Economia

BCs de emergentes sofrem pressão para elevar os juros

Eles estão jogando na defesa e devem subir as taxas mais rápido do que o previsto, ou pelo menos não cortar - como decidiu o BC brasileiro na quarta-feira

Ilan Goldfajn, presidente do BC: decisão surpreendeu o mercado (Adriano Machado/Reuters)

Ilan Goldfajn, presidente do BC: decisão surpreendeu o mercado (Adriano Machado/Reuters)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 17 de maio de 2018 às 16h27.

Última atualização em 17 de maio de 2018 às 16h46.

Os bancos centrais de países emergentes passaram a jogar na defesa.

A alta do dólar e o rendimento do título do Tesouro americano com prazo de 10 anos no maior nível desde 2011 alimentam apostas de que nações em desenvolvimento da Índia ao México vão aumentar juros mais rápido do que se previa.

A preocupação é que, se a política monetária não for apertada, os investidores poderão dar maior importância aos crescentes déficits em conta corrente, desencadeando depreciação cambial e disparada da inflação.

A pressão é mais evidente na Argentina, que elevou a taxa básica de juros para 40 por cento, mas também é percebida na Ásia, onde a Indonésia aumentou os juros nesta quinta-feira pela primeira vez desde 2014. Analistas preveem medidas parecidas na Índia e Filipinas.

Para a Fitch Ratings, é inevitável que os emergentes adotem políticas monetárias mais restritivas nos próximos anos, embora os preços dos ativos não espelhem totalmente esse quadro. Um estudo publicado nesta semana pela agência de classificação de risco concluiu que seis entre 10 grandes nações em desenvolvimento estão com políticas monetárias flexíveis demais, especialmente Turquia e Brasil.

“Os juros básicos podem ter maior ajuste para cima do que os mercados financeiros esperam atualmente, à medida que as condições monetárias globais se normalizam”, escreveram os economistas Brian Coulton e Maxime Darmet no relatório da Fitch.

Alguns países que vinham baixando os juros vão adiar cortes adicionais. Foi o que já aconteceu no Brasil na quarta-feira. Apesar de ter sinalizado outra redução na reunião anterior, o Comitê de Política Monetária (Copom) surpreendeu ao manter a taxa Selic inalterada após 12 cortes consecutivos.

Na África, o medo da fuga de capitais e da desvalorização cambial também deixa os bancos centrais cautelosos. O juro na Nigéria é recorde desde julho de 2016 e a África do Sul dificilmente baixará a taxa novamente neste ano, ainda que a inflação seja a menor em sete anos. Angola elevou o juro em novembro para sustentar a moeda local.

O banco central da Turquia avisou na quarta-feira que está monitorando os mercados e tomará as medidas necessárias para restaurar a confiança após a lira cair para o menor nível em registro.

Para Carmen Reinhart, economista e professora da Universidade Harvard, as nações em desenvolvimento estão em pior condição do que nos últimos dois períodos de fragilidade — a crise financeira global em 2008 e o “taper tantrum” de 2013. Ela cita o maior endividamento, a deterioração dos termos de troca, a alta de juros globalmente e a perda de fôlego da atividade econômica.

“Por causa do aumento dos riscos nos balanços de pagamentos, cresce a pressão para diversos bancos centrais elevarem juros antes do que pensávamos, embora, em alguns casos, a inflação seja benigna”, escreveram os analistas Andrew Cates e Rob Subbaraman, da Nomura, em relatório divulgado recentemente.

Países com superávit em conta corrente estão mais preparados para suportar o impacto da alta de juros nos EUA. A inflação também está contida na maior parte do mundo, diminuindo a pressão sobre as autoridades.

Na quarta-feira, o banco central da Tailândia manteve o juro básico próximo ao menor nível em registro e avisou que não se sente forçado a aderir ao movimento global de aperto. A China também está em posição confortável, protegida por mecanismos que controlam os fluxos de dinheiro que entram e saem do país.

Já o México pode aumentar o juro nesta quinta-feira por causa da fraqueza do peso e de preocupações com a inflação, afirmou Mike Moran, economista-chefe para as Américas doStandard Chartered.

A pressão é disseminada. Hoje, o banco central do Sri Lanka revelou estar aberto ao uso de reservas internacionais para sustentar a moeda.

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