Economia

Aposta em Banco Central mais brando perde força

Comentários do governo, ou atribuídos a fontes, esfriou a especulação do mercado sobre mudanças na economia, que incluiriam uma política monetária mais branda


	Um homem sai da sede do Banco Central, em Brasília: de sexta-feira para cá, o governo deixou claro que isso não vai ocorrer
 (Ueslei Marcelino/Reuters)

Um homem sai da sede do Banco Central, em Brasília: de sexta-feira para cá, o governo deixou claro que isso não vai ocorrer (Ueslei Marcelino/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 11 de janeiro de 2016 às 19h15.

Uma verdadeira bateria de comentários do governo, ou atribuídos a fontes oficiais, esfriou uma especulação que vinha suavizando a aposta do mercado em alta dos juros na semana passada: a de que a troca de Joaquim Levy por Nelson Barbosa no Ministério da Fazenda seria seguida por mudanças na economia, que incluiriam uma política monetária mais branda.

De sexta-feira para cá, o governo deixou claro que isso não vai ocorrer.

Ainda na sexta-feira, o BC disse em carta enviada pelo presidente Alexandre Tombini ao Ministério da Fazenda que adotará medidas para convergir inflação à meta em 2017.

Esse comentário não é novo, mas o fato de ter sido repetido mostra que a sinalização anterior do BC, de maior rigor contra a inflação, segue de pé, o que não autorizaria o forte refluxo nas apostas em alta dos juros ocorrido na semana anterior.

O ministro da Fazenda reforçou o tom mais duro ao dizer, em nota divulgada também na sexta, que o controle da inflação é uma prioridade do governo.

Em entrevista à Folha de S. Paulo no fim de semana, ele reiterou que o BC tem autonomia e disse que ações de política monetária podem ser adotadas mesmo que a inflação suba por fatores não relacionados à demanda. Com este comentário, Barbosa parece contrariar a tese de alguns críticos da elevação dos juros, que argumentam que a inflação teve alta forte em 2015 devido ao aumento das tarifas, um fator não relacionado à demanda.

Os comentários do ministro Barbosa dão a ideia de que uma alta da Selic é certa, diz Juliano Ferreira, estrategista da Icap do Brasil. Barbosa sinalizou que o BC deve manter uma postura ”enérgica” contra a inflação, diz o estrategista.

Os comentários não referendam a aposta de alguns participantes do mercado de que a Selic poderia ficar estável ou subir apenas 0,25 pp no Copom da semana que vem. Com isso, cresce novamente a chance de alta de 0,50 pp, diz Ferreira.

Leonardo Monoli, sócio da Jive Asset, destaca ainda que a sinalização do BC é reforçada por declarações recentes da presidente Dilma Rousseff afirmando que somente Tombini pode falar sobre juros, o que indicaria reforço na autonomia da instituição para definir a política monetária.

A leitura do mercado sobre a postura do governo, contudo, não é consensual.

Embora as notícias sobre o aval do governo reforcem o tom mais duro do BC, outros comentários do ministro Barbosa, admitindo a liberação de crédito para sustentar a atividade, emitem um sinal negativo para o mercado, diz Paulo Petrassi, sócio-gestor da Leme Investimentos.

“O Barbosa fala sobre o uso de bancos públicos para estimular economia, algo que não deu certo no passado.”

--Com a colaboração de Patricia Lara.

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