Economia

A senha para o Brasil deixar de ser o país do juro alto

A sina do Brasil de ter sempre juros muitos maiores do que em outros países pode ser revertida, mas isso exige um trabalho duro

BC: para os analistas do mercado, foi uma maneira elegante de o BC “jogar a bola” para o Congresso, além do próprio governo (Gustavo Gomes/Bloomberg)

BC: para os analistas do mercado, foi uma maneira elegante de o BC “jogar a bola” para o Congresso, além do próprio governo (Gustavo Gomes/Bloomberg)

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Da Redação

Publicado em 23 de fevereiro de 2017 às 17h20.

Última atualização em 23 de fevereiro de 2017 às 18h14.

São Paulo - A sina do Brasil de ter sempre juros muitos maiores do que em outros países pode ser revertida, mas isso exige um trabalho duro e não apenas do Banco Central.

A senha foi dada pelo próprio BC, ao citar no comunicado do Copom a queda do chamado juro estrutural como condição para a extensão dos cortes da taxa nominal.

Para os analistas do mercado, foi uma maneira elegante de o BC “jogar a bola” para o Congresso, além do próprio governo.

O recado é: o Brasil precisa de reformas e uma economia mais eficiente para ter juros substancialmente menores.

A taxa estrutural, ou neutra, que permitiria crescimento da economia com inflação na meta, é calculada entre 4% e 5% atualmente e pode chegar a até 3%, numa trajetória que depende sobretudo da implementação de reformas, segundo economistas entrevistados pela Bloomberg.

Nesse caso, analistas veem a Selic caindo para 8% até o próximo ano. A taxa básica da economia foi reduzida em 0,75pp, para 12,25%, pelo Copom na quarta-feira.

O Brasil não deve chegar a juros tão baixos quanto nos países desenvolvidos, que possuem até taxas negativas, mas poderá ter juros reais mais próximos dos emergentes, diz José Márcio Camargo, economista e sócio da Opus Investimentos.

“As reformas poderão reduzir a taxa neutra. E isso significa que poderemos ter juros muito mais baixos no futuro.”

Dentro do cenário básico, que contempla reformas parciais aprovadas com dificuldade até o fim do ano, os analistas do mercado preveem a Selic em torno de 9,5% no final de 2017.

Caso o Congresso aprove as reformas antes do previsto, contudo, o corte dos juros pode ser mais pronunciado e ocorrer antes do esperado.

A aprovação de uma reforma da Previdência “razoável” poderia levar a Selic a 8,5% ainda no segundo semestre deste ano, diz Luiz Fernando Figueiredo, presidente da Mauá Capital e ex-diretor do BC.

O juro neutro poderia ir a 3%, mas isso exigirá também que estados ajustem suas contas, além das reformas da Previdência e trabalhista, diz Zeina Latif, economista-chefe da XP Investimentos.

Zeina considera que desde já, com taxa neutra calculada em 5%, o BC tem espaço para acelerar o corte da Selic para 1 ponto percentual no próximo Copom.

Juro estrutural é um “número teórico, que vai ser testado em meses ou anos”, diz Maurício Oreng, estrategista do Banco Rabobank.

Além das reformas, uma melhor composição do crescimento, com mais investimentos e menos consumo, pode ajudar a reduzir a taxa.

Camargo, da Opus, avalia que a taxa estrutural poderá cair para entre 3,5% e 4% no próximo ano com as reformas e considerando uma meta de inflação reduzida para 4% em 2019.

O juro estrutural menor abriria espaço para uma taxa Selic em torno de 8% no próximo ano, ajudando a reduzir entre a relação dívida bruta e o PIB.

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