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BC vai levar os juros de volta à normalidade, dizem analistas

Para os especialistas, é hora de o BC cumprir seu papel de estraga-prazeres da economia

Henrique Meirelles, presidente do Banco Central: analistas querem que ele seja o "estraga-prazeres" da economia (.)
DR

Da Redação

Publicado em 10 de outubro de 2010 às 04h10.

Uma das definições mais divertidas dos economistas sobre o Banco Central é a de que ele é o garçom que segura as bebidas quando a festa começa a ficar boa. Na prática, isso significa que um dos papéis mais importantes da instituição é evitar que o crescimento da economia gere pressões inflacionárias e desestabilize a economia do país, em especial no momento em que tudo vai bem para as empresas.

Nesta quarta-feira, é exatamente este o papel que os analistas esperam ver cumprido, quando o Comitê de Política Monetária do BC divulgar a taxa do juro básico da economia, a Selic. Ao fim de uma reunião de dois dias, iniciada na terça-feira, o Copom muito provavelmente vai elevar a entre 0,5 e 1 ponto percentual a taxa, que hoje se encontra em 8,75% ao ano.

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As apostas estavam divididas até o começo da semana, mas diante das declarações do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, de que a instituição "não será leniente com a inflação" e de que o compromisso do BC é com a manutenção das metas de inflação, as previsões passaram a convergir para um aumento de 0,75 pontos percentuais, como indicam os negócios realizados no mercado de juros futuros.

Para os analistas ouvidos pelo Portal EXAME, a preocupação com a alta de preços é justificável e uma elevação dos juros deve ser vista não como um freio ao crescimento, mas como um ajuste de volta à normalidade, após um período em que o objetivo declarado do governo era compensar, por meio da política monetária, a freada da economia diante da crise mundial.

"O que eu vejo é o início de uma normalização da taxa de juros. O BC não vai promover um aperto monetário, mas uma retirada dos incentivos", afirma Roberto Padovani, estrategista-chefe da West LB.

 <hr>                                     <p class="pagina">Padovani diz que os juros em 8,75% ao ano estão abaixo dos níveis de longo prazo, ou seja, estão abaixo do que deveriam para segurar de fato a inflação. Ele aponta como indicadores principais da forte expansão da economia o nível de utilização da capacidade industrial, que atingiu patamares pré-crise antes do previsto, e a elevação dos preços nos chamados núcleos de inflação. Nas diversas medições apuradas, a inflação já se coloca para além do centro da meta prevista pela Banco Central, de 4,5% ao ano.<br><br>Por esse motivo, mesmo um aumento de 0,75% precisaria ser apenas o início de uma série de quatro ou cinco aumentos sucessivos. O estrategista-chefe da West LB projeta a Selic em 10,75%, no fim de 2010, nível adequado para evitar o descontrole de preços.<br><br>Ele ressalta que, do ponto de vista da política de juros do Brasil, um ciclo que dure até seis meses, como no caso dessa sequência de aumentos prevista por ele, seria relativamente curto, já que as tendências de alta ou de baixa costumam durar cerca de um ano.<br><br><strong>Ajuste forte e concentrado</strong><br><br>O economista-chefe do Citibank no Brasil, Marcelo Kfouri, enxerga uma sequência de ajustes ainda mais pesados. Para ela serão seis reuniões de alta, com a Selic chegando a 12,5% ao ano, índice acima da média das previsões de mercado, hoje em 11,75% para o fim de 2010, segundo o boletim de Focus.<br><br>Kfouri diz que a economia brasileira está crescendo claramente acima da sua capacidade desde o início do ano, porque já carregava em janeiro o reflexo de um fim de ano bastante acelerado em 2009. Ele diz que se a economia não crescesse nada no 1º trimestre, a alta do PIB do período já seria de 2,7% em relação aos mesmos três meses do ano anterior.<br><br>Para agravar essa "herança" do ano anterior, que os economistas chamam de carry-over, indústria e comércio mostraram um ritmo forte no 1º trimestre. Com isso, a previsão do PIB para o ano, na análise de Kfouri, bateu nos 6,8%, crescimento bem acima do que se previa no começo de 2010.</p>        <hr>                                                             <p class="pagina">"Não se vê nenhum outro órgão do governo preocupado com o aumento da inflação, só o Banco Central. Isso justifica um aumento mais forte, principalmente nas primeiras reuniões do ciclo", ele diz.<br><br>O professor Evaldo Alves, da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, concorda com a necessidade de controlar a inflação, mas diz que uma ação muito incisiva no aumento de juros mostraria incoerência por parte do BC<br><br>''Seria uma contradição, eles demoraram para tomar uma medida, devem manter a mesma linha agora''.<br><br>Além disso, o professor faz a ressalva de que embora os preços dos bens duráveis já tenham sofrido reajustes, a alta de preços não chegou aos bens de consumo, aqueles que afetam mais diretamente o consumidor. Nesse sentido, ele diz, as autoridades monetárias precisam agir para conter o crescimento, mas sem exageros, já que a inflação ainda está sob controle.<br><br>Segundo o professor, também deve-se considerar que o aumento das importações faria um contraponto parcial ao aquecimento da demanda doméstica, uma vez que a concorrência com os produtos vindos de outros países ajudaria a segurar o preço dos itens fabricados no país.<br><br>Ele traça um cenário de quatro aumentos consecutivos da Selic, com taxa em torno de 10% ao ano, no fim de 2010. </p> 
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