(Pixabay/Reprodução)
Carolina Riveira
Publicado em 10 de setembro de 2020 às 13h42.
Última atualização em 10 de setembro de 2020 às 14h40.
A alta no preço dos alimentos é o assunto que ganhou os noticiários, as discussões políticas e empresariais nas últimas semanas. A subida mais expressiva foi a do arroz, item da cesta básica, que disparou 20% desde o começo do ano. Neste debate, os movimentos do governo no sentido de interferir de alguma forma no valor cobrado nas prateleiras chamaram a atenção.
O presidente Jair Bolsonaro chegou a pedir "patriotismo" dos supermercado para que baixassem os preços, mas a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, afirmou que o governo não iria interferir. Dias depois, a Câmara de Comércio Exterior decidiu zerar o imposto de importação do arroz até o fim do ano.
Medidas de interferência no preço dos alimentos eram comuns no período que foi da segunda metade da década de 1980 até o Plano Real. Talvez a mais lembrada da história recente do Brasil seja o congelamento dos preços, o que os economistas chamam de "loucura econômica", principalmente por nunca ter funcionado.
"A hiperinflação era um processo crônico e o governo acreditou que congelando os preços funcionaria. Então a gente teve isso em Plano Cruzado, em 1986, no Plano Bresser, em 1987, no Plano Verão de 1989, Plano Collor, em 1990. Todos que usaram o congelamento de preço, viram que ele nunca deu certo", explica o professor Jackson Bittencourt, coordenador do curso de Economia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).
O professor do Insper e doutor em história econômica, Vinícius Müller, lembra que o governo do ex-presidente José Sarney foi o que ficou mais marcado pelo tabelamento de preços, como forma de controlar a inflação. Sarney também adotou medidas extremas que entrataram para o folclore brasileiro, como confiscar gado no pasto, obrigando o abate dos animais. Havia até "desfile" de bois por cidades para mostrar a preocupação do governo com inflação.
"Mais recentemente, o governo de Dilma Rousseff também interferiu nos preços do petróleo e do gás, que não são alimentos, mas guardam relação com a alimentação. O preço do arroz, por exemplo, não subiu por que temos uma escalada inflacionária. E sim por um problema pontual na produção e colheita da safra", diz Müller.
O doutor em história econômica ainda destaca que, com o congelamento, os consumidores sabem que o preço é artificial e correm para fazer estoques. Desta maneira, o preço sobe ainda mais e o governo tem de continuar intervindo.
Esta medida não é uma exclusividade brasileira. Na década de 1970, sob a gestão de Richard Nixon, os Estados Unidos chegaram a congelar preços e salários por 90 dias. Mais recentemente, em 2019, o governo do presidente da Argentina, Mauricio Marci, decidiu segurar o valor de diversos itens básicos de alimentação.
Dois anos após a quebra da bolsa de Nova York, em 1929, o Brasil, atingido pela crise que veio na sequência, fez uma outra "loucura" para controlar o preço. O presidente da época, Getúlio Vargas, mandou queimar boa parte dos estoques de café que o país tinha. Mas o motivo era diferente: os preços do produto no mercado internacional estavam muito baixos e o objetivo era aumentar a rentabilidade dos cafeicultores.
"O que não podemos mais é passar pelos resultados desastrosos derivados de intervenções desta natureza para atender arroubos populistas ou eleitoreiros do governo de plantão. Qualquer que seja ele", diz o professor do Insper, Vinícius Müller.