recomendou dar continuidade a um processo de "desdolarização", que alguns dos membros já usam mediante acordos bilaterais.
"O dólar não deve ser excluído do comércio mundial de uma maneira taxativa, mas as moedas locais podem ser fortalecidas, e os Brics têm a força para conseguir isso", comentou à Efe o analista independente de mercados Rafael Marabá.
Segundo Marabá, os Brics devem olhar, além de seu papel no cenário mundial, para os desafios da nova classe média nas nações emergentes, "que no final é quem dinamiza as economias em qualquer país".
O documento final do fórum de acadêmicos do Brics sugeriu cinco pilares para o bloco, sendo o primeiro de interesse para a economia: "a promoção da cooperação para o crescimento econômico e o desenvolvimento".
Os outros pilares são "paz e segurança", "justiça social", "desenvolvimento sustentável e qualidade de vida, governabilidade política e econômica" e "progresso através do compartilhamento da inovação e do conhecimento".
O coordenador do fórum, Renato Baumann, diretor do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) do Brasil, destacou recentemente que antes de os cinco países "formalizarem" o bloco, realizavam um trabalho conjunto para se fortalecerem no cenário global.
Os Brics agrupam, segundo seus membros, 43% da população mundial e em torno de 25% da riqueza do mundo.