Economia

Brasil deve voltar a ter grau de investimento em 2020, diz Guedes

Agências de classificação de risco retiraram o "selo de bom pagador" do país há cinco anos

Bolsonaro e Guedes: ministro da economia prevê que o Brasil retome classificação de grau de investimento dados por agências de classificação de risco (Isac Nóbrega/PR/Flickr)

Bolsonaro e Guedes: ministro da economia prevê que o Brasil retome classificação de grau de investimento dados por agências de classificação de risco (Isac Nóbrega/PR/Flickr)

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Reuters

Publicado em 8 de novembro de 2019 às 18h21.

Rio de Janeiro —O ministro da Economia, Paulo Guedes, prevê que o Brasil reconquistará o grau de investimento concedido pelas agências de classificação de risco em 2020, cinco anos depois de ter perdido o selo de bom pagador, e ressalta que a atividade econômica já começou a reagir, garantindo a retomada do crescimento.

"Acho que o Brasil será grau de investimento no ano que vem, não sei se no começo do ano, mas já está ficando claro que nosso trabalho é consistente, e não é de um ano. Nós trocamos o mix de política econômica, estamos firmes no fiscal e o juros desabou", afirmou o ministro em entrevista exclusiva à Reuters.

Guedes destacou que há "uma explosão no crédito" e movimentos significativos na construção civil e na massa salarial e previu que a economia crescerá 1% em 2019 e pelo menos 2,5% no ano que vem.

As projeções são mais otimistas do que as do mercado, que apontam para expansão de 0,92% este ano e de 2% em 2020, segundo pesquisa Focus do Banco Central. Também são mais altas que os números oficiais do governo, recém-divulgados pela equipe econômica, de 0,9% e 2,32%, respectivamente.

Na próxima semana, disse Guedes, o governo vai lançar dois programas, um para estimular o crédito para a baixa renda no país, com apoio de bancos públicos e plataformas digitais, e outro para fomentar o acesso ao mercado de trabalho de jovens e de pessoas de idade mais avançada.

Para o ministro, os agentes econômicos não estão tendo tempo de digerir a agenda ampla de medidas que o governo tem implementado, abarcando reforma da Previdência, desestatização do crédito, "choque de energia barata" e abertura econômica.

"Mas isso é bom, porque os efeitos vão começar a aparecer e essa diferença entre realidade e percepção vai emergir", disse Guedes.

Questionado sobre eventuais ambições políticas, Guedes foi categórico: "Zero de interesse na política", afirmou. "Não sou político e nunca serei."

Mercosul

O Mercosul se transformou em um a incubadora de fracassos e requer mudanças que beneficiem os países membros do bloco, disse Guedes, acrescentando que o governo Bolsonaro não abrirá mão de aumentar a conexão com a economia global, mesmo que esse não seja o desejo da parceira Argentina.

"Após a criação do Mercosul, Brasil e Argentina ficaram isolados, com baixo crescimento, baixa produtividade, e ficaram de fora de cadeias globais", afirmou. "A China e asiáticos estão tirando milhões da miséria, se integrando às cadeias globais e, enquanto isso, o Mercosul virou uma incubadora de fracassos econômicos."

Segundo o ministro, o governo brasileiro está atento aos movimentos na Argentina depois da vitória do peronista Alberto Fernández nas eleições presidenciais. Bolsonaro havia declarado apoio à reeleição do presidente liberal Maurício Macri e, após a eleição do oposicionista, criticou a escolha dos argentinos e disse que não cumprimentaria Fernández.

Guedes destacou a convicção do atual governo da necessidade de abertura da economia, independentemente do rumo escolhido pelos argentinos. "A eleição dá o direito à Argentina de eles fazerem o que quiserem, e a eleição no Brasil deu uma direção clara, nós vamos nos integrar às cadeias globais", disse ele na sede do Ministério da Fazenda, no Rio.

"Enquanto eles (argentinos) tiverem essa intenção estamos juntos… mas se não tiverem essa intenção nós seguiremos", acrescentou.

Questionado se poderia ser o fim do Mercosul, o ministro foi evasivo: "Não sabemos, vai ser o que tiver que ser. Não quero prever nada, mas temos princípios claros e seguiremos eles."

Partilha

O ministro da Economia voltou a fazer críticas ao resultado dos leilões de petróleo desta semana, que não atraíram o interesse das empresas privadas globais, frisando que o regime de concessões é mais efetivo.

"A condenação veio do mercado, que disse que a gente vai ter que explorar sozinho nosso petróleo se insistirmos na partilha, o recado foi claro", afirmou. "Não tenho dúvida que está claro que o de concessões é mais efetivo."

Sobre o convite feito ao Brasil para ingressar na Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), Guedes afirmou que seria interessante para o país participar de discussões sobre o futuro do petróleo, mas descartou a adesão a cartéis.

"Para encurralar as democracias ocidentais, para dar um choque de petróleo, para criar problema com caminhoneiros no Brasil, criar fome na Europa Central, aí não. O presidente Bolsonaro tem princípios e valores e não é por um punhado de dinheiro que vamos mudar", afirmou.

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