Economia

Banco Mundial elege Brasil como uma das piores burocracias do planeta

Estudo revela que país poderia crescer mais 2,2 pontos percentuais por ano se resolvesse os entraves para abertura, atuação e fechamento de empresas

EXAME.com (EXAME.com)

EXAME.com (EXAME.com)

DR

Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 10h46.

Todo empresário sabe que o ambiente para abrir, tocar e fechar empresas no Brasil é um dos mais sufocantes do mundo. Mas o cenário só ganha a sua devida gravidade quando exposto em números. De acordo com a pesquisa "Fazendo Negócios 2005", estudo de abrangência internacional realizado pelo Banco Mundial e divulgado com exclusividade no EXAME Fórum - Desburocratizar para Crescer, o Brasil ocupa a quinta colocação entre os piores países do mundo paraabrir uma empresa. É um cenário alarmante.
O Banco Mundial calculou o quanto o país poderia ganhar economicamente se conseguisse eliminar seus fortes entraves burocráticos. Se o Brasil conseguisse reformar a legislação para abertura de empresas a ponto de ficar entre os 36 países mais ágeis do mundo nesse quesito, o crescimento anual do Produto Interno Bruto (PIB) poderia ter um ganho de 0,45 ponto percentual.Se a reforma conseguisse alcançar todos as áreas deficientes citadas no documento (legislação trabalhista, tempo de resolução das questões legais, informação sobre risco e crédito e processo de falência), o ganho para a economia seriaainda mais espantoso: 2,2 pontos percentuais.

Em São Paulo, onde a atividade econômica mais intensa torna a burocracia mais lenta, um empresário leva em média 151 dias (cinco meses) para concluir o processo de abertura de seu negócio. "O Brasil deveria seguir o exemplo da Colômbia e criar uma instância centralizada para tratar disso. O grande nó de ineficiência brasileira é o governo municipal", diz o coordenador do levantamento, Simeon Djankov, PhD em Economia pela Universidade de Michigan, dos Estados Unidos.

O estudo chega a comparar o tempo para a abertura de uma empresa nas principais capitais do país. A mais eficiente é Salvador, onde um negócio pode começar em pouco mais de vinte dias. Belo Horizonte e Fortaleza também aparecem no ranking das mais rápidas. Entre as mais ineficientes, depois de São Paulo, estão Rio de Janeiro, Porto Velho e Brasília.

O Brasil também é hoje o quarto país mais caro do mundo parademitir um empregado. Os custos médios chegam a 165 semanas (mais de três anos) do salário do empregado, entre notificação, fundo de garantia e multa de rescisão. Parafazer uma comparação, o empresário americano paga o equivalente a dois meses de salário na demissão. Na Europa, onde a pressão sindical tem grande peso, o custo é de 50 semanas,ou quase um ano, de salário. Mesmo entre os argentinos, o peso é bem menor que o nosso: 94 semanas, o equivalente a quase dois anos de pagamento.

As más notícias se estendem aos bancos e credores em geral. O Brasil é o oitavo pior país do mundo para recuperar o dinheiro devido por uma empresa depois da falência - em média, apenas 1% do empréstimo é reavido. É um percentual bem distante daquele conseguido pelos empresários europeus (70%), americanos (68%), mexicanos (64%), chineses (35%) e argentinos (23%).

O país ainda é o 12o na ordem dos menos rígidos na regulamentação do trabalho e o 21o na resolução de disputas comerciais, que levam em média 566 dias (mais de um ano e meio) na Justiça, contra 250 dias nos Estados Unidos.

Orelatório,no entanto,enumera algumasboas notícias. O serviço de informações sobre crédito mantido pelo setor privado, o Serasa, está entre os melhores da América Latina e tem nível de excelência comparável ao de alguns países da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE).A abertura de balanços das companhias listadas publicamente tem a maior transparência do continente e se destaca entre os países emergentes. As mudanças no registro de propriedade, processo que se dá apenas na instância federal, reduziram os atrasos. E as propostas contidas no projeto da Lei de Falências, quando aprovadas, podem melhorar o nível de recuperação dos passivos.

Djankov ressalta que o empresariado brasileiro não deve se colocar em uma posição adversária ao governo no combate à burocracia."Os custos do poder federal também são altos nessa área e reduzem seu poder empreendedor", afirma. O economista diz que não tem dados sobre os gastos brasileiros, mas um país de Primeiro Mundo, como o Reino Unido,gasta 56 bilhões de dólarespor ano com despesas administrativas - 12% de toda a arrecadação. Segundo ele, o percentual brasileiro deve superar bastante essa margem.

O economista sugere que o setor privado pressione o poder público para adotar uma medida que provou sua eficácia em países tão díspares quantoCanadá,Vietnã e Moçambique. Trata-se de um encontro oficial mensal entre governo e empresas para a discussão da burocracia, com a definição de uma agenda comum. A cada 30 dias, é discutido um tópico importante para o avanço da desburocratização. "Mas é preciso que as micro e pequenas empresas estejam bem representadas para que as mudanças ocorram efetivamente",afirma ele.

Djankov apresentou os resultados do levantamento feito em mais de 100 países durante o EXAME Fórum, nesta segunda-feira (283/8), em São Paulo. A próxima edição de EXAME, que chega às bancas na quinta-feira (27/8), trará reportagem completa sobre os efeitos da burocracia no crescimento econômico do país. A pesquisa completa do Banco Mundial sobre o assunto estará no site também a partir dessa data.

Acompanhe tudo sobre:[]

Mais de Economia

Pix: Banco Central já devolveu R$ 1,1 bi para vítimas de fraudes ou falhas no sistema

Câmara tem até quarta-feira para votar reoneração da folha e cumprir decisão do STF

China registra crescimento de 6% no comércio exterior nos primeiros oito meses de 2024

Inflação de agosto desacelera e fica em -0,02%; IPCA acumulado de 12 meses cai para 4,24%