Santiago Chamorro é nomeado presidente da GM América do Sul (GM/Divulgação)
Colunista
Publicado em 16 de dezembro de 2025 às 14h52.
Quando anunciou, em janeiro, que “clássicos estarão de volta às ruas como os Vintages Chevrolet, uma série limitada de veículos restaurados e customizados pela própria GM”, a General Motors do Brasil sugeriu que lançaria um pioneiro plano de negócio em que qualquer clássico da Chevrolet poderia ser entregue a funcionários gabaritados da empresa para dali a meses sair da centenária fábrica de São Caetano do Sul impecavelmente restaurado.
Não foi exatamente assim.
No ano passado, quatro oficinas de São Paulo foram procuradas pela fabricante para restaurar e customizar dez carros da marca: um Monza 500 EF 1990, um Omega CD 1994, um Opala 1979 com roupagem esportiva SS e uma S10 do Rally dos Sertões 2004, na primeira fase; Chevette, C10, Kadett, Chevrolet Brasil, D20 e outro Opala na segunda.
Famosa por seus trabalhos exóticos, a Tarso Marques Concept recusou a missão. Batistinha Garage, Fullpower e Galpão Z28, as três que toparam, então buscaram no mercado de antigos os dez carros para reformar ou customizar, mesclando características originais com tecnologia e mecânica atualizadas. Apenas a concepção de cada modelo foi da GM, não a execução física do projeto.
Ventilou-se, inclusive, a possibilidade de uma das três oficinas ser escalada como restauradora oficial da marca, que aceitaria o serviço demandado pelo colecionador condicionalmente à aprovação da GM.
“A intenção não é criar uma nova unidade de negócio dentro da empresa, mas dependendo do resultado do leilão podemos dar sequência ao Vintage em 2026”, afirmou à época da apresentação dos primeiros resultados do programa, em 1º de outubro, Fabio Rua, vice-presidente da General Motors América do Sul.
Alguns levaram a sério o discurso da empresa; outros associaram o movimento a uma ação de marketing decorrente dos 100 anos de presença no mercado brasileiro.
Pois bem. Após desafios aparentemente não considerados – como indisponibilidade de recursos, peças em desacordo ou incompatíveis com a originalidade esperada e pouco conhecimento do mercado de clássicos –, enfim o primeiro produto do Chevrolet Vintage ficou pronto.
No sábado anterior (6), o Omega CD 1994 foi arrematado na Spring Sale do Carde por R$ 437,5 mil.
O valor, o mais alto já pago por esse modelo até onde se tem notícia, parece ter empolgado a empresa a seguir com o Chevrolet Vintage.
“Estamos experimentando e aprendendo sobre várias coisas ao mesmo tempo. Primeiro: há interesse nas marcas nacionais com veículos icônicos? A resposta contundente é: sim. Segundo: há diversas atividades possíveis ao redor desses carros. Como, por exemplo, a restauração do Omega”, argumenta Santiago Chamorro, presidente da GM América do Sul.
O modelo de venda por meio de leilão é outro teste da marca. “Queríamos experimentar como interagiu o público do on-line com o presencial. E, sobretudo, queríamos conhecer um pouco sobre os tipos de clientes que estão interessados nesse negócio, e descobrimos que são pessoas que gastam milhões de reais todos os anos no ecossistema. Isso significa que tem paixão, e onde tem paixão, tem dinheiro. E nós queremos estar presentes aí”, explica o executivo, às vésperas de se desligar da fabricante de veículos para se dedicar a empreendimentos pessoais.
Aos que identificaram como oportunismo marqueteiro o programa de restauração de clássicos da General Motors do Brasil, Chamorro avisa que “todos esses aprendizados nos foram demonstrando que tem interesse, que tem mercado, que tem consumidor, e que tem possibilidade de a GM entrar de uma forma preponderante e protagonista nessa história”.
E diz mais: “a gente fala que uma empresa de 100 anos tem passado, presente e futuro, e o que comprovamos com o Chevrolet Vintage é que o passado ainda gera muita atenção e muito interesse do consumidor. Então, sim, parte da nossa conclusão depois de todo esse processo é que o assunto não morre aqui. Ele talvez nasça hoje aqui”. Existe, inclusive, a possibilidade de eventualmente se internalizar o programa.
Para Chamorro, a fábrica de São Caetano do Sul (SP) teria papel central na condição de avalista dos pretendentes a restauração. “Esse é um projeto inédito, nunca realizado pela GM em nenhum lugar nenhum do mundo”, conclui.
Esse Omega CD 1994 é especial por levar o kit Irmscher, uma preparação especial que consiste em elevar a capacidade do motor seis-cilindros de 3 para 3,6 litros. É considerado raríssimo no Brasil – provavelmente a única unidade nessa configuração.
“O Omega por si só já representa um marco na história por ter sido um dos carros mais modernos e desejados de sua época. E mais ainda com a chancela da fábrica, que dá garantia de todo o trabalho, de toda a homologação, de uma restauração primorosa que trouxe o carro à condição original novamente. Acho que essa valorização da história de fato faz com que o negócio seja diferenciado.”, reflete Luiz Goshima, diretor do Carde.
O colecionador também garante que o Omega CD passou por uma revisão técnica da própria equipe de restauração do Carde. “Tudo corre perfeito. O carro seguiu o padrão de fábrica, o padrão de originalidade em todos os aspectos, inclusive com peças novas. Tudo chancelado, medido e avaliado. Tivemos um olhar técnico bem criterioso para aprovar esse trabalho de restauração”, conta Goshima.