Economia

BCs mundiais divergem do Brasil e não cortam juros

Banco Central brasileiro cortou 0,5 ponto percentual da Selic, mas demais instituições decidiram esperar para ver o que acontecerá com as economias globais

O BC de Tombini se antecipou diante dos outros países em uma crise econômica? (Wilson Dias/ABr)

O BC de Tombini se antecipou diante dos outros países em uma crise econômica? (Wilson Dias/ABr)

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Da Redação

Publicado em 14 de setembro de 2011 às 14h55.

São Paulo - Desde que cortou a taxa de juros em 0,50 ponto porcentual no dia 31 de agosto, o Banco Central (BC) brasileiro encontrou respaldo apenas das autoridades monetárias da Armênia, Tunísia e Sérvia, enquanto que outros 15 bancos centrais mantiveram os juros inalterados, não endossando o cenário de forte deterioração da economia mundial descrita pelo BC brasileiro. Entre os que decidiram esperar antes de baixar os juros para ver o que acontece com a economia global estão o Banco Central Europeu (BCE) e os BCs da Austrália, do Japão, do Canadá, da Suécia e do Reino Unido. Já os BCs da Uganda e da Bielo-Rússia elevaram fortemente a taxa básica de juros.

"Isso é uma evidência que o nosso Banco Central está se antecipando a uma piora no cenário da economia internacional que, na verdade, não aconteceu ainda, razão pela qual esses outros bancos centrais ainda não agiram", disse à Agência Estado o diretor de pesquisa de mercados emergentes para Américas da Nomura Securities, Tony Volpon. Ele lembrou que, apesar de a fonte principal da instabilidade dos mercados financeiros mundiais ser a crise da dívida da zona do euro, o BCE não cortou juros. "O que se questiona é até que ponto um banco central deve apostar num cenário que não é aquele base do mercado e dos outros bancos centrais", acrescentou Volpon. "O BC brasileiro foi prematuro."

Ao justificar a sua decisão de manter os juros inalterados em 4,75%, no dia 6 de setembro, o presidente do BC australiano, Glenn Stevens, disse que sua preocupação principal era com a perspectiva para a inflação na economia do seu país. "A questão chave é qual a magnitude que uma demanda global mais fraca e um crescimento doméstico mais lento terá para conter a inflação", escreveu Stevens após o anúncio da decisão de juros. "A preocupação da diretoria (do BC australiano) é com a perspectiva de inflação no médio prazo."

Mesmo no centro da crise mundial, o Banco Central Europeu manteve uma avaliação bem menos pessimista do que o BC brasileiro. Ao manter a taxa de juros da zona do euro em 1,50%, no dia 8 de setembro, o BCE disse que trabalha com um crescimento econômico da zona do euro ainda moderado e não uma recessão, apesar das incertezas do cenário. E avisou: "permanece essencial para a política monetária focar no seu mandato de manter a estabilidade de preço no médio prazo."

Na América Latina, o banco central do Peru preferiu adotar uma postura mais cautelosa antes de tomar uma decisão. O BC peruano manteve a taxa básica de juros inalterada em 4,25%, também no dia 8, alertando que a decisão levou em conta a desaceleração da economia mundial e a intensificação dos riscos financeiros do mercado internacional. "Se essa tendência continuar, o banco central mudará a sua postura em relação à política monetária", afirmaram as autoridades monetárias peruanas em comunicado.


Nos próximos dias, espera-se que o banco central da Nova Zelândia mantenha os juros inalterados em 2,5%, decisão semelhante também esperada para os BCs da Índia (que deverá manter os juros em 8%) e da Suíça (manutenção dos juros entre 0 e 0,25%). As reuniões sobre juros na Nova Zelândia e na Índia acontecerão no dia 15, enquanto o BC suíço fará reunião na sexta-feira, dia 16.

Apesar de os investidores estarem apostando em corte de juros pelo banco central do Chile nos próximos seis meses, conforme indicam os contratos de juros no mercado futuro, o presidente do BC chileno, José De Gregório, jogou um balde de água fria no mercado na semana passada, ao divulgar o relatório de inflação, indicando que, por enquanto, os juros permanecerão inalterados em 5,25%. Segundo De Gregório, a situação externa terá provavelmente um impacto na economia chilena e na política monetária do país, mas ele não vê esse impacto como relevante em 2011, sendo o efeito maior apenas em 2012. "No curto prazo, a taxa de juros da política monetária ficará semelhante aos níveis atuais", disse ele. A reunião do BC chileno acontece nesta quinta-feira, dia 15.

Na contramão da maioria dos BCs mundiais, e endossando a posição do Brasil, encontram-se os BCs da Armênia, da Tunísia e da Sérvia, todos reduzindo os juros em 0,5 pp. Por outro lado, o BC da Bielo-Rússia elevou ontem a taxa básica de juros em 3 pontos para 30%, enquanto que o de Uganda subiu os juros em 2 pp para 16%, no dia 6.

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