BNDES: a ideia do banco é tornar os empréstimos mais flexíveis e próximos da estratégia dos investidores do setor elétrico (Nacho Doce/Reuters)
Reuters
Publicado em 9 de abril de 2018 às 21h03.
Última atualização em 9 de abril de 2018 às 21h03.
São Paulo - O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) pretende estrear neste ano uma nova forma de financiamento a projetos de geração de energia, que levará em conta toda a previsão de receita dos empreendimentos, inclusive com a venda da produção nos chamados mercados livre e spot de eletricidade.
A superintendente da área de energia do banco, Carla Primavera, disse à Reuters que a ideia é tornar os empréstimos mais flexíveis e próximos da estratégia dos investidores do setor elétrico. O novo modelo já está sendo oferecido aos investidores.
O banco geralmente atrela seus financiamentos aos contratos que as usinas de geração fecham antecipadamente com distribuidoras em leilões promovidos pelo governo, no chamado mercado regulado.
Mas os investidores tradicionalmente buscam ampliar a receita de seus projetos com a negociação de parte da energia no mercado livre, onde podem fechar contratos com indústrias ou comercializadoras, muitas vezes com preços melhores.
"Eu gostaria muito de poder já fazer mais de um projeto com esse modelo (em 2018). Tivemos leilões de energia em dezembro e na semana passada, e a gente espera receber esses empreendedores no banco e entender a estratégia desses projetos, discutir esse novo modelo de financiamento", afirmou ela.
Nesse sentido, o BNDES não exigirá dos projetos um percentual mínimo de energia vendida às distribuidoras, no mercado regulado, nem um prazo ou preço específico para os contratos no mercado livre que poderão ser considerados no momento de calcular o nível de alavancagem dos empreendimentos.
O banco também poderá estimar receitas das usinas no mercado de curto prazo, onde a geração é vendida pelo preço spot, ou Preço de Liquidação das Diferenças (PLD).
"A gente vai modular o perfil de repagamento do financiamento olhando para o perfil de comercialização dos projetos. O contrato no mercado livre não vai precisar corresponder ao mesmo prazo do financiamento, e a gente trabalharia no fundo com expectativas também de PLD", explicou a superintendente.
Ela afirmou que a nova estrutura de financiamentos leva em conta também uma previsão de que as distribuidoras de energia estão com uma demanda mais baixa devido à crise econômica enfrentada pelo país, o que tem aumentado a busca de investidores em geração por vendas no mercado livre.
A superintendente do BNDES citou como outra medida importante para melhorar os financiamentos ao setor de energia uma ampliação para 18 meses no prazo para que projetos viabilizados em leilões peçam o enquadramento no banco, visando futuros empréstimos, ante seis meses anteriormente.
Segundo ela, muitos empreendedores pediam o enquadramento com os projetos ainda em fase inicial, sem definições importantes, como fornecedores e licenciamento ambiental, o que atrasava a análise dos pleitos pelo banco.
"Nosso prazo, desde que passou a se implementar essa medida, vem se reduzindo, porque recebemos o projeto mais maduro e temos capacidade de interagir melhor com o empreendedor e entregar o (financiamento de) longo prazo em tempo menor", disse.
A área de energia elétrica do BNDES prevê 13 bilhões de reais em desembolsos em 2018, com leve recuo de 3 por cento ante os 13,43 bilhões de reais no ano anterior.
O número é bastante distante de um recorde de 21 bilhões de reais liberados pelo banco de fomento em 2015, mas também fica bem acima dos apenas 9,2 bilhões registrados em 2016, ano impactado pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff e por uma recessão econômica no país.
Neste ano, segundo apresentação do banco vista pela Reuters, a área de energia já recebeu cerca de 1,6 bilhão de reais em desembolsos no primeiro trimestre, com predomínio de financiamentos a parques eólicos, que receberam quase 960 milhões, e distribuição de eletricidade, com 473 milhões.
Já projetos de transmissão receberam 110,7 milhões e hidrelétricas tiveram 49 milhões.
O BNDES soma aprovações de quase 193 bilhões de reais em financiamentos para a área de energia elétrica desde 2003, com destaque para hidrelétricas, com 68,4 bilhões; usinas eólicas com 36,2 bilhões; e aportes em distribuição, com 34 bilhões.